Investigação fecha cerco a radicais da região de Rio Preto na quebradeira de Brasília
Lista de presos pelos atos violentos na Capital Federal chegou a 763 na tarde de quarta-feira, 11, com pelo menos oito nomes da região de Rio Preto identificados pelo Diário

Lista de manifestantes extremistas que foram presos após ato violento no último domingo, 8, em Brasília, já registra pelo menos oito nomes de Rio Preto e região identificados pela reportagem do Diário.
De acordo com a relação divulgada pelo governo do Distrito Federal às 18h desta quarta-feira, 11, são 763 extremistas encaminhados para presídios, dentre os quais 498 homens e 265 mulheres.
Na relação estão a empresária de Rio Preto Lucienne Serafim Nogueira Gois, que mora em um condomínio de luxo da cidade. Há postagens dela nas redes sociais em que aparece no famoso acampamento de Brasília, que foi desmobilizado depois da barbárie na Praça dos Três Poderes.
Outra rio-pretense que está na lista de presos é Lucenir Bernardes da Silva. Ela não possui postagens sobre sua presença em Brasília nas redes sociais.
Na relação de presos da região, atualizada até o final do dia desta quarta, constam ainda seis pessoas que estavam nos ônibus que tiveram dados detalhados encaminhados ao Supremo.
A reportagem identificou entre os presos quatro nomes de Mirassol: Luciano dos Santos Rossi, Ray Aparecido Travassos, Gustavo Barco Ravenna e Rafael Antonio Ribeiro Meloze. E também Jair Domingues de Morais, de Fernandópolis, e Kingo Takahashi, de Votuporanga.
Clique aqui e veja a lista completa com os nomes das pessoas que foram presas.
As prisões ocorreram em função da invasão e destruição de prédios dos Três Poderes símbolos da República, que são o Palácio do Planalto (Executivo), Congresso Nacional (Legislativo) e Supremo Tribunal Federal (Justiça).
Ao menos oito ônibus saíram de Rio Preto e região com destino a Brasília. A prisão por conta das invasões foi determinada na noite de domingo pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Em torno de 1,5 mil pessoas foram levadas para espécie de “triagem”. Vinte e quatro juízes foram designados para realizar as audiências de custódia. Pedidos por parte de advogados para a liberação de presos serão analisados pelo Supremo.
A relação de presos vem sendo atualizada várias vezes ao longo do dia. Os detidos que provocaram quebra-quebra nos prédios públicos ficam inicialmente em um ginásio da Polícia Federal da Capital. As audiências são realizadas até de madrugada para definir a situação de cada um.
Segundo o Diário apurou, as audiências para análise de pedidos de soltura podem demorar até 30 dias. Familiares de pessoas de Rio Preto que estão presas viajaram para Brasília com o objetivo de acompanhar a situação.
Ônibus
Em paralelo, empresas da região que tiveram ônibus apreendidos tentam a liberação dos mesmos. Os veículos ficaram retidos também com base na decisão do ministro do Supremo.
Para liberar seus ônibus, as empresas apresentaram ao STF a relação dos extremistas que viajaram para participar do ato. Foram ainda anexadas à solicitação de liberação cópias de contratos com nomes das pessoas que fretaram os veículos.
Em três ônibus, por exemplo, constam 113 nomes de passageiros que estavam nos veículos: dois saíram de Votuporanga, sendo que um deles passou por Mirassol o outro seguiu direto. Um terceiro saiu de Fernandópolis. Tem ainda um quarto veículo que iniciou viagem de frente do Tiro de Guerra de Rio Preto (leia mais ao lado).
Precário
O advogado Augusto César Mendes, de Rio Preto, disse nesta quarta ao Diário que está atuando na defesa de 20 radicais da região que estão presos em Brasília. “A maioria das pessoas presas estava no acampamento (de Brasília). Não tiveram participação em atos de barbárie. Estão presas em situação precária, sem que pedidos de liberdade sejam analisados durante a custódia”, afirmou.
Presos são vacinados e recebem kit

Cerca de 700 golpistas bolsonaristas presos por envolvimento nos atos de invasão e depredação de prédios públicos na Praça dos Três Poderes, domingo, 8, começaram a ser levados para as celas. O Estadão conseguiu detalhes sobre o processo de triagem dos acusados.
Tantos os homens enviados para o Centro de Detenção Provisória da Papuda quanto as mulheres encaminhadas para a mesma estrutura da Colmeia receberam, ao chegar nos presídios, um colchão enrolado para dormirem. Além disso, receberam um uniforme e um kit de higiene contendo sabonete, creme dental e escova. No caso das mulheres, foi disponibilizado, ainda, absorventes.
As celas têm tamanhos diferentes. Por isso, cada um recebeu um número diferente de detentos. Dentro de cada uma das celas há banheiro disponível. As camas são de concreto, sem qualquer tipo de artefato que possa ser retirado. Os presos bolsonaristas estão separados dos demais detentos. Dentro da cadeia, nada de acesso a celular. Todos foram recolhidos.
Ao chegarem na prisão, os golpistas passaram ainda por um processo de triagem médica. Uma força-tarefa foi montada para fazer exames nas pessoas, vaciná-las contra doenças como a Covid-19, nos casos em que houver necessidade, e tomar nota daquelas que têm algum tipo de comorbidade ou tomam algum medicamento regulado. Todos terão direito a tomar “banho de sol” uma vez por dia.
Diariamente, eles passam a receber quatro alimentações por dia, incluindo café da manhã, almoço, café da tarde e jantar. As refeições são diferentes a cada dia e incluem itens como suco e achocolatados de caixinha.
Por razões de segurança, cada detento recebeu apenas o colchão para dormir, sem cobertor e travesseiros, peças que podem ser usadas para atos de violência.
A próxima fase da detenção é a tomada de audiências com cada detento. Esse trabalho será feito de forma virtual, reunindo, em cada sessão, um juiz, um promotor, um advogado de defesa e o acusado. As sessões desse tipo costumam levar cerca de 20 a 30 minutos.
A expectativa é de que cerca de 30 juízes atuem nas sessões, como forma de acelerar os depoimentos. Os detentos darão seus depoimentos em ambientes da prisão conhecidos como “parlatórios”. Esses locais, que possuem computador com câmeras e acesso à internet, foram preparados para funcionar durante a pandemia da covid-19, devido à necessidade de isolamento físico, e agora vão auxiliar a agilizar as audiências, dado o grande volume de pessoas a serem ouvidas. (Agência Estado)
Lista de passageiros
Empresas de ônibus da região de Rio Preto que tiveram veículos fretados com destino a Brasília, onde ocorreram atos violentos no domingo, 8, entregaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) a relação de passageiros e detalhes sobre locação do serviço. Os dados foram apresentados pela empresa Astra Agência de Turismo, de Votuporanga.
Os documentos estão incluídos na ação relatada pelo ministro Alexandre de Moraes, que apura os fatos ocorridos, quando a Praça dos Três Poderes foi invadida por uma multidão de apoiadores extremistas do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A Astra apresentou esclarecimentos no Supremo e afirma que apenas ofereceu o serviço, e repudiou os atos violentos. "Resta comprovado, portanto, que as peticionárias atuaram legitimamente como organizadora de viagens e fretamento turístico, atividades próprias do transporte de passageiros, não tendo qualquer envolvimento com os lastimáveis acontecimentos que mancharam a nossa bandeira nacional mais uma vez", consta em documento protocolado no Supremo.
Um dos veículos foi contratado com a empresa Ramos e Silva, sub-contratada pela Astra. “São empresas idôneas, tradicionais, e no fatídico dia dos eventos de 08/01/2023 transportou passageiros com origem no interior de São Paulo para a o Distrito Federal Nacional”, consta no documento.
A defesa pede a liberação de três ônibus que foram apreendidos. Os veículos foram fretados por R$ 9 mil e R$ 11 mil. A relação inclui 32 passageiros que saíram de Fernandópolis a Brasília, na noite de sexta, 6. Outro ônibus tinha 42 passageiros e saiu de Votuporanga, passando por Mirassol. Um terceiro veículo, com 39 passageiros saiu de Votuporanga também no dia 6. Os valores de fretamento variaram entre R$ 9 mil e R$ 11 mil.
Os pedidos de liberação dos veículos serão avaliados pelo ministro Alexandre de Moraes. Ele determinou a apreensão de 87 veículos.
Na edição desta quarta, 11, o Diário revelou que empresas da região tentam a liberação de 30 veículos que foram apreendidos por conta dessa decisão.
Rio Preto
Já a empresa São Matheus-Bady Bassitt Transportes e Turismo, de Rio Preto, apresentou documento que registra como contratante do veículo João Carlos Baldan. No documento, porém, não consta a assinatura dele. O Diário tentou contato com ele pelo celular, mas a ligação caiu na caixa postal. Baldan tem histórico relacionado a atos bolsonaristas em Rio Preto. Ele foi denunciado pelo Ministério Público por protestos em frente ao prédio onde mora o prefeito Edinho Araújo (MDB) no período de lockdown, em 2021.
O custo foi de R$ 11 mil. Não há dados sobre a relação de passageiros do ônibus que saiu de Rio Preto na sexta, 6, de frente do Tiro de Guerra, onde se concentrava a mobilização de apoiadores do ex-presidente. Em outro documento protocolado no Supremo, a empresa declara ter recebido R$ 6 mil como parte do pagamento do fretamento.