Diário da Região
SAÚDE

Novembro Azul: o exame que salvou a vida de Gustavo

Diagnóstico precoce do câncer de próstata ainda é o maior aliado na cura da doença; médicos alertam para a importância do cuidado contínuo com a saúde masculina

por Francine Moreno
Publicado há 5 horasAtualizado há 2 horas
Gustavo Perle Júnior tocou o sino, (conhecido como “sino da vitória” ou “sino da cura”), um símbolo de superação e esperança para quem finaliza o trat (Arquivo Pessoal)
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Gustavo Perle Júnior tocou o sino, (conhecido como “sino da vitória” ou “sino da cura”), um símbolo de superação e esperança para quem finaliza o trat (Arquivo Pessoal)
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Aos 51 anos, o prestador de serviços Gustavo Perle Júnior tocou o sino da vitória há alguns dias, encerrando as sessões de radioterapia que marcaram o fim de uma etapa difícil e o início de uma nova vida. O gesto simbólico coroou uma história de coragem, prevenção e superação. Considerado jovem para desenvolver a doença, ele recebeu o diagnóstico de câncer de próstata e enfrentou o tratamento. Hoje, recuperado, ele é prova de que detectar cedo faz toda a diferença.

Junior conta que não teve sintomas, mas sempre fez exames de rotina precocemente. “Sempre pedi ao meu clínico geral que solicitasse junto ao check-up exames para PSA livre e total. Em um desses exames começou a vir uma alteração, e assim começamos a investigação”, revela.

Graças à vigilância constante com os exames, a doença foi detectada em fase inicial. “Hoje vejo o quanto o exame laboratorial é essencial, pois foi através dele que descobri o câncer de próstata logo no início. Na primeira biópsia, o resultado deu negativo para a doença, já na segunda, deu positivo e recebi o diagnóstico”.

O tabu que ainda adoece

O câncer de próstata é o tipo mais comum entre os homens e, segundo especialistas, quando diagnosticado precocemente, tem até 90% de chances de cura. Ainda assim, o preconceito e o medo do exame de toque retal continuam afastando muitos pacientes dos consultórios.

Para Júlio César Cardoso Neto, radioncologista da URRMEV (Unidade Regional de Radioterapia e Megavoltagem), os profissionais de saúde podem ajudar a quebrar esse tabu. “Profissionais de saúde podem combater o preconceito e o constrangimento em relação ao exame de toque retal por meio de comunicação clara, empatia, educação e foco na saúde geral do paciente. A resistência cultural em relação ao exame é um fator que, por vezes, atrasa o diagnóstico precoce de doenças como o câncer de próstata.”

Para o especialista, a tecnologia também tem sido uma grande aliada na luta contra a doença. “O diagnóstico precoce faz uma diferença crucial no prognóstico do câncer de próstata, oferecendo taxas de cura mais altas e expandindo as opções de tratamento. A detecção em estágios iniciais, antes da metástase, permite tratamentos mais eficazes e menos invasivos, que podem eliminar completamente a doença. Por outro lado, um diagnóstico tardio, com o câncer já espalhado, reduz drasticamente a taxa de sobrevida”.

Ir ao médico para não ficar doente

José Carlos Mesquita, chefe do Serviço de Oncologia Urológica do Hospital de Base de Rio Preto e vice-chefe da disciplina de Urologia da Famerp, reforça que a mudança de mentalidade é urgente. “Existe uma grande resistência realmente de procurar um médico sem sintomas. Mas a gente precisa é fazer com que as pessoas se conscientizem que nos dias de hoje você não precisa estar doente para procurar um médico. Nós podemos anteceder a doença e isso melhora muito a chance de cura”.

O médico reforça que 90% dos cânceres de próstata quando são diagnosticados precocemente têm chance de cura. “Não é uma porcentagem qualquer. Isso é significativo e as pessoas precisam estar conscientes disso. O recado principal que quero deixar é que não esperem ter sintomas para procurar o médico. Hoje temos que ir ao médico para não ficar doente e não ir ao médico doente”, afirma Mesquita.

Ele lembra que o câncer de próstata não é uma sentença. “O câncer de próstata é o tumor mais comum no homem e mais diagnosticado e quando diagnosticado precocemente, porque precisamos entender que não há nada que se faça prevenção. Prevenção é quando você não deixa acontecer. O que fazemos é um diagnóstico precoce, antes da doença se manifestar”.

O especialista também explica que o PSA, exame de sangue usado para rastrear alterações na próstata, é um marcador que serve como um “alarme”. “É importante ir ao médico, fazer o PSA, que é o marcador tumoral. Lembrando que marcador é como um alarme que se coloca na sua casa, nem sempre quando o alarme toca tem ladrão. Nem sempre quando o PSA altera tem câncer. A partir daí é que o médico investiga melhor. O toque retal é importante, o PSA é importante, a história familiar é importante, o modo de vida que o homem tem é importante, porque saber o que se come, lembrando que as leguminosas, por exemplo, são protetoras para câncer de próstata, atividade física é um fator protetor, a não obesidade é um fator protetor e a não exposição a agentes cancerígenos também”, afirma Mesquita.

Além da prevenção do câncer, Mesquita afirma que é fundamental, na saúde masculina, entender que o urologista não trata só da próstata. “É importante que se quebre o tabu, que quando o homem tenha algum sintoma que converse com o médico, faça uma consulta médica, acompanhada pela sua parceira.” Segundo Mesquita, na maioria das vezes, as doenças, do ponto de vista sexual, começam por alteração do próprio sistema psicológico do paciente.

Mesquita afirma que o Brasil é um país com alto índice de câncer de pênis e a principal causa é a falta de higienização adequada. “Não tenha vergonha, se você tem algum fator importunando, tem que tomar atitude de procurar profissional para poder ajudar a resolver melhor essa solução. Cuidar do homem como um todo, não é só cuidar da próstata, é cuidar de toda a sua saúde. Nós precisamos criar o hábito de ir ao médico para não ficar doente, de ir ao médico para ter uma saúde melhor”.

Um lembrete azul o ano inteiro

Novembro Azul é um convite à constância (Freepik/Banco de Imagens)
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Novembro Azul é um convite à constância (Freepik/Banco de Imagens)

Mais do que uma campanha pontual, o Novembro Azul é um convite à constância. O cuidado com a saúde masculina precisa durar o ano todo, nos exames, na alimentação e nas escolhas diárias.

Júlio César Cardoso Neto, radioncologista da URRMEV, afirma que é fundamental adotar uma rotina de hábitos saudáveis e consultas médicas regulares, indo além da conscientização do Novembro Azul. “Para isso, é muito importante a prática regular de atividade física, alimentação equilibrada, reduzindo o consumo de alimentos processados, açúcar e gorduras saturadas, que podem contribuir para o desenvolvimento de doenças hepáticas e outras condições, além da qualidade do sono, controle do estresse, moderação do álcool e fim do tabagismo”.

Em relação ao tratamento, em Rio Preto tem a evolução da cirurgia, com a robótica, e na radioterapia contamos com a máquina mais moderna no mundo para tratamento irradiante. “Na URRMEV, a máquina de radioterapia Halcyon-E proporciona ao paciente altos índices de cura, sem a necessidade de cirurgia em alguns casos, praticamente sem efeitos colaterais. Também tivemos uma grande evolução na oncologia clínica, com novas medicações e excelente resposta aos tratamentos”, afirma Júlio César Cardoso Neto.

O prestador de serviços Gustavo Perle Júnior, depois de passar pelo diagnóstico e tratamento, faz um alerta. “Não deixem de fazer exame de sangue de PSA livre e PSA total, pois foram fundamentais para o sucesso do meu tratamento, possibilitando o diagnóstico em fase inicial. E seja qual for o resultado, procure o melhor para você, para o seu caso, junto ao seu médico para ficar bem”.