O que você precisa saber sobre reprodução assistida

O tempo cronológico é o maior inimigo das mulheres quando o assunto é fertilidade. Mas é cada vez mais comum as mulheres adiarem a maternidade por causa do trabalho ou mesmo porque ainda não sentem que estão preparadas para ter um filho.
Segundo Edilberto de Araújo Filho, especialista em Reprodução Humana Assistida e diretor do Centro de Reprodução Humana de Rio Preto – CRH, a recomendação geral é que mulheres de até 35 anos tentem engravidar naturalmente por um ano, desde que esteja tudo bem, ou seja: espermograma normal, ciclo menstrual regulado, sem cólicas ou corrimentos intensos, sem dor na relação e sem nenhum outro possível alerta, como endometriose, por exemplo. “Em caso de apresentar alguma anormalidade, é preciso investigar o quanto antes. Após os 35 anos, também estando tudo bem, a gravidez natural deve acontecer dentro de seis meses. Caso a gravidez não ocorra dentro do período, é preciso procurar um especialista e investigar as causas, que são inúmeras”, explica.
O médico ressalta ainda que pacientes que passarão por tratamentos oncológicos também devem procurar um especialista em reprodução humana antes de iniciar quimioterapia ou radioterapia, com o intuito de congelar os gametas e tentar preservar a fertilidade.
Dados da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) mostram que cerca de 35% dos casos de infertilidade estão relacionados à mulher, 35% estão relacionados ao homem, 20% a ambos e 10% são provocados por causas desconhecidas.
Técnicas de reprodução assistida

Edilberto de Araújo Filho explica que as pessoas se confundem quando se fala em tratamento para engravidar. “A maioria acredita que só é possível por meio da Fertilização ‘in vitro’, mas não é assim. Sempre que um casal nos procura, antes de qualquer coisa explicamos que o primeiro passo é passar por uma consulta para uma investigação. Cada paciente é único e tem um protocolo personalizado”, diz o especialista.
As indicações, segundo o médico, podem ir desde coito programado (namorar em casa com indutores de ovulação) e Inseminação Artificial, até a FIV convencional, FIV com ICSI e FIV com análise genética. Indicamos a FIV somente quando não há outra possibilidade. Já tivemos casos de pacientes que após uma mudança de hábitos, vitaminas e pequenas mudanças prescritas por nossa equipe conseguiram engravidar naturalmente. E esse é nosso objetivo: ajudar as pessoas a realizarem seu sonho da maneira mais assertiva, sem que isso seja sinônimo do tratamento mais complexo.”
“Para resumirmos as técnicas, que vão desde as mais simples (baixa complexidade) até as mais avançadas (alta complexidade), começamos com o coito programado, em que é acompanhado o período ovulatório através do ultrassom, e nesse período é feita a orientação para namorar em casa com intuito de obter a gravidez. Esse é o método mais simples”, explica o especialista em reprodução humana.
Após isso, tem a inseminação intrauterina, em que a mulher toma medicamentos hormonais para que ela possa produzir óvulos. “Quando esses folículos chegam em um determinado diâmetro (tamanho), a mulher toma uma injeção para poder ovular, e marcando esse período fértil a gente colhe os espermatozoides do marido, prepara no laboratório, fazendo a capacitação, e coloca esse material preparado dentro do útero dela, e também nas trompas, onde o espermatozoide vai fertilizar espontaneamente esse óvulo. Se isso ocorrer, forma-se então o embrião, obtendo a gravidez. Mas claro que essa paciente precisa ter as trompas permeáveis e normais”, revela.
Quando a Fertilização ‘in vitro’ (FIV) é necessária
No caso de algum dano nas trompas ou uma quantidade muito diminuída de espermatozoide, ou uma endometriose grave que comprometeu as trompas, segundo Ligia Previato, embriologista clínica e chefe de laboratório do CRH Rio Preto, é possível recorrer a:
Fertilização ‘in vitro’ Clássica: em que também são estimulados os ovários para produzir uma quantidade maior de folículos, depois, guiados por ultrassom vaginal sob sedação, coletamos todos os óvulos. Em seguida, prepara o sêmen do marido, ou do banco de sêmen, e ocorre a fertilização dentro do laboratório. Acompanhamos fertilização e desenvolvimento do embrião até o quinto dia de desenvolvimento embrionário e, após isso, a gente seleciona os melhores embriões para transferir para o útero da mãe (a quantidade varia de acordo com a idade). Existe também a possibilidade de congelar os outros que forem bons e que a paciente não vai usar no momento. Com a possibilidade do congelamento ela terá chances futuras de engravidar.
Fertilização ‘in vitro’ com a ICSI: que é a injeção intracitoplasmática do espermatozoide no óvulo, no qual o procedimento também é feito com estimulação ovariana, captação de óvulos e preparo do sêmen, mas nesse caso é escolhido o melhor espermatozoide para injetar no óvulo, formando o embrião para que possamos ter uma transferência e obter a gravidez.
Fertilização ‘in vitro’ com ICSI amplificada/magnificada: em que é feita a escolha dos espermatozoides quando necessário com aumento de oito mil e quinhentas vezes para escolher o melhor espermatozoide, no qual não possui nenhum defeito morfológico para fazer a fertilização do óvulo.
Biópsia embrionária: em que é tirado um número de células do embrião no quinto dia de laboratório com o intuito de investigar geneticamente o embrião em busca do embrião saudável. Existem as indicações: mulheres com mais de 39/40 anos ou que tenham algum histórico genético na família.
Taxa de sucesso dos tratamentos

Ângela Marcon D’Avila, especialista em Reprodução Assistida pela FEBRASGO, membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida e diretora do Embrios centro de Reprodução Humana, em Bento Gonçalves – Rio Grande do Sul, explica que a taxa de sucesso dos tratamentos de reprodução assistida de alta complexidade, a FIV e a ICIS, é altamente variável e diretamente relacionada à idade da mulher e a sua reserva ovariana. “Pelo fato de as mulheres nascerem com todos os óvulos que irão utilizar ao longo da vida, cada óvulo que amadurece mensalmente tem exatamente a idade daquela mulher, acarretando que óvulos de mulheres mais velhas têm a tendência de formarem um número menor de embriões passíveis de gerarem um bebê. Sendo assim, a taxa de gravidez pode variar desde 60% em mulheres tão jovens quanto 25 anos, e 5% em mulheres com 43 anos.”
Segundo a resolução do Conselho Federal de Medicina, que atualmente rege as técnicas de reprodução assistida no País, em sua última publicação (Resolução CFM 2168/2021) aconselha que os tratamentos sejam feitos em mulheres de até 50 anos.
Cuidados durante o tratamento
Ângela Marcon D’Avila, especialista em Reprodução Assistida, explica que é importante que a paciente cuide de sua alimentação, evite alimentos inflamatórios, não beba álcool. Ter noites de sono bem dormidas também é importante. “Nos últimos dias da estimulação da ovulação, atividades físicas de impacto e relação sexual devem ser evitadas pelo desconforto e risco de complicações com o ovário. Em relação ao tratamento propriamente dito, o principal cuidado é ser extremamente cauteloso com a aplicação correta dos medicamentos, tanto no que diz respeito aos horários quanto no que diz respeito à dose. Erros de doses e horários podem colocar os tratamentos a perder, reduzindo muito as chances de sucesso”, ressalta.