Diário da Região
ARTIGO

Engenharia do clima

Atualmente reconhece-se que modelar o clima é o problema mais complexo que existe

por José Mário Ferreira de Andrade
Publicado em 03/12/2021 às 00:01Atualizado em 03/12/2021 às 00:23
José Mário Ferreira de Andrade (José Mário Ferreira de Andrade)
José Mário Ferreira de Andrade (José Mário Ferreira de Andrade)
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Hoje é o dia do(a) Engenheiro(a)! O (a) engenheiro(a) é o profissional da área tecnológica que resolve problemas práticos, como projetar e construir uma residência, implantar uma rodovia, um loteamento. O nosso trabalho exige um pensamento linear, mas sistêmico: primeiro surge o problema, depois reúnem-se as variáveis, a seguir formulam-se as hipóteses e equacionam-se as variáveis para se obter as soluções e concretizar a obra. É assim, por exemplo, ao construirmos uma residência.

Mas há problemas muito mais complexos, como as mudanças climáticas. Os físicos e os químicos primeiro precisam compreender os processos da Atmosfera e os fatores intervenientes (radiação solar, temperatura, ventos, os oceanos, a poluição do ar por partículas, os fenômenos naturais, a intervenção humana, os gases de efeito estufa e por aí afora). Como o comportamento do clima é errático, não linear e muitas vezes os fatores intervenientes retroalimentam os efeitos e potencializam as consequências, – atualmente reconhece-se que modelar o clima é o problema mais complexo que existe.

Os climatologistas investigam o clima do passado (palioclima), das eras glaciais, para tecer modelos que consigam minimamente construir cenários para um clima do futuro. Há consenso de que o aquecimento é uma tendência irrefutável e que os eventos meteorológicos extremos, como ondas de calor e de frio, estiagens e chuvas intensas podem acontecer frequentemente. E o que fazer?

Na situação local de São José do Rio Preto, temperatura média anual de 25,2ºC, (uma das mais altas do estado de São Paulo), temperatura máxima em 2021 de 40,7ºC, 112 dias sem chuvas, umidade relativa do ar mínima de 7%, episódios de tempestades de areia e de queimadas incontroláveis, altíssimos níveis de poluição do ar, - é de se perguntar: como a Engenharia está enfrentando essas alterações climáticas?

As obras anti-enchentes são o exemplo mais evidente de que a engenharia do clima está presente na nossa cidade. Os piscinões (inclusive dos novos loteamentos), os canais do rio Preto, da avenida Bady Bassitt, são obras que pensadas havia mais de 30 anos, agora se consolidaram e conseguem suportar precipitações de 90 mm (90 litros de água por metro quadrado) em uma hora. Essa intensidade de chuva ocorria no passado de 100 em 100 anos. Agora, é possível que se repitam de cinco em cinco anos. Ainda são necessárias outras intervenções como na avenida Murchid Homsi. Mas percebe-se que Rio Preto avançou, como praticamente nenhuma outra cidade do interior do Brasil, em um programa de obras eficazes em adaptar o centro da cidade às alterações climáticas, no caso precipitações muito intensas.

Outra adaptação climática que poucas pessoas reconhecem é o serviço de triagem, reciclagem e de compostagem de resíduos sólidos domiciliares (aproximadamente 600 toneladas por dia) que desde 1989 a cidade executa. Não há no Brasil nenhum outro tratamento de resíduos sólidos domiciliares desse porte. Ao se reciclar 40 toneladas dia de plásticos, papeis e metais e também ao se produzir 100 t/dia de composto orgânico, milhares de toneladas de gases de efeito estufa são evitados.

O saudoso engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, então prefeito de São Paulo, afirmava que a próxima enchente está sempre por vir. Em outras palavras, os eventos climáticos extremos podem ocorrer, mas a engenharia precisa colocar em prática soluções que permitam à população adaptar-se às alterações climáticas que inexoravelmente ocorrerão cada vez mais.

José Mário Ferreira de Andrade, Engenheiro civil e sanitarista