Coincidências
Há quem diga que Einstein e Hawking não seriam deste mundo. E talvez não fossem mesmo

O dia 8 de janeiro remete a algumas coincidências impressionantes (‘sincronicidades’, no sentido junguiano), relacionadas à passagem, pela Terra, de quatro dos maiores gênios da história da ciência: Galileu Galilei (1564-1642), Isaac Newton (1643-1727), Albert Einstein (1879-1955) e Stephen Hawking (1942-2018). Antes de falar a respeito, porém, como curiosidade, seguem brevíssimas notas acerca do legado de cada um desses gigantes.
Galileu. Matemático, físico, astrônomo e filósofo, ícone da Revolução Científica. “Pai” da astronomia observacional e da astrofísica moderna. Aos 70 anos foi condenado pela Inquisição a abjurar suas descobertas e a permanecer em prisão domiciliar pelo resto da vida.
Newton. Matemático, físico, astrônomo e filósofo. Um dos cientistas mais influentes de todos os tempos. Sua teoria clássica da gravitação universal e do modelo mecanicista do Universo sustentou por dois séculos a compreensão que se tinha das forças da natureza.
Einstein. Físico teórico, conhecido como uma das mentes mais brilhantes da história da ciência. Mudou os paradigmas da física com sua Teoria da Relatividade e o entendimento sobre conceitos como o de espaço, tempo, gravidade, buracos negros e expansão do Universo.
Hawking. Físico teórico e cosmólogo. Um dos mais influentes cientistas do mundo, com contribuições revolucionárias acerca de temas como Big Bang, buracos negros, Teoria de Tudo e universos paralelos (“multiversos”, na linguagem preferida dos amantes da ficção científica – e de meu neto de 5 anos!).
Prosseguindo, chama a atenção as coincidências relacionadas às datas de nascimento e morte de três deles. Hawking nasceu no dia 8/1/1942, data que correspondente ao aniversário de 300 anos da morte de Galileu (ocorrida em 08/01/1642). E morreu no dia 14/3/2018, data correspondente ao dia de nascimento de Einstein, ocorrido em 14/3/1879; ambos morreram aos 76 anos de vida. Além disso, Hawking assumiu, na mesma reputadíssima Universidade de Cambridge (UK), o cargo de titular da cadeira de Matemática que fora ocupada justamente por Isaac Newton.
Essas coincidências, porém, não contemplam o que há de mais surpreendente nessa história, até porque as chamadas “coincidências numéricas” não são raras. (Uma das mais citadas remete a dois ilustres vultos da política norte-americana, Abraham Lincoln e John F. Kennedy, assassinados durante seus mandatos como presidentes dos EUA.)
De fato, mais do que a inusitada associação das datas, no presente caso, chama a atenção outra extraordinária coincidência: a íntima relação entre o objeto, a natureza e os resultados das investigações científicas dos nossos personagens, flagrante e admiravelmente voltadas para a compreensão das leis fundamentais que regem o Universo. Por isso, há quem diga, “eles não seriam deste mundo”. Talvez não fossem mesmo...
A propósito, conta-se que certa feita perguntaram a Einstein: “E se ficasse provado que a Teoria da Relatividade estava errada?”. Ele teria respondido: “Sentiria pena do nosso bom Deus. A teoria está correta”. Newton, por sua vez, quando lembrado que seus cálculos não explicavam satisfatoriamente a harmonia das órbitas dos planetas, não tinha pejo: “Estão corretos. Deus é que intervém periodicamente, a fim de evitar o caos no sistema solar”.
Eurípides A. Silvam, Mestre e doutor em Matemática pela USP; aposentado pelo Ibilce, campus da Unesp de Rio Preto