Diário da Região
ARTIGO

Decifrando ברוך דיין האמת: זכרונו לברכה, carta II

O poema inicia com um verso que carrega uma grande carga emocional e histórica

por ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury
Publicado em 13/11/2024 às 23:32Atualizado em 14/11/2024 às 07:13
ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Divulgação)
ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Divulgação)
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Dando sequência na explicação que foi iniciada anteriormente, disserto sobre meu poema, onde o título combina duas expressões hebraicas: Barukh Dayan haEmet, bênção judaica que significa Bendito seja o Verdadeiro Juiz, tradicionalmente recitada ao receber a notícia do falecimento de alguém, em reconhecimento da soberania divina sobre a vida e a morte; e Zichrono Livrakhah, que significa Que sua memória seja uma bênção, expressão de condolência e respeito que exalta a memória dos justos.

O título, portanto, tem um peso simbólico que transcende o luto pessoal para se integrar em uma dimensão coletiva de reverência aos antepassados, preparando o leitor para uma reflexão profunda sobre a morte, a justiça divina e a memória dos que partiram.

O poema inicia com um verso que carrega uma grande carga emocional e histórica: Neste solo repousam imigrantes. O uso do termo imigrantes remete imediatamente ao conceito de diáspora e às incontáveis experiências de migração que marcaram a história, não apenas dos povos semíticos que habitam o Crescente Fértil do antigo Oriente Próximo desde eras imemoriais — dos quais sou descendente —, mas de outras populações que foram forçadas a migrar para uma terra estrangeira que falava um idioma estranho aos seus ouvidos. Essas e as palavras que seguem, que, em tempos sombrios, buscaram a tão almejada paz, foram cuidadosamente escolhidas com o objetivo de, com a figura do imigrante, convocar um sentido de universalidade e coletividade, pois não se trata de um indivíduo isolado, mas de um grupo que partilha de uma experiência comum de deslocamento e busca por segurança. Por não mencionar períodos específicos, permite-se ao leitor interpretar a menção conforme seu conhecimento e suas próprias associações históricas, criando, assim, uma narrativa atemporal em que qualquer pessoa que compartilhe uma memória coletiva de exílio e sofrimento possa se identificar.

A estrofe seguinte traz uma imagem forte e simbólica como recurso de personificação na passagem inevitável dos dias, alheia ao nosso alvedrio: No silencioso oscilar do pêndulo, que marca o compasso do tempo, carregando uma quietude respeitosa, um silêncio reverente que se alinha com a solenidade do poema e simboliza, metaforicamente, a fragilidade e a efemeridade da vida humana diante do tempo e desses ciclos divinamente ordenados em movimentos contínuos e inevitáveis, os quais podem ser detidos apenas pelo próprio Relojoeiro, O Grande Arquiteto que projetou o Universo. E será a partir daqui que continuarei minha próxima carta.

ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Shlomo ben’Esav ibn-Ismail), Artesão das Artes Plásticas, escultor, desenhista heráldico, ilustrador e poeta