Diário da Região
ARTIGO

Ao médico, a defesa

Não se pode desviar funções sob o risco de comprometer o atendimento e serviço prestado

por Felipe Guedes
Publicado em 04/07/2022 às 22:35Atualizado em 04/07/2022 às 22:57
Felipe Guedes (Reprodução)
Felipe Guedes (Reprodução)
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“....ao exercer a profissão, ser fiel aos preceitos da honestidade...”. Esta frase faz parte do juramento que nós, médicos, firmamos em nossa colação de grau, momento em que abraçamos definitivamente a profissão, vocação e atividade profissional. Ao médico é dada a responsabilidade da saúde e bem estar, do cuidar e disseminar cuidados, sendo um dos elementos mais importantes para a ordem de todo a sociedade por ser ele o promotor e defensor da saúde, contudo, cabe a pergunta, ao médico, quem defende?

Imputado a esta classe o dever do saber universal muitas vezes além de sua própria área de atuação, ao médico cabe a cobrança histórica e, raramente, o olhar para esta categoria como uma atividade profissional com capacidades e posicionamentos claros, entre eles, horários a cumprir e quando fazê-lo.

Recentemente, em Rio Preto, o caso do não comparecimento de médicos pediatras ao plantão de uma unidade de atendimento levou ao questionamento de todos. Por que não foram? Como puderam abandonar o trabalho e não darem justificativas?

Em algum momento foi perguntado o por que do não comparecimento, o prazo com o qual foram comunicados destes plantões e a disponibilidade prévia das mesmas? Em conversas entre colegas de classe, os plantões referidos e que inclusive já foram tema de reportagem neste jornal não foram comunicados em tempo hábil e uma mudança de escala de última hora levou aos desencontros já apontados por todos como – o médico errou!

Não, nenhum médico errou e é preciso ser dito! Mudanças de agenda e cronogramas acontecem e, em se tratando de saúde, devem ser respeitadas imputando ao médico a garantia de atenderem com as mesmas condições e expertises com os quais já atuam. A situação já aberta aos sete ventos não cita que plantonistas ambulatoriais foram colocados em plantões de emergência, com modus operandi totalmente diferente do que atuam; compromissos foram remarcados e que não se pode, em nenhum momento ou área profissional, desviar funções sob o risco de comprometer o atendimento e serviço prestado.

Em todo o país, as precárias condições de trabalho aos médicos pediatras têm levado a escassez deste profissional em toda a rede pública e privada. Sem citar salários e repasses, as condições oferecidas ficam aquém do que se possa esperar a um bom atendimento e, então, mais uma vez, a culpa é do médico.

Bem citado a fala do presidente do sindicado dos médicos da cidade, que afirma que “é tentado terceirizar a responsabilidade da má gestão (da Saúde) colocando a culpa nas costas dos médicos”. Todos concordamos com isso. Se não estivessem cientes de suas funções e atitudes, os próprios colegas não teriam procurado, eles mesmos, assegurar seus direitos relatando a situação à polícia através de BO de preservação de direitos. A eles, quem ouve?

Em todos os tipos de relação é preciso que se façam acordos de respeito e, diante de todo o cenário hoje vivido no país, ouvir e falar com responsabilidade também parecem ter se tornado práticas cada vez mais distantes. Se já tivemos por aqui Aquele que disse que os sem pecado atirassem a primeira pedra, a releitura atual seria “aqueles que ouviram os dois lados com um mínimo de compreensão, redijam seus textões”.

Por tempos nossa categoria sofre sem voz e espaço de fala ou apenas responde, de forma tardia, a situações já instaladas nas quais, na maioria das vezes, eles também são vítimas. Aos médicos, todos os deveres mas, a eles, quem vai ouvir?

Felipe Guedes, Médico patologista