Diário da Região
ARTIGO

Decifrando ברוך דיין האמת: זכרונו לברכה, carta I

Apresento as características de 5 categorias da tradição poética, literária e litúrgica judaica

por ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury
Publicado em 07/11/2024 às 00:14Atualizado em 07/11/2024 às 08:09
ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Divulgação)
ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Divulgação)
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Em resposta aos pedidos dos leitores para uma explicação do meu poema — publicado na edição nº 918 de 3 de novembro na Revista Bem-estar do Diário da Região — vos escrevo. Devido ao limite de caracteres e à complexidade das explicações, dividirei a resposta em quatro partes, a serem publicadas em dias diferentes.

Sou Guilherme Vinhatico Cury, judeu, rio-pretense e bisneto de refugiados que buscaram asilo no Brasil. Por ser filho de mãe judia (de linhagem sefaradim e origem bnei-anussim) e de pai árabe (de origem libanesa maronita), recebi o nome judaico Shlomo ben’Esav ibn-Ismail, que aponta minha herança semítica. No entanto, alguns de vocês me conhecem pelo nome artístico ODAMIM, o qual compartilho com minha esposa, a também artista plástica Regiane Silva Cury.

Explicado a tríplice assinatura, vamos ao poema Barukh Dayan haEmet: Zichrono Livrakhah:

Neste solo repousam imigrantes

que, em tempos sombrios,

buscaram a tão almejada paz.

No silencioso oscilar do pêndulo,

que marca o compasso do tempo,

suas sementes, que usufruem dessa paz,

zelam por eles e mantêm intactas/as suas memórias,

apesar da brevidade dos dias.

Se eu me esquecer deles,

que Os Céus se esqueçam de mim.

Benditos àqueles que aqui/descansam.

Pela elevação da alma de TAV"deM,

minha amada tia Eza,

possuidora de uma alma pura,

que, desde o 7º dia do 1º e 7º mês

do ano 5785 da criação do mundo,

repousa no profundo sono da morte.

A memória de uma justa seja uma bênção,

e sobre ela, a paz.

Amen v’Amen!

Somada com a assinatura poética que revive o estilo literário judaico Melitzah dos Maskilim do movimento da Haskalá, aprendido por meio da tradição, apresento, neste poema de 5 estrofes, a reunião das características de 5 categorias da tradição poética, literária e litúrgica judaica: Qináh (lamento), como um poema de luto que homenageia a memória dos entes queridos falecidos, mantendo o tom solene e reflexivo característico de uma elegia, com a presença de metáforas relacionadas à morte. Piyut (poesia), devido ao uso de linguagem cabalística com dedicatória litúrgica que eleva a sofisticação estilística. Selicháh (súplica), por suplicar pelo reconhecimento divino em favor de uma pessoa justa. Tiqun (reparação), como pedido de elevação espiritual, como parte do rito destinado a ajudar a alma a alcançar um estado de paz e bênção. E, Zichron (recordação), por invocar uma bênção à memória perpétua, preservando a conexão com os ancestrais.

Na próxima carta darei continuidade em minha explicação sobre esse profundo e místico poema, auxiliando os leitores a compreenderem os recursos estilísticos, linguísticos e culturais os quais utilizei.

ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Shlomo ben’Esav ibn-Ismail),  Artesão das Artes Plásticas, escultor, desenhista heráldico, ilustrador e poeta