Diário da Região
ARTIGOS

À classe artística que nos rODEIA:

Mesmo que fechem as portas, tentando bloquear o caminho, não peça chave alguma

por Odamim Guilherme Vinhatico Cury
Publicado em 28/05/2025 às 17:36Atualizado em 28/05/2025 às 18:37
ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Divulgação)
ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Divulgação)
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Minhas mãos, calejadas de promessas, apertaram; e olhando nos meus tão cansados olhos, mentiram. Entre sorrisos desbotados e pérfidos abraços, ergueram-se artistas de alma envernizada. Em sua Mostra, onde virtudes e defeitos trocam de veste, expõem as mentiras da Arte da trapaça. Difamam colegas com sorrisos sutis, e enquanto se abraçam, tramam fins vis: nas mãos deles, não pesa um pincel, — punhal de tinta, arte que sangra — lâmina viva, aguda, cruel.

Servos de um deus faminto, sentem prazer em destruir sonhos, e nesse banquete de egos inflados, compartilham do cálice da discórdia, passado de mão em mão sem que se pergunte o que nele há. Porque a língua que fere não age sozinha: quem escuta o veneno e o acolhe em silêncio, não é menos serpente; já que a maledicência não caminha — é carregada nos ombros de sorrisos cúmplices — a palavra vil precisa da morada onde ecoe, e de um silêncio que a aceite.

Acostumados com a tela, que não reage nem nega, pintam a própria mentira como se fosse verdade. Mas saibam que o julgamento que se lança revela mais o peso de quem o carrega do que o fardo do julgado. Porque quando se quer despir o outro, acaba-se nu, à vista de quem sabe ver: Pedro fala de Paulo — e ao narrar, se despe, sem saber.

Suas obras têm cores sem nome: o silencioso cinza de seus cúmplices e o vermelho-sangue das vítimas do seu ardil.

Que fique claro: não falo aos mentirosos, nem aos detratores, que aplaudem a desonra mais do que o mérito. Meu discurso é aos jovens pintores: não herdeis mestres!, e o mesmo digo aos escritores, poetas e escultores: não edifiqueis vossos ateliês com as pedras gastas do orgulho antigo. Criai com as mãos limpas, sem imitar ou copiar.

Mas cuidado! Há quem vos elogie apenas para vos domesticar. Há quem vos acolha com sorrisos ocos e dentes de argila, desejando que sejais submissos e implorem por uma oportunidade para ocupar um espaço que já é seu. Vá! Tome com o mesmo direito com que o Sol surge, sem pedir permissão à noite.

Lembrem-se que a Arte não pertence ao artista, e vós sois mais que o aplauso passageiro. Então, abandonem o jogo da ambição e não acotovelem-se pelas migalhas que caem da mesa do rei. Não vos dobreis ao contágio dos que em vez de criar, murmuram; dos que julgam porque já não sentem mais. A crítica, última inimiga no banquete das vaidades, devora tudo o que existe, e quando não restar mais nada, devorará a si mesma.

Guardai vossa solidão como relíquia, vossa estranheza como templo. A Arte vos reconhecerá não pela semelhança com os pés de barro dos ídolos caídos, mas pelo silêncio onde habita o sagrado. E mesmo que fechem as portas, tentando bloquear o caminho, não peça chave alguma. Erga seu próprio templo com as pedras que outros recusaram carregar.

ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Shlomo ben’Esav ibn-Ismail)

Artesão das Artes Plásticas, escultor, desenhista heráldico, ilustrador e poeta