Diário da Região
ARTIGO

Telemedicina – você usou?

Ações e boas intensões que levem ao fortalecimento da saúde são louváveis, sempre

por Felipe Guedes
Publicado em 13/06/2022 às 23:11Atualizado em 13/06/2022 às 23:24
Felipe Guedes (Reprodução)
Felipe Guedes (Reprodução)
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Uma das novidades mais marcantes durante a pandemia do coronavírus foi o uso e a liberação da telemedicina para todas as especialidades médicas. Em Rio Preto, a prática foi ainda mais divulgada durante a pandemia dupla de Covid e gripe que marcou o início do ano.

Com a medida do Governo Federal que desde o dia 22 de Maio acaba com o estado de emergência da Covid em todo o país fica a pergunta: "Como fica a Telemedicina, ela permanece?”. E você, usou a telemedicina, ela ajudou você?

Se considerada uma forma inteligente para manter tratamentos em andamento e até novas consultas nos períodos mais tensos dos últimos dois anos, a telemedicina de fato ajudou e veio para agregar, diminuindo idas aos consultórios e ambulatórios com medidas remotas e também ao aproximar médicos que trocaram experiências de casos mais complexos podendo mostrar os exames já realizados e passar sua percepção ao olhar e avaliar o paciente.

Por outro lado existem várias áreas da medicina e situações clínicas em que a teleconsulta não é suficiente. Perde-se ainda muita informação com a ausência do exame físico, por exemplo, ainda que existam protocolos validados e alguns recursos tecnológicos para isso. Mas a maior perda, de fato, é negligenciar a relação médico-paciente que é a base da medicina mais humana, mais próxima e com resultados que extrapolam as prescrições médicas.

Cuidado maior deve-se observar em relação a atenção pública, no atendimento primário. O louvável esforço de prefeituras nos momentos de pandemia e epidemias generalizadas mas parte da população ainda sofre por falta de diagnósticos básicos. Os entraves e burocratizações criados pelo poder público não podem ser usados para pedir soluções externas. Uma reforma administrativa no setor já ajudaria muitas famílias e paciente que circulam pelo Sistema Único de Saúde.

Tramita no Senado uma lei que busca a aprovação definitiva desta prática no Brasil e este projeto deve ser visto com cuidado, cautela e interrogações. Com a ascensão cada vez maior de players de saúde ocupando espaços públicos e privados, corre-se o risco da “venda” desta prática como único recurso em várias áreas, mitigando a presença de um médico em frente ao paciente e ampliando assim ganhos financeiros para as redes que mais apoiam e apostam neste tipo de mercado localizadas em grandes centros e rumando a medicina cada vez mais à sua mercantilização.

Ações e boas intensões que levem ao fortalecimento da saúde são louváveis, sempre, mas mesmo a melhor das boas intensões deve ser analisada com clareza a fim de evitar que escondam direcionamentos, privilégios ou dificuldades ao bem mais precioso de todos, a saúde.

O Projeto de Lei 1998/20, já aprovado na Câmara dos Deputados, merece ser analisado por toda a classe médica. À medicina, mais do que tratar as dores, é necessário descobrir suas causas reais e trabalhar sobre elas. Apenas o contato real entre médico e paciente pode ser capaz de resolver esta equação.

Felipe Guedes, Médico patologista