Pedido de demolição deve pôr fim ao clube mais tradicional de Rio Preto
Diretoria do Palestra Esporte Clube tenta acordo com empresa para encerrar disputa judicial; entidade pede demolição à Prefeitura de Rio Preto para receber valor e recuperar clube de campo

A atual diretoria do Palestra Esporte Clube apresentou pedido, na Prefeitura de Rio Preto, de alvará de demolição de parte da área da sua sede social. A medida tem como objetivo cumprir o previsto em contrato firmado com a empresa Succespar Real Estate Desenvolvimento Imobiliário, que negociou a compra do imóvel por R$ 60 milhões. O clube espera esse valor. A venda da área com cerca de 43 mil metros quadrados ocorreu na gestão de Osvaldo Marques (2017/2018). No local, está prevista a construção de um supermercado. O foco é recuperar o clube de campo do Palestra.
Apresentado em julho, o pedido de demolição lista o ginásio pequeno da sede do clube e do prédio onde funcionava a sauna. Segundo o primeiro vice-presidente Valdomiro Alcaine, há uma tentativa de encontrar uma solução para a disputa judicial que se arrasta desde 2018. A Secretaria de Obras indeferiu o pedido para demolir parte do imóvel. A entidade ingressou com novo pedido a partir dos 33 apontamentos feitos pelos engenheiros do Executivo. A Justiça, em primeira instância, anulou a venda do imóvel, mas a empresa ingressou com recurso no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), que ainda não foi julgado.
“Esse pedido cumpre o que está no contrato de compra e venda feito pela diretora anterior. É demolição de uma parte da sede: do ginásio e do prédio da sauna, que já estavam em posse da empresa”, afirmou Alacine. "Tem uma situação de contrato, tem um litígio, tem a decisão em primeira instância, do recurso no Tribunal, e tudo isso está em um imbróglio. A diretoria está compondo com a empresa um acordo para acabar com o imbróglio, com essa demanda, porque precisa resolver essa situação", afirmou o vice-presidente.
De acordo com Alcaine, está previsto no contrato que caberá ao clube – que possui atualmente cerca de 4 mil associados pagantes – ainda realizar a junção das matrículas dos terrenos. Posteriormente, a empresa deverá destinar uma área com 31 mil metros quadrados para o projeto de implantação de um hipermercado no local, e outra área com 12 mil metros quadrados - formada pela sede social do clube e quadra principal - poderá ser destinada ao aluguel para outro tipo de empreendimento no local. A área das piscinas também deverá ser usada como contenção de águas pluviais, além de estacionamento do hipermercado. “Para acertar esse negócio e o Palestra receber esse dinheiro (R$ 60 milhões), o clube está cumprindo a sua parte no acordo", afirmou.
O vice-presidente disse que o recebimento do valor é a única alternativa para pagar a dívida estimada em cerca de R$ 35 milhões. “O contrato está assinado e a empresa vai fazer valer até a última instância. Sei que tem muitos associados que não querem, mas o Palestra não tem mais vida”, afirmou Alcaine ao defender a venda da sede para pagar as dívidas e o que sobrar aplicar no clube de campo. "Para tentarmos revitalizar o clube e seguir a vida".
O associado Luiz Renato Malagoli não concorda com a demolição. “Ali tem história e não será demolido. Estamos reunindo o Conselho (Deliberativo) para realizarmos uma assembleia”, afirmou Malagoli.
De acordo com a assessoria da empresa, uma nova auditoria aponta que a dívida do clube seria de aproximadamente R$ 90 milhões. A diretoria discorda do valor e afirma que vai tentar reduzir, por exemplo, abater o valor de juros e multas de impostos. Nesta terça-feira, 21, está prevista reunião entre representantes do Palestra e da empresa para debater o valor de multa.
(Colaborou Lucas Israel)
Clube chegou a ter 40 mil associados na cidade

Na década de 90, o Palestra Esporte Clube tinha cerca de 40 mil associados - entre os titulares e os seus dependentes. A entidade foi fundada no dia 15 de março de 1931, localizada em terrenos entre a General Glicério e a avenida Philadelpho Gouveia Neto.
A imponência dos tempos áureos do clube contrasta com a degradação do espaço ao longo do tempo, que fica escancarada com a atual realidade. O vice-presidente do clube, Valdomiro Alcaine, disse que o prédio inacabado onde funcionaria o boliche nunca teria sido registrado oficialmente na Prefeitura de Rio Preto. Tanto que, no pedido de demolição, apresentado ao Executivo não consta pedido para demolição deste prédio.
O historiador Fernando Marques relembra com saudade os carnavais, que eram muito concorridos, as festas do Dia das Crianças e festas juninas. Os grandes shows realizados na quadra do clube.
O terreno às margens do rio Preto foi doado ao fundador, Bonfá Natale, com ajuda de Chaim José Elias, Pedro Alves e Joaquim Ferreira Julio. Foi quando o clube ganhou o seu primeiro campo de futebol. “O Palestra foi o maior clube da cidade. Era um clube muito querido”, afirmou.
Marques destaca a atuação esportiva do Palestra, principalmente, no futebol e na natação. "Hoje, a atual situação é digna de pena. Estou abismado", afirmou o historiador.
Dentre todos os presidentes, Domingos Sinibaldi foi quem permaneceu por mais tempo no comando, entre 1945 a 1963 e 1964 a 1968. O diretor presidente do Grupo Diário da Região, Norberto Buzzini, foi presidente da entidade durante 12 anos (1969-1981). (RL com Marival Correa)