Não quero ser padre
O padre é o “operário” de uma messe que se torna cada vez mais desafiadora

Nos dias 22 e 29 de julho, nas cidades de Mirassol e Uchoa, o bispo diocesano de São José do Rio Preto, Dom Antonio Emidio Vilar, sdb, presidiu suas primeiras Ordenações Presbiterais no Noroeste Paulista. A “messe do Senhor” ganhou novos trabalhadores: os padres Paulo Henrique de Castro e Fernando Renato Salzillo Pereira. Nas ocasiões, o epíscopo sublinhou um pensamento de São João Bosco ao recordar que “quando um filho deixa o lar para obedecer à vocação, Jesus ocupa seu lugar na família”.
Hoje, 4 de agosto, é Dia do Padre. A data faz referência a São João Maria Vianney. Conhecido como “Cura d’Ars”, seguiu analfabeto por grande parte da adolescência. Ainda assim (e graças à sua mãe) recitava muitas orações de cor. Manifestada a vocação, superou muitas limitações intelectuais antes de ser ordenado. No exercício do Ministério Presbiteral, tornou-se um grande conselheiro; um confessor dedicado que chegava a ocupar o confessionário por mais de 16 horas diárias. Morreu em 4 de agosto de 1859. Tamanha a importância do seu testemunho, 150 anos após sua morte, em 2009, o então Papa Bento XVI proclamou o “Ano Sacerdotal” para “evocar com ternura e gratidão o dom imenso que são os sacerdotes não só para a Igreja, mas, também, para a própria humanidade”, escreveu o Pontífice à época.
Vivido tão rico momento, é certo, os padres não são frequentemente valorizados. Consideradas realidades distintas, esse valor pode ser graduado de muitas maneiras: em uma Comunidade Amazônica, isolada, a presença do presbítero algumas poucas vezes no ano é festejada na alegria de um grande acontecimento. Nos centros urbanos, onde de pouco em pouco existe uma Paróquia, os sacerdotes podem ser até “descartados” na cômoda certeza de que bem perto se possa encontrar um orientador espiritual mais conformado aos pensamentos particulares de quem faz da crítica um instrumento e da oração pelo presbítero uma exceção.
Para dimensionar a importância de um padre, proponho um exercício: se aproxime de alguém que, na condição de “ovelha perdida”, tenha sido acolhido. Pergunte qual a sensação ao perceber-se resgatado. Essa pessoa testemunhará a graça que é ter um “Bom Pastor” por perto. Ao concluir esse convite à reflexão, recordo, ainda, os tempos vividos no trânsito da pandemia: enquanto corpos doentes eram confiados aos médicos, muitas “almas machucadas” encontraram “remédio” nas palavras dos presbíteros.
Ser padre não é um “querer”, mas um chamado: “eu não quero ser padre”; por primeiro, é Deus quem o quer (uma vez que é Ele quem escolhe, chama e consagra). O Presbiterado, longe de ser profissão, é missão. O padre, porém, é o “operário” de uma messe que se torna cada vez mais desafiadora ao passo que a humanidade se entende autossuficiente. Seu verdadeiro pagamento? A oração do povo fiel.
Reconheço dificuldade para traduzir em palavras a importância de um presbítero. São João Maria Vianney se apresenta, mais uma vez, providencial: “O padre não é para si. Não dá a si a absolvição. Não administra a si os sacramentos. Ele não é para si, é para vós. O Sacerdote é o amor do Coração de Jesus. Quando virdes o padre, pensai em Nosso Senhor Jesus Cristo.”
André Botelho, Jornalista