Diário da Região
AUDIÊNCIAS PÚBLICAS

Após críticas, Rumo afirma que fez opção 'mais benéfica' sobre contorno ferroviário em Rio Preto

Contorno para tirar trilhos da área urbana de Rio Preto recebeu reclamações de moradores de municípios vizinhos impactados; 158 propriedades serão ‘engolidas’

por Vinícius Marques
Publicado em 07/06/2022 às 00:23Atualizado em 07/06/2022 às 08:26
Audiência pública em Bady Bassitt para discutir novo traçado da linha férrea (Divulgação/Prefeitura de Rio Preto)
Audiência pública em Bady Bassitt para discutir novo traçado da linha férrea (Divulgação/Prefeitura de Rio Preto)
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Após três audiências públicas marcadas por críticas de moradores, prefeitos e vereadores dos municípios que serão impactados pelo contorno ferroviário proposto, a concessionária Rumo Logística afirmou ao Diário que o traçado escolhido foi a alternativa “mais benéfica” para viabilizar a obra. O contorno ferroviário irá tirar as composições das áreas urbanas de Rio Preto e parte de Cedral e Mirassol, com obra avaliada em R$ 694 milhões. O novo traçado passará majoritariamente pelos espaços rurais das duas últimas cidades, mais Bady Bassitt e Nova Aliança.

As audiências fazem parte do projeto de licenciamento que fica a cargo da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). A intenção da concessionária é de conseguir aval para iniciar a obra em 2023 e terminar em 2026.

“Sou proprietário da maior área de onde vai passar a ferrovia. Me sinto muito prejudicado com o que está acontecendo. O trem vai pegar mais de mil metros dentro da minha propriedade”, afirmou Laércio Natal Sparapan, morador de Cedral.

O contorno ferroviário terá 51,9 quilômetros de extensão e irá "engolir” 158 propriedades que serão desapropriadas. As audiências foram realizadas na semana passada em Cedral, Bady Bassitt e Mirassol, as mais atingidas.

"A alternativa levada em consideração no estudo foi a que se comprovou mais benéfica do ponto de vista socioambiental”, afirmou a assessoria da Rumo. "Todas as contribuições trazidas nesta fase estarão inseridas no processo de licenciamento ambiental e serão devidamente analisadas pela concessionária e pelo órgão licenciador. Com relação às desapropriações, a equipe de gestão fundiária já fez uma primeira abordagem com os proprietários e voltará a procurá-los após a emissão da licença prévia (LP), que antecede a licença de instalação (LI), levando em conta eventuais alterações do traçado”, afirma a concessionária.

A coordenadora de licença ambiental da Rumo, Patrícia Ribeiro, disse que foram avaliadas outras opções, como um trajeto ao Norte, perto de Onda Verde, e Central, que manteria o trilho em Rio Preto com obras de melhorias, mas que teriam maior impacto.

O estudo em análise nos órgãos ambientais aponta que o contorno irá passar por 158 propriedades em áreas rurais. Bady Bassitt é o município com maior impacto. Segundo o levantamento, 40,5% das propriedades estão em Bady; 33,5% em Mirassol; 17,1% em Cedral, onde apenas um trecho reduzido cortará espaço urbano, logo no início do novo desenho; 6,3% em Nova Aliança e 2,5% em Rio Preto.

A reclamação de moradores foi geral, inclusive por parte de prefeitos das cidades onde o trem irá passar. Para proprietários das áreas, Rio Preto quer “empurrar” o problema para cidades vizinhas. O prefeito de Rio Preto, Edinho Araújo (MDB), participou das três audiências e foi alvo de queixas em Cedral e em Bady Bassitt. Edinho chegou a dizer que entendia as manifestações, mas que “exaltações” e “gritos” não iriam convencer sobre possível mudança no trajeto.

Ele fez a afirmação na audiência em Bady, a que teve maior participação popular e que registrou o tom mais ácido nas reclamações.

“Não permitiremos que essa linha férrea passe do jeito que está, queremos uma nova opção de trajeto onde a nossa cidade não seja prejudicada tão diretamente como está sendo”, afirmou o prefeito de Bady Bassitt, Luiz Tobardini (PSDB).

“Sou um pequeno produtor rural, trabalho com hortaliça e legumes. Estou há seis anos no local e minha área vai ser atingida em cheio, vou ter perda total”, afirmou Valdemir Barroso, que tem propriedade de 27 mil metros quadrados em Bady, onde o trem irá passar.

Já o prefeito de Mirassol, Edson Ermenegildo (PSDB), disse que novo trajeto ainda irá ocupar trecho do perímetro urbano do município. “Estamos tirando o problema que esta no Centro e levando para um bairro da cidade”, afirmou. Segundo o prefeito, o novo traçado irá passar perto da divisa com Jaci.