Diário da Região
PAINEL DE IDEIAS

A letra do hino

A cidade tem, na verdade, três hinos “oficiais” – assim considerados por um decreto do prefeito Adail Vetorazzo, nos anos 1970. O hino de Giovinazzo e Vianna é, não há dúvidas, o mais popular dos três

por José Luís Rey
Publicado em 18/06/2022 às 16:31Atualizado em 18/06/2022 às 16:44
José Luís Rey (Reprodução)
José Luís Rey (Reprodução)
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Mais alguns dias e nos aproximaremos do aniversário do Município de Rio Preto – a tal da emancipação político-administrativa, comemorada em 19 de julho. É uma rara oportunidade de ouvirmos nas emissoras de rádio e TV um dos hinos oficiais da cidade – o Hino de São José do Rio Preto, cuja letra é do poeta e livreiro Ferdinando Giovinazzo e a música do maestro Deocleciano Vianna. Há alguns anos, acho que na gestão anterior do prefeito Edinho, a Prefeitura patrocinou uma série de inserções com um trechinho do hino. Ainda que tenha faltado informar os nomes dos autores aos telespectadores e ouvintes – muitos deles tomando contato pela primeira vez com aqueles acordes – foi bem bacana aproveitar essas ocasiões para disseminar entre as crianças e os jovens, principalmente, a importância do símbolo, a compreensão do contexto histórico em que foi criado e os traços do justificado ufanismo que embalou a transformação da pequena cidade de importância meramente regional em um expressivo polo de desenvolvimento socioeconômico.

A cidade tem, na verdade, três hinos “oficiais” – assim considerados por um decreto do prefeito Adail Vetorazzo, nos anos 1970. O hino de Giovinazzo e Vianna é, não há dúvidas, o mais popular dos três. Os outros dois foram feitos por Francisco Larosa Sobrinho e por Peppaiane de Pádua. Este último, denominado “Marcha para o Oeste”, carrega evidentes intenções laudatórias ao presidente Getúlio Vargas e a seu projeto de ocupar e desenvolver o interior do Brasil.

Não ocorre apenas em relação aos hinos rio-pretenses, mas a verdade é que muito pouca gente dá bola para hinos de um modo geral, exceções feitas ao Hino Nacional – cuja letra enorme e gongórica acaba se impondo pelo exercício de repetição na época de escola – e ao Hino do Corinthians. Talvez haja outra honrosa exceção no poder da fé dos hinos evangélicos.

Há alguns anos, no início de uma dessas últimas campanhas eleitorais municipais, o professor Manoel Antunes, então candidato a prefeito, fez uma exigência à equipe que cuidaria de seus programas de TV no horário eleitoral gratuito:

- Eu quero que o primeiro programa seja aberto pelo Hino Nacional e pelo Hino de Rio Preto!

Jornalistas, diretores de TV e demais palpiteiros entreolharam-se e um silêncio impôs-se durante alguns segundos, até que alguém perguntou:

- Hino de Rio Preto, é? Existe isso?

- Claro que existe – apressou-se a responder o responsável pela direção do programa.

- Ah é? E como é a letra? Você pode cantar um pedacinho?

- Eu não, o único que conhece a letra é o professor Manoel. Vamos ter que perguntar a ele…

JOSÉ LUÍS REY, Jornalista em Rio Preto. Escreve quinzenalmente neste espaço aos domingos