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Culinária síria em Rio Preto passa de geração em geração

Receitas tradicionais, originárias da Síria, são partilhadas de geração em geração e garantem o sucesso da culinária árabe em Rio Preto

por Luciana Vinha
Publicado em 19/08/2022 às 20:16Atualizado em 20/08/2022 às 07:45
Pedro Suleinan e Maria Inês Suleiman com prato servido no ‘Babaganuch’ (Divulgação)
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Pedro Suleinan e Maria Inês Suleiman com prato servido no ‘Babaganuch’ (Divulgação)
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A Síria nem sempre foi associada a tragédias e conflitos políticos. O país, considerado o coração do Oriente Médio, é um lugar cheio de histórias emocionantes, berço de uma cultura rica, calorosa e colorida. Uma das principais características da população local é dar grande importância ao convívio e, portanto, reunir-se em torno de uma boa mesa vai muito além de simplesmente comer uma refeição: é um evento que pode durar horas. Por isso, não é surpresa saber que a culinária síria, além de ser uma das mais deliciosas do Oriente, é também do mundo.

Influenciada pela presença de diferentes etnias, sua cozinha é puramente baseada em produtos frescos e variados, regados a muito azeite, limão, condimentos e especiarias que se tornam uma excelente mistura com um sabor único, diferente dos ocidentais. Em Rio Preto, tem seu espaço garantido e faz sucesso no meio gastronômico devido a sua dimensão e variedade de sabores, que conquistam os mais variados paladares.

Esse é o caso do restaurante Zeina Comida Árabe, localizado na rua Antônio de Godoy, próximo ao Mercado Municipal. Quem comanda a cozinha é Sanaa Obid, ao lado de sua mãe, Jamilhe Bechara. As duas vieram da Síria e preparam os pratos seguindo as receitas tradicionais, mantendo tudo o mais fiel possível aos sabores sírios, partilhados pela família de geração em geração, que trazem à memória a lembrança dos ancestrais.

Ziad Ferzli com o ‘Baclava’, doce tradicional sírio (Divulgação)
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Ziad Ferzli com o ‘Baclava’, doce tradicional sírio (Divulgação)

“Cheguei a Rio Preto em 1997, tinha familiares na cidade e eles me trouxeram para o Brasil. Mais tarde, em 2011, depois que começou a guerra na Síria, veio minha mãe, e começamos a trazer nossa família; hoje estão todos estabelecidos aqui. Abri o primeiro restaurante Zeina em 2010, funcionou por cerca de 5 anos na rua Saldanha Marinho, parei por um tempo e há aproximadamente dois anos reabrimos em novo endereço e voltamos a atender”, conta Sanaa, que fez cursos de culinária em sua terra natal, hoje colocados em prática aqui.

Ela diz que os pratos mais pedidos são o ‘kibe labanihe’, um kibe tradicional frito, cozido na coalhada, e charuto de folha de uva, recheado com arroz, carne e tempero sírio. No que diz respeito às sobremesas, a tortinha de massa folhada recheada com nozes e o famoso ‘ninho de passarinho’, que pode ser com castanhas, amêndoas, pistache ou nozes garantem o sucesso. “Amo cozinhar, é tudo feito com muito amor e carinho, principalmente pela minha mãe, que sente muita falta da nossa terra natal. Foi uma maneira que encontramos de amenizar a saudade e poder partilhar nossa culinária”, afirma.

Sanaa Obid e sua família trouxeram os sabores da Síria para Rio Preto (Divulgação)
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Sanaa Obid e sua família trouxeram os sabores da Síria para Rio Preto (Divulgação)

Há mais de 20 anos, o Babaganuch é referência em Rio Preto quando o assunto é culinária síria. Em novo endereço, agora na avenida Arthur Nonato, na vila Sinibaldi, tudo começou em 1998, quando o casal George e Maria Inês Suleiman decidiu abrir o restaurante. Quem conta um pouquinho da história é o Pedro Suleiman, filho caçula do casal. “O Babaganuch é comandado pela família, nasceu da necessidade. Meu pai e minha mãe estavam em uma situação financeira muito difícil, e como sabiam cozinhar muito bem, decidiram abrir um restaurante para o sustento da família. No início, a proposta era diferente, funcionava como rotisserie e restaurante árabe, mas com o tempo eles foram percebendo que o foco dos clientes era mais a comida árabe e, para meu pai, um homem estrangeiro vindo da Síria, era a melhor resposta do público que ele podia ter”, diz.

A cozinha sempre esteve sob o comando de Maria Inês, que hoje conta com a ajuda dos outros dois filhos, George e Georgiane, além da equipe que auxilia. “Todas as receitas são de família, passadas de um a um, desde a minha avó. Tudo o que tem no cardápio faz muito sucesso, mas os campeões de vendas são as esfirras e as kaftas. E se tem dois ingredientes que não podem faltar, são muito esforço e dedicação”, garante Pedro.

Quem também trouxe um pouquinho do Oriente Médio para o Brasil foi o Ziad Ferzli, que há 16 anos veio do Líbano passear na casa do tio em Rio Preto e está aqui até hoje. Ele tem uma fábrica aqui na cidade, onde produz doces e salgados da culinária sírio-libanesa, a Ziah Gourmet, que fornece os produtos para estabelecimentos e consumidor final.

“Em 2010, voltei para o Líbano, trabalhei uns 4 meses numa fábrica para aprender a confeitaria e depois retornei para o Brasil. Produzo os principais doces árabes, como o folheado com castanhas e nozes, que chamamos de ‘Baclava’, e o ‘Maamoul’, de tamara, nozes e damasco, entre outros doces, e também os salgados como esfirra, homus e coalhada, as principais entradas da culinária árabe. São receitas originais, para manter o sabor autêntico”, explica.