Eduardo Bolsonaro incendeia política local e acirra disputa entre candidatos da direita
Em Rio Preto para receber homenagem na Câmara, deputado federal agitou o cenário político local, alimentando a polarização, criticando o Republicanos e acirrando a disputa entre ‘bolsonaristas’

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) ficou menos de 24 horas em Rio Preto, mas foi tempo suficiente para o filho zero três do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) botar fogo na cena política local.
Nas três entrevistas à imprensa entre a tarde de quinta-feira, 10, e a manhã de sexta-feira, 11, e também no discurso que fez ao receber honrarias na Câmara, o parlamentar alimentou a polarização política entre direita e esquerda, arrumou uma tremenda encrenca com o Republicanos e acirrou a disputa entre postulantes que duelam entre si pelo selo de “candidato do bolsonarismo” na eleição pela Prefeitura de Rio Preto no ano que vem.
A vinda de Eduardo Bolsonaro à cidade foi para receber honrarias aprovadas desde 2017 pela Câmara, numa iniciativa do vereador Anderson Branco (PL). No mesmo evento foi homenageado também o coronel Fábio Rogério Candido, comandante do CPI-5.
Em entrevista logo na chegada, o deputado afirmou que em Rio Preto seu nome para ser candidato a prefeito é o do coronel, que disputou em 2022 cadeira na Assembleia Legislativa pelo PL. “Certamente é a pessoa mais próxima que eu tenho. Não é de hoje que coronel Fábio caminha conosco”, afirmou. E chegou a dizer, ainda, que era “cabo eleitoral do coronel”.
Lançado como pré-candidato do PL em 2024 pelo presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, o secretário municipal de Esportes, Fábio Marcondes (PL), também reivindica o apoio do clã Bolsonaro na cidade.
Com Marcondes marcando presença nos eventos da dupla Eduardo e Fábio Candido, o deputado se viu na mesma saia justa que Costa Neto ao tentar aparar as arestas em suas manifestações. Ao fim, jogou para o partido a decisão final, mas também sinalizou que está mais preocupado com nomes do que com partidos. Admitiu que os partidos acabarão lançando mais de um candidato de direita em Rio Preto, mas levou em conta o “bolsonarismo” nesse cenário.
“O ideal é não pulverizar. Mas nem sempre isso vai ser possível. Os candidatos da direita, candidatos do Bolsonaro, são aqueles que defendem a família, são contra a ideologia de gênero, a favor do direito à legítima defesa do cidadão de bem e apoiam a polícia. Não somos só nós que temos este discurso. Lá, no final, não é a bandeira partidária que vai definir este voto", disse o deputado.
Animando a tropa
Ao entrar no Plenário da Câmara para a sessão em que recebeu o Diploma de Gratidão da Cidade de São José do Rio Preto e Medalha 19 de Julho por serviços prestados ao município, o deputado foi recebido pelos convidados que lotaram as galerias e entorno com um coro de “mito”.
“No Brasil, hoje, tem de estar com a bíblia debaixo do braço e usar verde e amarelo para ser preso. Se for traficante de droga, tem muita chance de estar solto”, disse, na Tribuna, com transmissão ao vivo pela TV Câmara.
“Qual grande plano do governo Lula para a saúde? Criação de maternidade não-binária. Estou falando sério. A mulher fez um tratamento hormonal para virar homem, depois engravida e tem de ter um tratamento especial. Aí, falam que nós que somos radicais”, discursou. Na mesma linha, criticou a esquerda que, segundo ele, prioriza o "tratamento hormonal para mudança de sexo aos 14 anos de idade". “Pôxa, dá um tempo, não pode responder criminalmente pelo que faz, mas pode mudar de sexo”, completou.
Eduardo Bolsonaro também defendeu o armamento da população como forma de combater a criminalidade e deixou claro quais os alvos a serem alvejados: a esquerda como um todo, Lula, Janja, a Rede Globo e o STF. Defendeu as igrejas e disse que ele e os seus aliados são perseguidos. Articulado, ressaltou o tempo todo que é preciso manter a união para o País voltar a ser o que era. “Desistir não é uma opção”. “Temos de trazer não só bons nomes, mas que apoiem nossas pautas”, disse.
Democracia
Nos discursos e falas de Eduardo Bolsonaro, os termos democracia e liberdade foram incluídos no bordão “Deus, Pátria e Família”, repetido à exaustão pelos bolsonaristas. “Pessoas que estavam acampadas em frente ao quartel general foram direcionados para a cadeia. Pôxa, pelo amor de Deus. Isso daí é uma ditadura, não tem mais o que falar. O Brasil, não é uma democracia, né? Não tem uma normalidade democrática aqui.”
Outra
Em outra demonstração de preferência pessoal, Eduardo Bolsonaro declarou apoio ao empresário Ricardo Rebelato, em Catanduva. O empresário é filiado ao PSD. No município, o prefeito Osvaldo Rosa, que era do PSDB, migrou para o PL recentemente.
“Além de empresário, é gerador de empregos, dono de clube de tiro, defensor da pauta de legítima defesa. Tem certas pessoas que normalmente não tem interesse político. A gente quer dar satisfação para a população, são pautas que convergem. Independentemente do cargo que ocupem, não permitirão a entrada de ideologia de gênero nesses locais”, declarou sobre o amigo catanduvense.
‘O Republicanos, hoje, é de esquerda’

Eduardo Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira, 11, em Rio Preto, que “o Republicanos, hoje, é um partido de esquerda”. Eduardo fez a afirmação ao responder à pergunta do Diário sobre tratativas do partido, comandado pelo deputado federal Marcos Pereira, no sentido de ingressar no governo Lula (PT).
Nas fileiras do Republicanos estão, entre outros aliados do clã Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que teve o apoio fundamental do ex-presidente para chegar ao Palácio dos Bandeirantes.
Além de impactar fortemente o contexto político nacional, a fala também tem reflexo na disputa pela Prefeitura de Rio Preto, uma vez que outro nome que trafega pela direita é o da secretária estadual de Esportes, Coronel Helena, filiada ao Republicanos.
Na quinta, 10, um dia antes da declaração de Eduardo Bolsonaro, Tarcísio disse que era contra a adesão do Republicanos ao governo Lula e até teria admitido troca de partido caso isso se concretize.
Eduardo disse que considera “lamentável” a posição adotadas pelo Republicanos. “Eu vejo como lamentável e isso coloca o Republicanos em pé de igualdade com partidos de esquerda, é isso que revolta a população”, afirmou.
"Cabe a avaliação de cada um que está dentro do Republicanos. Eu sei que tem uma massa de políticos com mandato ligados à igreja ou que defendem pautas contra o aborto e em defesa da família que estão insatisfeitos, principalmente com posicionamento do Marcos Pereira", complementou o deputado federal.
Reação
Homem de confiança de Marcos Pereira e presidente do Republicanos em Rio Preto, Diego Polachini rebateu as críticas de Eduardo Bolsonaro. Segundo ele, as declarações do deputado têm por objetivo tirar o governador Tarcísio de Freitas do partido.
"O Eduardo e os membros do PL deveriam cuidar do PL. O Republicanos cuida de si próprio, cada um cuida de sua estrutura, de sua história. Eles querem ditar as regras no Republicanos. Isso eles não podem e não vão", afirmou Polachini.
"Eu continuo confiando no Marcos Pereira. Eles julgando uma coisa que nem aconteceu. Transformaram uma ilação numa verdade absoluta. Tachar um outro partido eminentemente conservador como um partido de esquerda foi uma estupidez. O Eduardo falou o que não sabe. Eles têm de se restringir a cuidar do partido deles e deixar que outros partidos cuidem de si próprios", completou.
Sobre um eventual impacto na candidatura da Coronel Helena, Polachini minimizou: "Podem querer atingi-la, mas não vão conseguir”.