Decifrando ברוך דיין האמת: זכרונו לברכה, carta I
Apresento as características de 5 categorias da tradição poética, literária e litúrgica judaica

Em resposta aos pedidos dos leitores para uma explicação do meu poema — publicado na edição nº 918 de 3 de novembro na Revista Bem-estar do Diário da Região — vos escrevo. Devido ao limite de caracteres e à complexidade das explicações, dividirei a resposta em quatro partes, a serem publicadas em dias diferentes.
Sou Guilherme Vinhatico Cury, judeu, rio-pretense e bisneto de refugiados que buscaram asilo no Brasil. Por ser filho de mãe judia (de linhagem sefaradim e origem bnei-anussim) e de pai árabe (de origem libanesa maronita), recebi o nome judaico Shlomo ben’Esav ibn-Ismail, que aponta minha herança semítica. No entanto, alguns de vocês me conhecem pelo nome artístico ODAMIM, o qual compartilho com minha esposa, a também artista plástica Regiane Silva Cury.
Explicado a tríplice assinatura, vamos ao poema Barukh Dayan haEmet: Zichrono Livrakhah:
Neste solo repousam imigrantes
que, em tempos sombrios,
buscaram a tão almejada paz.
No silencioso oscilar do pêndulo,
que marca o compasso do tempo,
suas sementes, que usufruem dessa paz,
zelam por eles e mantêm intactas/as suas memórias,
apesar da brevidade dos dias.
Se eu me esquecer deles,
que Os Céus se esqueçam de mim.
Benditos àqueles que aqui/descansam.
Pela elevação da alma de TAV"deM,
minha amada tia Eza,
possuidora de uma alma pura,
que, desde o 7º dia do 1º e 7º mês
do ano 5785 da criação do mundo,
repousa no profundo sono da morte.
A memória de uma justa seja uma bênção,
e sobre ela, a paz.
Amen v’Amen!
Somada com a assinatura poética que revive o estilo literário judaico Melitzah dos Maskilim do movimento da Haskalá, aprendido por meio da tradição, apresento, neste poema de 5 estrofes, a reunião das características de 5 categorias da tradição poética, literária e litúrgica judaica: Qináh (lamento), como um poema de luto que homenageia a memória dos entes queridos falecidos, mantendo o tom solene e reflexivo característico de uma elegia, com a presença de metáforas relacionadas à morte. Piyut (poesia), devido ao uso de linguagem cabalística com dedicatória litúrgica que eleva a sofisticação estilística. Selicháh (súplica), por suplicar pelo reconhecimento divino em favor de uma pessoa justa. Tiqun (reparação), como pedido de elevação espiritual, como parte do rito destinado a ajudar a alma a alcançar um estado de paz e bênção. E, Zichron (recordação), por invocar uma bênção à memória perpétua, preservando a conexão com os ancestrais.
Na próxima carta darei continuidade em minha explicação sobre esse profundo e místico poema, auxiliando os leitores a compreenderem os recursos estilísticos, linguísticos e culturais os quais utilizei.
ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Shlomo ben’Esav ibn-Ismail), Artesão das Artes Plásticas, escultor, desenhista heráldico, ilustrador e poeta