Diário da Região
Comportamento

Um tempo para o seu próprio bem

Ciência mostra que bastam 15 minutos por dia para gerenciar emoções e humor

por Gisele Bortoleto
Publicado em 13/06/2020 às 20:44Atualizado em 07/06/2021 às 01:21
Ouvir matéria

Você é o tipo de pessoa que não consegue ficar sozinha em casa, que fica procurando desculpas para ir para a rua e encontrar movimento ou que precisa manter o rádio e a TV ligados para ter a sensação de ter gente por perto? Calma, você não está sozinha no grupo. A maioria das pessoas considera a solidão como algo negativo. Entretanto, se esta condição for uma opção e não uma imposição, ela será muito benéfica.

É o que revela um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, sobre os benefícios de passar alguns minutos por dia dedicando-se a atividades solitárias como a leitura, a meditação ou simplesmente pensando na vida. E nem precisa ser muito tempo. A equipe de pesquisa -que publicou os resultados de seu estudo na revista Personality and Social Psychology Bulletin, afirma que bastam apenas 15 minutos por dia sozinho para encontrar significativos benefícios sobre o humor e o gerenciamento das emoções negativas.

A notícia ainda melhor é que sequer é preciso estar completamente só. Você precisa apenas desse tempo para desenvolver alguma atividade. O importante é ter este tempo dedicado inteiramente a si mesmo e ao próprio bem-estar, o que teria um impacto muito positivo sobre o nervosismo e o estresse, aliviando as tensões as de cada dia. Ou seja, ao que parece, basta uma coisa bem simples e praticamente disponível a todos, para poder recarregar totalmente as energias no dia a dia.

"Os momentos de solidão são cruciais para todos que têm senso de responsabilidade. Estimular a solidão, é uma forma de preservar a paz interior. No mundo agitado e quase sempre avassalador em que vivemos, é fundamental encontrar o próprio refúgio. Uma hora no seu quarto sem distrações já será suficiente", diz Arun Ghandi no livro "A Virtude da Raiva" (ed Sextante). Após um tempo de reflexão e introspecção, segundo ele, você conseguirá se conectar plenamente com as outras pessoas de forma mais completa e significativa.

Os pesquisadores avaliaram 114 adultos que foram deixados sozinhos por 15 minutos depois de terem conversado nos últimos 15 minutos precedentes. Após esse tempo, eles foram convidados a preencher alguns questionários. Verificou-se que os participantes experimentaram menos agitação, nervosismo, sofrimento e, no geral, as emoções negativas foram menores em relação àquelas de bem-estar. Em outro experimento, os pesquisadores examinaram as reações de 108 participantes que passaram 15 minutos pensando ou lendo. Verificou-se que, em ambos os casos, as pessoas tiveram ganhos em termos de relaxamento.

Os pesquisadores decidiram então tirar a contraprova com um terceiro experimento realizado. Durante uma semana, 173 pessoas passaram um quarto de hora sozinhas todos os dias por uma semana, o que não o fizeram na semana seguinte. Também neste caso, verificou-se que passar um tempo sozinho proporcionou maior relaxamento e sensações positivas do que não ter passado algum tempo em solidão.

Foi assim então estabelecido que 15 minutos é o tempo suficiente necessário para poder aproveitar dos benefícios da solidão. Indo além desse tempo, de fato, em alguns casos, a solidão assumiu uma forma de sentimento de melancolia e mal-estar.

Entretanto, os trabalhos referem-se à solidão ativa, ou seja, àquela desejada pela pessoa e não o isolamento social, uma condição que muitas vezes acontece com os idosos e que está longe de ser positiva para a saúde. Se por um lado a solidão coloca em risco a socialidade, por outro, ela oferece muitas vantagens ao bem-estar pessoal.

De onde vem a solidão

A solidão é uma reação emocional que surge quando nos sentimos insatisfeitos com os relacionamentos que temos ou simplesmente quando nos sentimos sós. Embora aqui valha uma ressalva: isolamento social e solidão são diferentes. O primeiro pode ser imposto por situações da vida, como uma mudança de cidade ou por uma doença.

"Já a solidão é a sensação de sentir-se só. Então, podemos dizer que o isolamento social pode levar à solidão, mas ela pode ocorrer sem que haja isolamento social, ou seja, mesmo que a pessoa esteja inserida em um grupo, ela ainda pode se sentir só", explica a psicóloga Ghina Machado.

Reforçar e compartilhar momentos com amigos e familiares tem uma enorme importância para a saúde física e mental. Porque, independente do estágio da vida em que nos encontramos, precisamos de proteção, afeto, segurança e suporte. "Ter bons relacionamentos é um dos pilares para ser feliz e viver mais", diz Ghina.

"O contato com pessoas diferentes é uma oportunidade de nos conhecermos melhor e nos construirmos ao longo do tempo, além de contribuir também com o desenvolvimento do outro. Por isso, a construção de relações é imprescindível para uma vida saudável e mais feliz. Conviver com grupos de interesse mútuo é trazer vida", explica o cardiologista Carlos Scherr.