Ex-número 2 da Abin, Alessandro Moretti está entre indiciados em inquérito pela PF
Relatório da Polícia Federal foi encaminhado ao STF; Moretti, que é delegado da Polícia Federal, se formou em Rio Preto

A Polícia Federal concluiu o inquérito sobre o aparelhamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para a espionagem de opositores durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). O caso é conhecido como “Abin paralela”.
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin, e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL) estão entre os indiciados na investigação. Ao todo, 35 pessoas foram indiciadas.
A investigação também respingou na atual gestão. Constam na lista de indiciados o atual diretor-geral da Abin, o delegado federal Luiz Fernando Corrêa, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e ex-número dois da agência Alessandro Moretti.
Alessandro, que se formou em Rio Preto, é filho do ex-secretário de Governo de Rio Preto, Jair Moretti, que ocupou a secretaria nos últimos dois mandatos do governo de Edinho Araújo (MDB).
Alessandro Moretti era diretor-adjunto e chegou a ser o diretor-geral substituto da agência de inteligência, no final de 2023, até que o Senado sabatinasse Luiz Fernando Corrêa, que também está entre os indiciados. O motivo do indiciamento seria suposta obstrução nas investigações.
O inquérito está segredo de Justiça e o relatório foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal. A reportagem tenta posicionamento de Alessandro Moretti.
Ele deixou o posto de diretor-adjunto em janeiro do ano passado e prestou depoimento na PF sobre a suposta “Abin Paralela” em abril.
Entre 2020 e início de 2023, Moretti ocupou cargos de diretorias da PF no governo de Bolsonaro e também atuou junto ao ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, aliado do ex-presidente, entre 2018 e 2020.
Alessandro Moretti nasceu em Votuporanga e formou-se em Direito em Rio Preto. Ele iniciou como delegado da PF em 1999 e passou por cargos de direção nas cidades de São Paulo e Araquarara, e também no Estado de Minas Gerais. Teve atuação ainda no Superior Tribunal de Justiça.
Em nota divulgada quando foi exonerado da função de diretor-adjunto, Alessandro Moretti afirmou que foi ele quem iniciou as apurações. “Na época como Diretor-Geral em exercício, é que foram iniciados os trabalhos de apuração interna relacionados ao uso de ferramenta [First Mile], com a instauração de sindicância investigativa pela Corregedoria-Geral", divulgou, na época.
Na apuração, há apontamento de que Moretti disse em uma reunião que a investigação apuração no STF teria cunho político e que "logo passaria".
Relatório
A PF aponta que houve "conluio" entre a atual gestão da Abin e a direção anterior para evitar que os monitoramentos ilegais viessem a público. Corrêa é um nome de confiança do PT e já havia chefiado a PF entre 2007 e 2001, durante o segundo mandato de presidencial de Lula.
Desde as investigações, o caso é conhecido como "Abin paralela". A Abin é um órgão destinado à produção de informações estratégicas ao Palácio do Planalto. O inquérito da PF apurou a existência de um núcleo "paralelo", com a estrutura do órgão, para a produção de diligências que atendessem a interesses políticos e pessoais de Jair Bolsonaro e seus familiares. Entre as atividades ilícitas da "Abin paralela", estão espionagens ilegais contra opositores do ex-presidente.
A PF também identificou o uso do aparato paralelo para atividades do "gabinete do ódio", revelado pelo “Estadão” em 2019. O grupo, coordenado por Carlos Bolsonaro, especializou-se em difamar reputações de inimigos políticos de Jair Bolsonaro e disseminar informações falsas nas redes sociais
Segundo a PF, entre os monitorados de forma ilegal, estão os ministros Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-governador de São Paulo João Doria, e os deputados federais Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Maia (União Brasil-RJ), ex-presidentes da Câmara.
Em outubro de 2023, a PF deflagrou a Operação Última Milha, cujo nome faz referência ao software "espião" First Mile, desenvolvido por uma empresa israelense e especializado em rastreio de celulares. Segundo a investigação, o programa foi utilizado 60 mil vezes pela Abin entre 2019 e 2023, com um pico de acessos em 2020, ano de eleições municipais.
Meses depois, em janeiro de 2024, os endereços de Alexandre Ramagem foram alvos de busca e apreensão na Operação Vigilância Aproximada.
Bolsonaro e Ramagem são réus no STF pela tentativa de um golpe de Estado após as eleições de 2022. Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), a Abin foi aparelhada durante a gestão do ex-diretor-geral para a produção de dossiês caluniosos ao sistema eletrônico de votação.