Copinha
Gosto muito de futebol, tanto que escrevi um livro sobre meu time do coração: o Corinthians. Dei a ele o título de Coração Insano: Crônicas corintianas. E nessa vibe, não poderia deixar de ver os jogos da Copinha, aliás, muito melhores do que os da liga principal.
A Copinha é o retrato do Brasil. Do Brasil da desigualdade obscena, que cresce a olhos vistos e de forma tão acelerada, dramaticamente cruel e vergonhosa, mas “invisível “para aqueles que têm a obrigação pelos cargos que ocupam, de criarem condições para uma distribuição de renda justa e igualitária. Resume as mazelas do país. São os invisíveis que se tornam visíveis, por alguns segundos, para novamente retornarem ao limbo social.
Emociona-me ouvir e ver garotos contando sobre suas origens e consequentes dificuldades, de forma tão ingênua e doce. E Deus sempre em primeiro lugar, como se fosse ele o responsável pelas dificuldades e pelo talento e oportunidade de estarem jogando bem, fazendo gols e contando suas histórias. Encantadora inocência.
Muitos deles, até sem chuteiras para jogar, viajando dois, três dias ou mais, de ônibus para chegarem a São Paulo, vitrine para desconhecidos talentos. Se prestarmos atenção, não só a Copinha, mas o futebol especialmente, desnuda as diferenças e a origem dos ídolos no espectro da vulnerabilidade social.
E os apelidos? Muito interessantes e quase sempre ligados à condição de extrema pobreza dos jogadores. Vou citar um, para exemplificar: Patatti.
Vi a entrevista dele, contando que tinha muito orgulho do apelido, pois morava no Maranhão e como não tinha dinheiro para comprar chuteiras, pedia emprestado aos atletas mais velhos e obviamente, as chuteiras eram maiores que seus pés e estes lembravam a de um palhaço: daí o apelido de Patatti .
Ele tem seus motivos para se orgulhar e eu tenho os meus para me envergonhar. Envergonhar-me no lugar de quem deveria proporcionar através da educação, o esporte; envergonhar-me por uns terem tanto e a maioria, passar até fome. Não ter chuteiras é um dos símbolos da miséria e resistência do povo brasileiro.
Contrariando Nelson Rodrigues, eu diria: a pátria dos sem chuteiras e envergonhar-me disso também!
Merli Diniz, Rio Preto
Diretrizes
Apesar de estarmos enfrentando o terceiro ano da pandemia que resultou em 23.751.782 casos de Covid-19 e 622.563 óbitos até 22 de janeiro de 2022, ainda não contamos com diretrizes nacionais para o tratamento ambulatorial do paciente com Covid-19. Diretrizes nacionais são fundamentais para o uso correto de recursos e têm importante impacto na qualidade do atendimento, morbidade e letalidade dos pacientes com doenças infecciosas, especialmente durante pandemias.
Adicionalmente, as diretrizes nacionais têm uma função pedagógica nos médicos, nos meios de comunicação, e na população em geral, uma vez que norteiam o uso racional de medicamentos e contribuem para evitar o uso desnecessário de outros sem eficácia comprovada.
A proposta das Diretrizes Brasileiras para Tratamento Medicamentoso do Paciente com Covid-19 a ser incorporada pelo SUS, foi escrita por um grupo de mais de 100 especialistas, composto por professores e pesquisadores indicados por associações médicas (Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva, Sociedade Brasileira de Pneumologia e outras) e pela academia. Esse grupo nomeado pelo Ministério da Saúde utilizou todas as normas éticas e os estudos científicos disponíveis que foram atualizados e classificados baseados no grau de evidências científicas para embasar as diretrizes, e trabalhou com afinco desde abril de 2021.
Apesar da premência de dispormos no país de diretrizes nacionais para tratamento medicamentoso ambulatorial do paciente com Covid-19, apenas em novembro de 2021 as diretrizes foram aprovadas pela Conitec, que, entretanto, indicou que as diretrizes fossem submetidas à consulta pública.
Surpreendentemente, a Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde não aprovou as diretrizes argumentando, dentre outras justificativas, que: “há incerteza e incipiência do cenário científico diante de uma doença em grande parte desconhecida”.
Nos causa indignação a decisão da decisão que questiona, sumariamente, o trabalho e recomendações do grupo composto por especialistas altamente capacitados, éticos e respeitados pela comunidade científica, que representam importantes sociedades médicas e instituições acadêmicas. Mais do que isso, causa-nos horror que se siga aberta a possibilidade de utilização de medicamentos reconhecidamente ineficazes pelo mundo científico, colocando em risco a saúde e a vida dos brasileiros. Nosso juramento profissional como médicos, especialistas em Infectologia, obrigações morais e nossa obediência às leis apontam que nos calar contra tal atitude, nos torna coniventes com ações irresponsáveis que coloca em risco a vida de milhares de brasileiros.
Fica nosso alerta! Insistimos, deixar em aberto, sem repelir com veemência o uso de terapias comprovadamente ineficazes, dá a falsa, e potencialmente letal, sensação de segurança à população e que de boa-fé, respeita seus governantes.
Diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia
Faixa
Na matéria do Diário da última sexta-feira, 21, sobre a faixa da Vila União ameaçando motoqueiros que fazem barulho e empinam suas motos, independente do autor, cria uma sensação de que a entidade estado perdeu o controle da situação e a população já não aguenta mais. E o pior e mais doloroso é que se o autor da faixa for de fato o PCC, desmoraliza ainda mais o estado, que tem que contar diretamente com uma facção criminosa para manter a ordem.
Eu gostaria de convidar as autoridades, tv e jornal Diário da Região a ficarem um dia inteiro no meu local de trabalho e tentarem assimilar o sentimento causado pelas inúmeras motocicletas que passam acelerando e fazendo barulho. Ou melhor, fiquem um dia inteiro nos principais cruzamentos da nossa cidade.
Erasmo Dantas, Rio Preto