Diário da Região
ARTIGO

Policiais não comem viaturas

Não temos o costume de comer viaturas, armas, munição e pistolas; precisamos é de dinheiro

por Luiz Gustavo Toaldo Pistori
Publicado em 19/10/2021 às 23:41Atualizado em 19/10/2021 às 23:43
Luiz Gustavo Toaldo Pistori (Luiz Gustavo Toaldo Pistori)
Luiz Gustavo Toaldo Pistori (Luiz Gustavo Toaldo Pistori)
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Na sexta-feira da semana passada, 15, policiais das forças de segurança do Estado (polícias Militar, Civil, Técnico-Científica e Penal) reuniram-se nas proximidades do quartel da ROTA, em São Paulo, para protestar contra a política salarial do governo Doria. O protesto, organizado pelo deputado estadual Major Mecca (PSL), foi o primeiro de uma série programada até dezembro. “Nós já passamos do limite do suportável”, justificou o deputado.

De fato, a situação, além de insuportável, deveria provocar vergonha àquele que se denomina “gestor” em São Paulo. Estamos beirando a linha da pobreza, faltando só um pouquinho para atingir a faixa de brasileiros de baixa renda, aqueles que são obrigados a se socorrer aos programas sociais do governo federal para sobreviver. É lamentável que isso aconteça no maior Estado da Federação, que gera quase 40% do PIB nacional.

O “gestor” disse, repetidas vezes, que a polícia de São Paulo será a mais bem-remunerada do País, ficando abaixo somente das polícias do Distrito Federal. Qual! Já no seu terceiro ano de mandato – e lutando para ser indicado pelo seu partido candidato à presidência da República no ano que vem (o que significa abandonar o governo daqui a alguns meses) – promoveu um reajuste de 5% no início de 2019, o que para nós não passou de um deboche.

Meses atrás, ao mandar para a Assembleia Legislativa as linhas do orçamento para o ano que vem, que deverá apresentar no próximo mês, não previu um centavo sequer de reajuste para o funcionalismo público. Para completar, do enorme superávit alardeado pelo seu secretário da Fazenda, Henrique Meirelles, nada será destinado à remuneração. De polícia mais bem-remunerada do País, terminaremos o ano sendo a mais mal-paga. É questão de dias.

Quando fala em Segurança Pública, o “gestor” e seus subordinados, dentre eles o general-secretário João Camilo Pires de Campos, apresentam enorme lista de investimentos: viaturas blindadas, armamento pesado, material de inteligência, munição e pistolas modernas. Acontece que nós, policiais do Estado de São Paulo, não temos o costume de comer viaturas, armas, munição e pistolas. Precisamos é de dinheiro mesmo, só isso.

Este cenário, pelo menos, favoreceu a inédita união das forças de segurança – desde sempre divididas por obra e graça dos governos, que são favorecidos com as “brigas” corporativistas. Policiais militares, civis, técnico-científicos e penais, e suas associações e sindicatos, deram-se as mãos para brigar por aquilo que lhes é de direito: a justa paga por serviços prestados que servem de exemplo para todas as outras polícias do País.

Desta vez, para infelicidade do “gestor”, seguiremos de mãos dadas exigindo aquilo que é nosso. Não há mais o que negociar. Não há mais como suportar tal situação. Os próximos atos serão muito mais expressivos que este de sexta-feira passada. É um aviso para o “gestor” que quer ser presidente da República. Num passado não muito remoto, seu padrinho político traído seguiu pelo mesmo caminho. Foi um fiasco na eleição presidencial.

Luiz Gustavo Toaldo Pistori, Cel PM e presidente da Defenda PM – Associação de Oficiais Militares do Estado de São Paulo em Defesa da Polícia Militar