Inércia
Mas é preciso que se faça. Mudanças geram consequências. A terceira lei de Newton, da ação e reação, diz que ‘para toda ação há sempre uma reação’. Cuide de suas ações (e das omissões). Elas sempre darão algum resultado

Segundo a física, um corpo em repouso permanecerá em repouso, a menos que se aplique sobre ele uma força. É a inércia, primeira Lei de Newton. O genial cientista inglês aproveitou um período de quarentena, quando a epidemia de peste bubônica fechou as escolas por meses, para fazer descobertas que mudariam o mundo. A mais famosa, a lei da gravidade. Dizem que, observando uma maçã cair do pé, percebeu que uma força atraía as coisas para o centro da Terra. Voltando à inércia, Isaac Newton percebeu que é preciso uma força para mudar o estado em que se encontra um corpo.
Curiosamente, o comportamento humano também sofre os efeitos da inércia. Um corpo inerte tende a ficar inerte. O sofá que o diga. A combinação sofá-controle remoto mostra-se cada vez mais atrativa. Nem todo mundo aproveitou, como Newton, a quarentena e o isolamento social para fazer novas descobertas. Não, não falo de mudar o mundo. Uma descoberta sobre si mesmo já seria um enorme ganho. Mas a TV com sua infinidade de séries somou-se às dificuldades de sair à rua. O resultado foi a inércia ficar cada vez mais difícil de ser vencida.
Mas inércia não é só ficar parado. A física ensina que é também o movimento uniforme, ou seja, na mesma direção, com a mesma velocidade. No campo humano, é o fazer sempre a mesma coisa. Nem sempre nos damos conta do porquê entramos “no automático”. Um experimento jogou luz sobre comportamentos repetitivos. Cinco macacos numa jaula. No centro, uma escada com uma banana. Quando um deles subia para pegar a fruta, um esguicho molhava os outros. Logo os macacos passaram a impedir que algum subisse a escada. O esguicho foi então retirado. Eles continuaram a repetir a conduta. Um de cada vez, os macacos foram sendo substituídos por outros que nunca tinham tomado o castigo. O novato repetia o comportamento, seguindo os demais. Com o passar do tempo, só havia macacos que nunca tinham sido molhados. Mesmo assim, todos impediam que alguém subisse a escada. Se eles pudessem responder o porquê, diriam: “porque aqui sempre foi assim”.
Temos grande dificuldade em mudar nossa rotina ou alterar comportamentos, mesmo que isso represente ganho pessoal, material ou até espiritual. A inércia nos força a fazer as mesmas coisas, ainda que isso represente prejuízos, desperdício de energia ou de tempo. “Sempre foi assim”, pensamos.
O livro “Quem Mexeu no Meu Queijo”, do inglês Spencer Johnson, fez sucesso anos atrás falando da dificuldade dos ratinhos em mudar de lugar, mesmo percebendo que o queijo estava acabando. De fato, dá trabalho levantar do sofá. Mas viver dá mesmo trabalho. Fazer coisas novas, estar em lugares diferentes, conversar com outras pessoas ou até mesmo fazer as mesmas coisas de forma diferente, tudo isso exige energia. Mas é preciso que se faça. Mudanças geram consequências. A terceira lei de Newton, da ação e reação, diz que “para toda ação há sempre uma reação”. Cuide de suas ações (e das omissões). Elas sempre darão algum resultado.
SÉRGIO CLEMENTINO, Promotor de Justiça em Rio Preto. Escreve quinzenalmente neste espaço às sextas-feiras