Diário da Região
NA MALÁSIA

Em reunião com Lula, Trump disse que petista foi ‘perseguido’

Trump chegou a afirmar que Lula foi alvo de perseguição e perguntou quanto tempo o presidente ficou preso por condenações da Operação Lava Jato

por Agência Estado
Publicado há 6 horasAtualizado há 3 horas
Trump e Lula conversam durante reunião na Malásia (Ricardo Stuckert/PR)
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Trump e Lula conversam durante reunião na Malásia (Ricardo Stuckert/PR)
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A reunião entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Donald Trump, teve momentos de conversa sobre a vida política do petista e processos judiciais aos quais Lula respondeu. Trump chegou a afirmar que Lula foi alvo de perseguição e perguntou quanto tempo o presidente ficou preso por condenações da Operação Lava Jato. Foram 580 dias. Em outro momento, eles conversaram sobre o julgamento de Jair Bolsonaro.

A reportagem conversou com seis pessoas da equipe do governo brasileiro que estiveram na sala 410 no Centro de Convenções de Kuala Lumpur (KLCC), onde eles debateram temas políticos na tarde deste domingo, 26, por 45 minutos, em privado.

Os relatos revelam interesse no histórico de Lula e algumas passagens que deixaram em integrantes do governo brasileiro uma sensação de alguma “cumplicidade”.

Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a conversa foi “descontraída” e “até alegre”. Trump demonstrou interesse na trajetória de Lula e, de forma geral, e aparentou ter estudado um pouco sobre a carreira dele.

“Trump declarou admirar o perfil da carreira política do presidente Lula, já tendo sido duas vezes presidente da República, tendo sido perseguido no Brasil, se recuperado, provado sua inocência, voltado a se apresentar e, vitoriosamente, conquistado o terceiro mandato”, relatou Vieira.

Segundo outros dois relatos, ambos de autoridades do Planalto, Trump usou o termo “perseguido” para se referir aos processos penais contra Lula. Os dois ainda combinaram de fazer visitas ao Brasil e aos Estados Unidos, em data a ser agendada.

Na parte pública da reunião, Lula quis encerrar a participação da imprensa na conversa, que durou 9 minutos. O petista estava visivelmente incomodado e desconfortável com a sessão. Achou que a interação já durava demais e que estava consumindo tempo que ele queria usar em negociação. Trump assentiu e debochou dizendo as que as perguntas estavam entediantes.

A Presidência da República era contra a presença de jornalistas, mas como os EUA exigiram, defendeu que então deveria haver reciprocidade e a participação dos brasileiros. Houve um tumulto na hora do acesso à sala, porque o serviço secreto americano, que controlava a entrada, quis colocar primeiro os jornalistas credenciados na Casa Branca.

O petista e o americano se sentaram em poltronas estampadas azuis, a um metro de distância, separados por uma mesa com um vaso de flor e dois copos de água com gás. Posaram para uma foto sorrindo, um ativo político do Palácio do Planalto. Para o governo Lula, o saldo foi positivo e houve algum progresso.

Apesar de não terem revertido de imediato ou suspendido as tarifas, Trump deu ordens para que seus secretários se reúnam ainda neste domingo, à noite, em Kuala Lumpur, com a equipe de Lula, dando sentido de urgência ao assunto, como queria o governo brasileiro.

Ajuda na Venezuela

O presidente entregou a ele uma pasta vermelha com o brasão da Presidência da República e elementos da crise política e comercial, com a argumentação do Brasil sobre temas econômicos e políticos.

O documento também cita a disposição de Lula de colaborar como intermediador na crise em relação à ditadura de Nicolás Maduro, na Venezuela. Os americanos reagiram de forma positiva, como já havia indicado o secretário de Estado, Marco Rubio.

Lula recordou que atuou em situação de crise similar durante o governo de Hugo Chávez, e citou o fato de a região ser uma zona de paz, sem conflitos bélicos.

Segundo uma testemunha da conversa, os americanos falaram sobre a operação militar e Trump alegou que Maduro soltava presos para enviar criminosos aos EUA.

Condenação de Jair Bolsonaro

Em frente às câmeras, o republicano foi questionado pela imprensa sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro e respondeu apenas que “sempre gostou dele” e que se entristeceu com a condenação por golpe de Estado, porque ele “passou por muitas coisas”.

Quando um jornalista insitiu para saber se trataria da condenação de Bolsonaro na conversa com Lula, Trump respondeu: “Não é da sua conta”.

“Eu sempre gostei dele, fiquei muito mal com o que aconteceu com ele”, respondeu o americano, sem dizer se desejava tratar do tema. “Sempre achei que ele era um cara honesto, mas ele já passou por muita coisa.”

Em privado, foi Lula quem resgatou o caso do adversário e ex-presidente, para explicar que havia provas robustas e que o caso era julgado de forma independente pelo Judiciário, sendo “injustas” as punições a ministros do Supremo - como a cassação de vistos e de a Lei Magnitsky.