Em Rio Preto, Tarcísio diz temer volta do PT e 'assalto' à Petrobras
Pré-candidato ao governo de São Paulo pelo Republicanos, Tarcísio de Freitas participou de evento em Rio Preto e rebateu acusações de Haddad sobre ligação de Bolsonaro com milícia carioca

Pré-candidato ao governo de São Paulo pelo Republicanos, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas afirmou que causa “preocupação” a possível volta do PT ao governo e citou “assalto à Petrobras”. Ele participou de evento organizado pelo Republicanos neste sábado, 9, em Rio Preto, com cerca de 700 aliados. O diretório local comandado por Diego Polachini agitou o meio político em torno de Tarcísio, deputados, apoiadores e pré-candidatos. Tarcísio foi lançado ao governo de São Paulo pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Em entrevista ao Diário, o ex-ministro rebateu as acusações de Fernando Haddad (PT), também candidato no Estado, sobre suposta de ligação do presidente com milícias no Rio de Janeiro, estado de Tarcísio. Ele afirmou ainda que o eleitor paulista não está preocupado com “certidão de nascimento”, disse que é possível reduzir valor da tarifa de pedágio e que geração de emprego será prioridade caso seja eleito. Leia os principais trechos da entrevista:
Diário da Região - O senhor aparece em terceiro lugar nas pesquisas recentes para o governo do Estado. Como candidato do presidente Jair Bolsonaro, o senhor já se vê no segundo turno?
Tarcísio de Freitas - Existe uma tendência de nacionalização da campanha de São Paulo. O apoio do presidente Bolsonaro de fato é um apoio muito importante. Quando a gente vê pesquisas em que se considera o apoio dos presidenciáveis, a gente fica numa situação bastante confortável. A gente cresce muito em função do apoio do Bolsonaro. É esperado que o eleitor do Bolsonaro acabe votando no candidato do Bolsonaro. É um eleitor extremamente fiel. Então, isso nos dá uma chance muito grande de fato de estar presente no segundo turno.
Diário - O PSDB governa São Paulo há 30 anos praticamente. O partido lançou Rodrigo Garcia em cenário que tem ainda Fernando Haddad e Márcio França. Quais são os principais adversários do senhor?
Tarcísio - Entendo que o candidato do PT, o Fernando Haddad, por estar também no campo da eleição presidencial com candidato que aparece bem (Lula), é com certeza um dos nomes que vai chegar ao segundo turno e deve ser o adversário a ser batido. É esperado que haja uma transferência maciça de votos dos dois principais candidatos a presidente da República para os seus candidatos nos estados. Então, o que vai acontecer no Estado de São Paulo deve reproduzir o cenário nacional.
Diário - O senhor esteve recentemente em Rio Preto, veio inaugurar a duplicação da BR-153, em evento com o presidente Bolsonaro, com milhares de pessoas. Hoje participa de uma reunião do Republicanos. Qual a força que tem o interior na decisão para a escolha do governo de São Paulo?
Tarcísio - O interior é muito forte. Nenhum candidato na história recente de São Paulo se elegeu sem o interior. O interior produz riqueza, muito baseada no agro, em valores importantes. É um interior conservador, gente que arregaça a manga, que trabalha, que transformou a região, que impulsionou o agronegócio, a agroindústria. Uma série de indústrias cresceram em torno das principais cidades. É onde se concentra a maior parte do eleitorado. Se pegar o eleitorado do interior, ele supera a soma da Capital e da região metropolitana. A gente vai ver o engajamento do presidente Bolsonaro nesta candidatura. É uma candidatura que ele acredita, que ele aposta. São Paulo, o maior colégio eleitoral do Brasil, é estratégico no plano nacional.

Diário - O Datafolha mostra que Bolsonaro tem grande rejeição no Estado. O Bolsonaro ajuda e atrapalha? Como o senhor vê essa rejeição ao presidente?
Tarcísio - O Bolsonaro ajuda, tem uma força política muito grande e mostrou essa força. Nenhum mandatário na história do Brasil superaria crises tão graves, como foi a crise da Covid, a crise hídrica, a guerra na Ucrânia, o desastre de Brumadinho, e manteria a força eleitoral que o Bolsonaro mantém. Então, de fato, é um grande fenômeno político, um grande líder. É natural que haja hoje um certo receio em relação ao mandatório da vez. Mas essa rejeição começa já a ser desfeita porque o Brasil superou essas crises da melhor maneira possível. Houve preservação de emprego, das empresas. Medidas foram tomadas com assertividade. Veio a suspensão temporária de contrato de trabalho com aporte do governo federal para manutenção de empregos. Isso ajudou a salvar as empresas. Teve o auxílio emergencial que manteve as pessoas vivas nesse período mais grave. Aporte muito forte do governo federal em estados e municípios. Isso viabilizou que vários entes da federação pagassem salários dos servidores. No final das contas, o governo conseguiu manter essas estruturas funcionando. Foi um governo que comprou as vacinas e disponibilizou as vacinas para todos. Foi um governo que concluiu obras paradas. Deu mais títulos de terra do que os governos Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer somados. É o governo que levou água para o Nordeste. Essas realizações, como a conclusão de obras que estavam há décadas paradas, virão à tona durante o debate eleitoral e tenho certeza que, na hora de confrontar os dois projetos de futuro para o Brasil, essa rejeição cai e a gente vai ver o Bolsonaro crescendo, como já está.
Diário - O senhor tem sido criticado por adversários por ser do Rio de Janeiro. O presidente estadual do PSDB, Marco Vinholi, chegou a dizer que o senhor nem torce para time de São Paulo: é flamenguista. Alguns o consideram 'estrangeiro' no Estado de São Paulo. Como o senhor analisa?
Tarcísio - Se é tudo que eles têm para falar contra minha gestão no Ministério da Infraestrutura, e minha capacidade enquanto gestor, está tranquilo. Isso é o melhor que eles podem fazer em termos de críticas? Paulista está interessado em alguém que tenha capacidade de rapidamente perceber quais são seus problemas e construir soluções. Paulista quer alguém que consiga ter criatividade para fazer o Estado funcionar, dando melhor prestação de serviço para o cidadão. Não está preocupado com certidão de nascimento. Eu não vou ser governador de uma torcida. Vou ser governador de todas as torcidas. Eu tive capacidade de perceber que a gente precisava aumentar a malha (férrea) paulista. Atuei na recuperação do ramal de Colômbia, do ramal de Panorama, no contorno ferroviário de Rio Preto, que vai ligar Mirassol, Rio Preto e Cedral. A travessia seca Santos-Guarujá, que é requerida há 50 anos. Precisou vir um “estrangeiro“ então para dar solução para este problema. O paulista quer saber se a gente tem capacidade de perceber que a saúde de São Paulo tem problema de financiamento e que a gente vai ter condição de fazer que essa estrutura funcione. O paulista quer saber como vai aumentar a educação integral e melhorar a infraestrutura das escolas e, ao mesmo tempo, olhar para os professores. Paulista quer saber como vai melhorar as polícias e isso vai refletir na melhoria da segurança pública., concluir obras inacabadas. Como vai restabelecer o emprego. É com isso que o paulista está preocupado. Ele não está nem aí se você nasceu no Estado A ou no Estado B.
Diário - O que o senhor considera como prioridades, caso seja eleito?
Tarcísio - Tem um desafio fundamental no Estado de São Paulo, que repercute em todos os outros: gerar emprego. Precisa impulsionar o investimento e criar condições para o emprego ser gerado. São Paulo tem perdido indústrias para estados vizinhos em função da guerra tributária. A redução às vezes de determinados tributos gera investimentos, gera empregos, e efeito benéfico na própria arrecadação. Saúde é uma prioridade absoluta. Ter plano de melhor gestão vai criar a sobra necessária para que possa entrar com mais vigor naquela composição de recursos, União e Estado, no socorro às santas casas, na alta complexidade que precisa da assistência do governo. Segurança pública é fundamental e só vamos ter melhor resultado se estruturar a Polícia Civil, que precisa de quadros novos, concursos, melhores salários e valorizar a Polícia Militar, que precisa de plano de carreira. É o Estado mais rico do Brasil, mas que paga um dos piores salários de policial. Na educação, há deficiência de estrutura física de escolas. Trazer a tecnologia de informação para dentro da sala de aula e preparar o jovem para o futuro.
Diário - Qual sua proposta para concessão de rodovias? Vai ter mais praças de pedágio?
Tarcísio - Às vezes, concessão de rodovia é algo importante para trazer investimentos. Agora, isso tem de ser feito com inteligência e dentro de valor justo. Tomamos uma postura diferente do governo de São Paulo com relação às concessões existentes. Ao invés de fazermos prorrogação de contrato, a gente percebeu um caminho diferente, com uma re-licitação, e que conseguiríamos traduzir os ganhos em benefício ao usuário. Foi assim na Dutra. Fizemos uma nova licitação com R$ 15 bilhões de investimentos. Tem muita coisa que pode ser feita em concessão para reduzir tarifa. Existe um caminho para desonerar o usuário. Uma coisa que inventamos foi o “usuário frequente”: a cada passagem tem um desconto progressivo. As próprias praças de pedágio podem acabar. Criar o sistema free flow (sistema eletrônico de pagamento proporcional aos quilômetros rodados sem praça física de pedágio). Aumenta a base de pagantes e, aumentando a receita, diminui a tarifa para todos.
Diário - O candidato Fernando Haddad acusou ligação do presidente Bolsonaro com as milícias do Rio. Como o senhor rebate essa afirmação?
Tarcísio - Não há ligação nenhuma. Na verdade, as estatísticas sobre violência melhoraram no governo Bolsonaro, significa que houve inteligência no enfrentamento ao crime. O número de homicídios caiu, apreensão de drogas subiu. O governo federal se dedicou ao combate ao crime violento, ao crime organizado, à corrupção. Eu me preocupo com a volta do PT, por exemplo, e preciso me preocupar com relação ao assalto à Petrobras, a várias estatais. Hoje as estatais estão dando lucro. O Correios está dando lucro. Petrobras está dando lucro e lá atrás quase foi à bancarrota. Então, a gente viu o maior esquema de corrupção, o esquema mais generalizado da história. Ele deveria se preocupar com a corrupção e olhar para dentro de casa e ver se eles não têm nenhum pedido de desculpa para fazer à sociedade porque eles traíram a sociedade.
Diário - O senhor já fez parte de um governo do PT, no Dnit, na época da Dilma. E agora transita num governo de direita. O senhor é um camaleão ideológico?
Tarcísio - Eu não sou um camaleão ideológico, sou técnico e sempre atuei tecnicamente. Assumi o Dnit no governo do PT depois de seis operações da Polícia Federal em sequência. Peguei um órgão após afastamento de ministro de Transportes, de sete diretores do Dnit, de toda a diretoria da Valec. Eu era auditor de carreira da CGU (Controladoria-Geral da União) e fui chamado para resolver um problema. Fui trazer técnica para o Dnit, governança. Fiz o meu trabalho e não teve mais nenhum problema. Passei três anos no Ministério da Infraestrutura e você não ouviu um escândalo, nada. A gente sendo ousado, entregando obras que estavam inacabadas. Só no ano de 2021, entregamos 108 obras, realizamos 84 leilões de infraestrutura. O fato de eu ter passado por vários governos é algo bastante comum em servidores de carreira. Nunca tive nenhuma mudança de viés ideológico. Eu acredito nos costumes, acredito na família, eu acredito na livre iniciativa, na iniciativa privada.
Diário - O senhor recebeu críticas por declarações de que o governo de São Paulo fez acordo com facções criminosas. Qual avaliação o senhor faz de sua declaração e a repercussão que teve?
Tarcísio - Teve uma repercussão que eu não esperava. Na verdade, o que eu fiz foi relato histórico. É algo que está registrado na literatura especializada, está narrado em vários livros sobre a ascensão do crime organizado aqui no Estado. Está registrado em matérias jornalísticas ao longo dos anos. O que eu falei foi algo que remete à história. Nada mais do que isso. A história registra alguns episódios desses. Não estou me referindo a nenhum governo. Estou me restringindo a uma questão que está bem documentada. Acho que todo mundo se lembra do que aconteceu nos idos de 2006 no Estado de São Paulo e nada mais do que isso.