Melatonina: cuidados e como usar
Saiba quando a suplementação é indicada e a forma certa de ingerir o hormônio



Assim como comer bem e se exercitar, dormir bem é um dos pilares de uma vida saudável. Ter um sono de qualidade nos permite funcionar bem no dia a dia e estar fisicamente e mentalmente restaurados. O ideal, em média, é descansar oito horas por noite, sem interrupções. Um sono de má qualidade ou a ausência dele está ligado a uma série de repercussões negativas na saúde, como sistema imunológico enfraquecido, diabetes, hipertensão, dificuldade de concentração, falta de atenção, mau humor, depressão e até mesmo obesidade, entre outros.
A responsável pela regulação do sono é melatonina, um hormônio produzido naturalmente pelo próprio corpo, principalmente por uma glândula endócrina localizada no cérebro, chamada de pineal ou epífise. “Sua funcionalidade é essencialmente controlada pelo ciclo circadiano, com níveis baixos ao longo do dia e aumento gradual no final da tarde e início da noite. Tem ação facilitadora do início do sono por influenciar a promoção do sono, do ciclo sono-vigília e do metabolismo energético através da ativação de seus receptores”, explica a neurologista Naira Juliana Gomes.
No entanto, assim como acontece com qualquer outro hormônio, podem ocorrer alterações na sua produção, levando a um aumento (hipermelatoninemia) ou diminuição (hipomelatoninemia) da melatonina. “A hipomelatoninemia pode ocorrer como consequência de uma doença sistêmica (por exemplo, hiperglicemia) ou fator ambiental (por exemplo, luz à noite). Já a hipermelatoninemia pode estar associada a outras doenças como hipogonadismo hipogonadotrófico, anorexia nervosa ou síndrome dos ovários policísticos”, explica o neurologista Fábio de Nazaré Oliveira.
Os distúrbios do sono associados ao comprometimento na produção de melatonina incluem dificuldade para dormir e despertar constante, e costumam ser mais frequentes em pessoas idosas. Porém, cada vez mais precocemente, pessoas de diferentes idades têm apresentado uma redução do tempo e pior qualidade do sono, principalmente devido à exposição excessiva à luminosidade das telas de celulares, tablets e computadores, especialmente no período noturno. “A recomendação é uma hora antes de dormir ficar completamente sem mexer nesses aparelhos, sem ter contato com a luz que emitem”, orienta o neurologista Fábio Henrique Limonte.
Quando a suplementação é indicada
A suplementação de melatonina pode ser usada nos casos de alterações do ciclo circadiano com distúrbio do sono, na insônia de uma forma geral, nos casos de atraso para iniciar o sono ou fragmentação do sono, quando a pessoa acorda várias vezes durante a noite, assim como nos casos de “jet lag” (mudança de fuso horário) e nas trocas de turno no trabalho. “Pode também ser usada como um coadjuvante terapêutico em doenças neurológicas, como doenças do espectro do autismo, síndrome de déficit de atenção e hiperatividade, síndromes demenciais, por exemplo, que resultam em distúrbios do sono e dos ritmos biológicos circadianos”, afirma a neurologista Naira Juliana Gomes.
Dosagem recomendada e modo de uso
Conforme orienta a neurologista Naira Juliana Gomes, o ideal é ingerir a melatonina em torno de uma a duas horas antes de dormir. O tempo de uso depende das necessidades individuais de cada pessoa. “As doses típicas de melatonina para distúrbios do sono estão na faixa de 1 a 5 mg, apresentando meia-vida de eliminação aproximadamente 20 a 50 minutos”, diz. Segundo o neurologista Fábio Henrique Limonte, a recomendação é que o hormônio seja utilizado por um intervalo curto de tempo. “A indicação é evitar exposições maiores que 2 meses. Se for maior que isso, deve ser sempre com a orientação de um médico de sono”, completa.
O médico alerta que por estar nas farmácias como suplemento alimentar e ser vendida sem necessidade de receita médica, a melatonina pode ser confundida pelas pessoas como sendo um simples fármaco fitoterápico, no entanto, isso não é realidade. “Ela é um hormônio, deve ter uma medicação precisa, doses adequadas e um conhecimento antes de fazer o uso da substância. Além disso, por não ser uma medicação controlada, não tem uma fiscalização tão rígida quanto outros medicamentos. É importante ficar atento às informações contidas no rótulo e certificar-se de que ela foi inspecionada adequadamente”, diz Limonte.
Possíveis efeitos colaterais e riscos do uso indiscriminado
De acordo com o neurologista Fábio de Nazaré Oliveira, os efeitos colaterais mais frequentes incluem vertigem, tontura, náuseas e cefaléia. “A melatonina é uma opção segura nos esquemas de tratamento da insônia, não havendo um consenso quanto às complicações do uso prolongado; alguns pesquisadores acreditam que possam ocorrer alterações na pressão arterial, aumento da frequência cardíaca, redução da tolerância à glicose e aumento de infeções respiratórias, enquanto outros atribuem esses efeitos à qualidade do hormônio utilizado”, explica.
A neurologista Naira Juliana Gomes afirma que, apesar de bem tolerada, se usada de forma indiscriminada, equivocada ou em altas doses,, a melatonina pode diminuir a produção de hormônios sexuais, aumentar a prolactina (hormônio ligado ao aleitamento), provocar a queda de libido e até problemas de ovulação. “Os seus efeitos colaterais não estão bem estabelecidos, no entanto, dentre os mais comumente relatados estão cansaço ou sonolência diurna, sonhos vívidos e pesadelos, aumento de transaminase hepática, boca seca e sudorese noturna”, complementa.
Quem não pode usar
O neurologista Fábio de Nazaré Oliveira alerta que a suplementação de melatonina deve ser evitada na gestação ou quando se pretende engravidar, na amamentação, em crianças com menos de 5 anos, pacientes com distúrbios de coagulação ou em uso de anticoagulantes, durante tratamento de depressão, em pacientes com hipertensão arterial não controlada, durante tratamento para epilepsia e transplantados em uso de imunossupressores. “Pessoas que apresentam comorbidades ou fazem uso de medicamentos controlados, devem sempre consultar um médico para verificar sobre interação medicamentosa e possível potencialização de efeitos colaterais”, acrescenta a neurologista Naira Juliana Gomes.
Não serve para curar insônia
Apesar de ser útil no tratamento, o mecanismo de ação da melatonina não serve para curar insônia. “Devemos sempre lembrar que a insônia é um transtorno complexo que envolve fatores biológicos e psicossociais. Seu tratamento inclui mudanças de hábitos de vida, psicoterapia, tratamento de comorbidades e suspensão de medicamentos que possam alterar o ciclo do sono”, explica o neurologista Fábio de Nazaré Oliveira. “A cura da insônia é muito mais com medidas não medicamentosas, como orientações e higiene de sono, do que dependente de algum fármaco ou outro”, completa o neurologista Fábio Henrique Limonte.