Promotora da igualdade racial e de gênero
Advogada e palestrante, Claudionora Roque é uma voz representativa na comunidade

Com três anos de vida, Claudionora Elias Tobias percebeu a existência do racismo ao sofrer agressões verbais dos colegas na escola. Integrante de uma família formada principalmente por pessoas negras, ela não havia se dado conta das diferenças de raça.
A partir dos xingamentos que ouviu, entendeu que ninguém é igual a ninguém, o preconceito se manifesta de diversas formas na sociedade e a questão racial sempre estará presente, muitas vezes de forma velada.
Com a tomada precoce de consciência, sua infância transcorreu de maneira serena e contou com apoio, amor e orientação dos parentes, com presença marcante de trabalhadores domésticos e da construção civil.
Nos momentos de descanso, pais, irmão, tios, primos e avôs se encontravam para conversar, festejar e se divertir. Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia se destacavam na trilha sonora dos Tobias Roque.
Os pais de Claudionora incentivavam os filhos a estudar com afinco para romper as barreiras do racismo e conquistar espaços no mundo. A menina cresceu com acesso à ideia do poder transformador da educação na trajetória humana.
Assim, aos sete anos, Claudionora descobriu a função do advogado e decidiu que, um dia, iria trabalhar nessa área, sobretudo para se defender. O que não imaginava é que, ao lutar por uma causa própria, iria por extensão representar milhares de pessoas.
Um fato grave, no entanto, aconteceu no final da infância de Claudionora. Seu pai, Antônio Carlos, sofreu um infarto e morreu aos 47 anos. Um tempo difícil, de recomeço e de decisões importantes.
Como Rio Preto não tinha (e não tem) um curso de Direito em universidade pública, Claudionora permaneceu na cidade, até para não ficar longe da mãe.
Ingressou no magistério aos 15 anos e, com o salário-mínimo que recebia, ajudava nas despesas de casa. O plano consistia em se formar, atuar como professora e ter condição financeira de custear a faculdade.
Na época, Claudionora aprendeu a se blindar contra o racismo, tornou-se a mais popular da sala e se aproximou de todos, com uso de humor. No mesmo momento, teve acesso ao letramento racial e compreendeu a história do seu povo e a própria, o que fez diferença.
Ao iniciar os estudos sobre o Direito, passou a ser doméstica ao longo do dia para ganhar dinheiro e pagar a mensalidade. Durante um ano, ocupou-se com afazeres domésticos e se esforçou diante de todas as demandas.
No segundo ano, a patroa conseguiu um emprego para Claudionora em uma locadora de filmes. Justificou que ela fazia um curso importante e precisava de um trabalho onde pudesse ter tempo e condições de estudo. Somente no terceiro ano da graduação, a estudante arrumou estágio na área, o que ampliou o aprendizado.
Formada advogada, suportou outro caso de preconceito ao ser indicada para trabalhar em uma loja de decoração de interiores.
Ao chegar ao local da entrevista no horário combinado, a dona do estabelecimento olhou Claudionora de cima a baixo e não abriu a porta para recebê-la. Pegou seu currículo por uma fresta e prometeu ligar, o que nunca ocorreu.
PERFIL
Claudionora Elias Tobias
Como é conhecida: Claudionora Roque
Atuações: Advogada, palestrante, cronista e promotora da igualdade racial
Nascimento: São José do Rio Preto
Data: 14/02/1985
Pais: Antônio Carlos Tobias (in memoriam) e Neide Sueli Roque Tobias
Irmão: George Roque
Formação: Magistério (2004)
Instituição: Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (Cefam)
Graduação: Direito (2008)
Instituição: Unilago
Direito: Diretora tesoureira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção Rio Preto; especialista em Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, também atua nas áreas previdenciária, familiar, sucessões e criminal; integra o Coletivo Black Sisters in Law
Luta: Presidente do Conselho Municipal Afro-brasileiro de Rio Preto (2024-2025) e líder do Comitê de Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil em Rio Preto
Palestrante: Ministra palestras sobre temas referentes ao combate à desigualdade racial e violência de gênero com perspectiva de raça e classe
Educação: Aluna ouvinte da Unesp na matéria “Literatura, Gênero e Raça”, ministrada pela professora doutora Cláudia Maria Ceneviva Nigro (2024)
Luta e trabalho

Mesmo com os nãos que recebeu, Claudionora se fortaleceu, avançou e abriu portas, com trabalho, luta e dedicação. Em 2009, iniciou um escritório de advocacia em Rio Preto junto com outra advogada. Foram quatro anos de parceria.
Depois, Claudionora se uniu à advogada Camila Bernardo dos Santos Roque, sua prima. Juntas, inauguraram um escritório no São Deocleciano. Desde então, construiu uma respeitada carreira.
Claudionora ampliou a atuação ao ocupar espaços importantes, sobretudo na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção Rio Preto. Em 2025, foi eleita Diretora tesoureira da entidade e criou um grupo com 25 advogadas negras rio-pretenses.
Passou a fazer parte do Coletivo Black Sisters in Law, que visa conectar e impulsionar advogadas negras no Brasil e exterior. É líder do Comitê de Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil em Rio Preto.
Também preside o Conselho Municipal Afro-brasileiro de Rio Preto (biênio 2024-2025) e ministra palestras sobre temas referentes ao combate à desigualdade racial e violência de gênero com perspectiva de raça e classe.
Quando não está às voltas com processos, orientações e eventos, Claudionora aproveita o tempo livre com outras coisas que lhe fazem bem, como ouvir música, viajar, ler e estar com os amigos.
Claudionora se encontrou no mundo ao advogar, combater a desigualdade social e promover a igualdade racial e de gênero.