Diário da Região
EX-JUIZ

Em livro, Moro se enxerga como um ‘Intocável’

Moro critica ex-presidente Lula e Bolsonaro em autobiografia

por Agência Estado
Publicado em 04/12/2021 às 21:00Atualizado em 04/12/2021 às 21:11
Ex-juiz Sergio Moro defende ainda as ações da Operação Lava Jato, que foram comandadas por ele (Divulgação/Agência Brasil)
Ex-juiz Sergio Moro defende ainda as ações da Operação Lava Jato, que foram comandadas por ele (Divulgação/Agência Brasil)
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Se fosse possível contar a história de Sérgio Moro por meio de uma única cena de seu livro Contra o Sistema da Corrupção, a escolha recairia na que o ex-magistrado se transporta para o filme Os Intocáveis, de Brian de Palma. Ele se vê na pele de Eliot Ness, interpretado por Kevin Costner, quando o agente usa um machado para arrombar um depósito de bebidas ilegais de Al Capone. Seu parceiro, interpretado por Sean Connery, diz: "Se atravessar essa porta, não terá como voltar atrás".

Moro se vê como uma espécie de intocável, alguém que arromba portas em nome de um bem maior: o combate à corrupção. Seu "depósito" foi a audiência em outubro de 2014, na qual interrogou o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. "A audiência foi devastadora. A Lava Jato revelava em todos os seus detalhes o sistema de corrupção que governava o Brasil." Ao fim, disse aos funcionários: "Nada será como antes".

Moro é assim: se vê na pele de Ness, enquanto os críticos enxergam nele um Simão Bacamarte ou um Girolamo Savonarola, personagens da ficção e da vida real que tiveram fins não muito auspiciosos. Em seu livro, defende sua atuação como juiz e como ministro da Justiça das críticas de parcialidade e de conivência com o governo de Jair Bolsonaro, o principal adversário de seu mais famoso réu: Luiz Inácio Lula da Silva.

Também ataca o petista e o presidente, seus concorrentes em 2022. "Vejo atualmente o governo Bolsonaro muito parecido com o governo Lula, especialmente na parte ética." Ele critica o Supremo Tribunal Federal, que o considerou parcial ao julgar Lula. Por fim, quer mostrar que não é uma variante de Bolsonaro e se diz comprometido com a democracia.

O livro não se confunde com as autobiografias de personalidades ou influencers. É obra que busca influir no debate público, como Minha Vida, de Leon Trotsky, ainda que, estética e politicamente, esteja distante do revolucionário russo. Trotsky não escondia de que lado da história estava. Moro quer fazer o leitor crer que não fazia considerações políticas ao tomar suas decisões.

Mas o próprio autor diz: "Este livro é a minha história focada no combate ao sistema da corrupção. Um grupo de policiais, procuradores da República, advogados e juízes, com grande apoio da população e da opinião pública, conseguiu vitórias importantes contra a grande corrupção".

Os críticos diriam que ficou a um passo de atuar como o Ministério Público, a quem cabe recorrer de decisões favoráveis à defesa. Moro filiou-se ao podemos e surge como pré-candidato a presidente.