Construção sustentável
Pensar no destino correto da água desde a construção permite aproveitamento do recurso natural o ano inteiro

Os próximos meses são de chuva escassa e baixa umidade. As previsões para os próximos anos na região não são nada animadoras. Por isso, é preciso pensar em soluções para a água desde o início de um projeto residencial, por exemplo.
Mas o que tem sido feito na construção civil para amenizar de escassez de água? A arquiteta paisagista rio-pretense Renata Kassis Mendonça questiona este limbo que existe na construção civil. Ela integrou em Campinas a equipe multidisciplinar que projetou a primeira casa sustentável da América Latina, certificada pelo LEED for Homes. Desde então, vem pesquisando e desenvolvendo soluções sustentáveis e ecológicas em seus projetos. A água é sua preocupação principal. “Desenvolvo projetos paisagísticos que buscam compor paisagens verdes através do uso de uma maior diversidade de plantas, em sua maioria nativas e resilientes que possuem uma necessidade menor de água. E, que por sua vez, atraem também uma maior diversidade de polinizadores. Esta interação entre solo, fauna e flora contribui para restabelecer o ecossistema local, criando um jardim mais saudável e ecológico”, explica.
Ainda segundo a profissional, a água acaba não sendo um elemento estrutural, pensado na concepção inicial do projeto de arquitetura. “No caso de projetos residenciais, existem inúmeras possibilidades de um uso mais racional da água. Há uma tendência simplista de pensar na água como um bem de consumo distribuído pelas redes de água e esgoto, e não como um recurso da natureza possível de ser usado, tratado e reutilizado”, alerta.
Renata afirma que ninguém questiona a origem da água, sua qualidade, e seu destino de forma consciente. Destino consciente e também financeiramente eficiente e rentável.
O sistema de tratamento de água e esgoto passa a integrar as possibilidades de armazenamento de água residencial, juntamente com o armazenamento da água da chuva, que é uma prática mais comum.
No entanto, devido aos períodos longos de seca de maio a agosto, o volume da água armazenada pela chuva torna-se insuficiente para a irrigação do jardim, pois este necessita de uma quantidade grande diária.
“Um jardim consome diariamente em média cinco litros de água por metro quadrado. Nos períodos mais secos do ano, as águas armazenadas pela chuva não conseguem atender esta demanda. Por este motivo, temos que pensar em soluções que atendam esta necessidade. Planejo o sistema de irrigação a partir do volume gerado diariamente pela casa, através da água cinza, que pode ser tratada quimicamente ou biologicamente, e reutilizada no jardim. A água cinza de uma casa é aquela gerada pelas duchas de banho, pias, máquinas de lavar roupa e louça. Logo, produzida diariamente por nós diariamente em nossas casas e que pode ser destinada aos nossos jardins”, explica Renata.
Plantas
A arquiteta Renata Kassis Mendonça explica que as plantas consideradas resilientes e perenes, ou seja, plantas com o ciclo de vida mais longo, que vivem por mais de dois anos, são as mais indicadas para ajudar a restabelecer o ecossistema local. “Dentre elas, é importante priorizar o uso de plantas nativas do Brasil, isto porque preservamos o nosso ecossistema original e nossos biomas, tão ricos em biodiversidade. O Brasil possui a maior biodiversidade do mundo, é fundamental preservarmos e valorizarmos esta riqueza natural”, orienta.
Ela explica que busca criar jardins biodiversos com predomínio de plantas nativas para restabelecer o ecossistema da fauna e da flora de um determinado ambiente. “Naturalmente outras plantas são usadas no jardim, plantas nativas de outros lugares e biomas, mas todas adaptadas ao nosso clima, ao nosso solo, umidade.” Entre as plantas nativas indicadas, Renata recomenda heliconias, clusias, bromélias, filodendros, marantas, palmeiras, árvores ornamentais e frutíferas. “São muitas espécies, criando uma relação simbiótica com os polinizadores e com o solo. A beleza é garantida no jardim, através de uma consciência ecológica”, finaliza.
Coloque verde no seu quintal
O arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves explica que a área permeável no terreno é responsável pelo processo de drenagem das águas das chuvas e o abastecimento dos lençóis freáticos. “Quando essa água da chuva cai e não encontra um solo permeável para absorvê-la, ela não tem para onde ir, e acaba indo para o asfalto e virando enxurradas ou alagamentos.”
Ele também explica que ter uma cobertura vegetal maior e mais árvores ajuda no controle da velocidade com que essa água chega ao solo, já que as folhas irão aparar as gotas da chuva e essa corrente pluvial terá menos velocidade, evitando a ocorrência de enxurradas fortes que sobrecarregam e danificam as redes pluviais.
Paulo Renato afirma que a preservação dos lençóis freáticos é uma questão primordial para a manutenção da água potável no mundo.
Solução inteligente

Já existem diversas soluções sustentáveis que auxiliam no reaproveitamento da água. Uma das opções é o piso drenante, indicado para ambientes ao ar livre – inclusive aqueles de alto tráfego ou áreas públicas –, o piso drenante é recomendado para o emprego em jardins, calçadas e até estacionamentos, trazendo vantagens para espaços onde é necessário manter a permeabilidade do solo. “Uma de suas principais vantagens é o fato de que ele permite o escoamento da água das chuvas ou regas, evitando a formação de poças ou enchentes”, explicam os paisagistas Cate Poli e João Jadão. Por isso, o piso drenante é fortemente indicado para terrenos que poderiam acumular água. “Esse tipo de piso permite que o solo respire, não deixando tudo impermeabilizado. A água da chuva desce e não causa inundações”.
Ecologicamente, a permeabilidade do piso drenante é seu maior destaque – isso porque ele é capaz de reduzir problemas causados pelas chuvas, como enchentes e alagamentos. Seu processo de produção ocorre dentro das premissas da sustentabilidade, pois é produzido com resíduos da construção civil, diminuindo o descarte.