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Precursor na urologia

Médico Eliseu Roberto Mello Denadai fez o primeiro transplante de rim em Rio Preto e importantes contribuições ao setor

por Raul Marques
Publicado há 1 hora
Médico Eliseu Roberto Mello Denadai (Lézio Jr.)
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Médico Eliseu Roberto Mello Denadai (Lézio Jr.)
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Nadar em córrego, conversar até tarde na rua, brincar de pega-pega e jogar partidas de gude foram as atividades mais comuns da infância de Eliseu Roberto Mello Denadai, o primeiro dos sete filhos do caminhoneiro Elizeu e da professora infantil Geralda.

A família vivia em uma chácara em Olímpia, no princípio da década de 1940. A cidade, então com cinco mil habitantes, terminava na porta da propriedade. Enquanto o pai viajava com frequência Brasil afora, a mãe lecionava em escola pública.

Filho mais velho, Eliseu Denadai ajudava em diversas tarefas domésticas. Logo cedo, subia em um caixote e alcançava a máquina que puxava água do poço no quintal. Retirava de dez a 12 baldes a cada vez.

Ao terminar as tarefas iniciais, Eliseu Denadai tomava banho, trocava de roupa e ia para a escola de mãos dadas com a mãe, um motivo de orgulho. Naquele tempo, havia muito mais respeito e admiração pela figura do docente.

Quando completou dez anos, Eliseu Denadai passou a cuidar do galinheiro que o pai criou na chácara. Alimentava as aves, coletava os ovos e limpava o ambiente. Vendia a produção à vizinhança, especialmente aos técnicos da Petrobrás.

Os profissionais se encontravam no município para perfurar pontos em busca de petróleo. Não tiveram êxito na empreitada, mas descobriram fontes de águas termais, que, mais tarde, transformaram a cidade em uma potência do turismo.

Aos 15 anos, Eliseu Denadai revelou ao pai o desejo de estudar e realizar o sonho de ser médico. Ele escolheu a carreira com cinco anos ao se encantar com o respeito conquistado na comunidade por Dr. Custódio. Recebeu do pai apoio e um aviso.

Teria que estudar com afinco e ingressar em uma universidade pública. Caso contrário, iria trabalhar na chácara. Eliseu Denadai se mudou para Ribeirão Preto a fim de cursar o ensino científico, o equivalente ao ensino médio atual.

Morava em uma pensão e estudava à noite. Durante o dia, aproveitava o tempo livre, fazia bicos como office-boy e garantia um pequeno rendimento. Prestou vestibular em Medicina na USP e ficou na suplência.

Na mesma época, acabou aprovado em Odontologia. Não foi uma alternativa, mas a forma que encontrou para não atender à convocação do Serviço Militar. Tentou uma vaga na Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu e conseguiu.

Falava de vez em quando com os pais, por conta da telefonia pública precária. Eliseu Denadai pedia o telefone emprestado a um vizinho e fazia a chamada à central. Demorava até dez horas até obter um retorno da telefonista. Conversava o essencial por um ou dois minutos, no máximo. Um simples telefonema era caro.

Eliseu Denadai arranjou emprego como frentista. Além de ganhar algum dinheiro, sobrava tempo para estudar entre um e outro cliente. E vendia canecas feitas por um amigo. Na metade da graduação, passou a lecionar Zoologia em um cursinho.

Terminou a formação na USP em 1968 e se tornou colaborador do Hospital das Clínicas. Fez a residência, em 1973 tornou-se preceptor do setor e acabou contratado como assistente no grupo de transplante. Começou uma grande história na Medicina.

Perfil

Eliseu Roberto Mello Denadai

Atuação: Médico urologista

Nascimento: Olímpia

Data: 9/9/1944

Pais: Elizeu Natal Denadai e Geralda Mello Denadai

Irmãos: Élida, Elizete, Edna, Edson, Geralda e Débora

Esposa: Carmen Sílvia da Rocha Braga De Nadai (in memoriam)

Filhos: Fernanda, Andréa e Roberto

Netos: Enzo, Bruno, Laura e Beatriz

Graduação: Medicina (1968)

Instituição: Fez quatro anos na Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu e dois na Universidade de São Paulo

Especialização: Cirurgia e Urologia

Instituição: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Afiliação: Conselho Regional de Medicina, Associação Paulista de Medicina, Associação Médica Brasileira, Sociedade de Medicina e Cirurgia de Rio Preto e Sociedade Brasileira de Urologia

Colaboração: Sociedade Brasileira de Urologia (membro titular), Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (membro fundador), Associacion Urological Association (membro correspondente), American Urological Association, Confederação Americana de Urologia (membro titular), Sociedade Chilena de Urologia (membro correspondente), Société Internationale d’Urologia – França (membro fundador) e Endourological Society (membro fundador)

Cargos: Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia São José do Rio Preto, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia – Secção São Paulo, chefe do Departamento de Transplante Sociedade Brasileira de Urologia, chefe do Departamento de Título de Especialista Sociedade Brasileira de Urologia, chefe da Comissão de Educação Continuada Sociedade Brasileira de Urologia, editor-chefe do Boletim de Urologia Sociedade Brasileira de Urologia e médico-urologista responsável pela Clínica Urologia Eliseu Denadai São José do Rio Preto

Livro: É coautor do livro “Princípios da nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos”

Primeiro transplante de rim

Eliseu Roberto Mello Denadai fez carreira na urologia (Divulgação)
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Eliseu Roberto Mello Denadai fez carreira na urologia (Divulgação)

Casado com Carmen Sílvia, com uma filha pequena e outra a caminho, Eliseu Denadai amadureceu a ideia de mudar para o Interior, a fim de proporcionar qualidade de vida à família e trabalhar com Medicina de alto nível em cidades em desenvolvimento. Um convite do nefrologista Athanase Bezas, em 1973, colocou Rio Preto no horizonte. Os dois se uniram aos médicos Sinsei Toma e Sami Zerati e formaram o Grupo de Transplante Renal em Rio Preto, no Instituto de Urologia e Nefrologia.

Após meses de preparação, treinamento da equipe e estruturação, ocorreu o primeiro transplante renal em Rio Preto, no dia 3 de dezembro de 1977, em Wilson Bordignon. É o primeiro procedimento do Brasil fora da Capital e do ambiente universitário. Uma prática que se incorporou à rotina. Participaram desse momento histórico os médicos Eliseu Denadai, Lauro Brandina, Sami Zerati, Carlos Cury, José Vicentin, Athanase Bezas, Altair Mocelin (Londrina) e João Barberato.

Desde então, Eliseu Denadai fez mais de mais de 300 transplantes e participou de outras conquistas à cidade nos anos seguintes, como a chegada da endoscopia, cirurgia de cálculos, laparoscopia e robótica. Colaborou com a realização da 1ª Campanha Nacional de Doação de Rim, criou eventos na área, entre os quais a 1ª Jornada Paulista de Urologia e 1º Congresso Paulista de Urologia, presidiu entidades nacionais e participa de outras internacionais.

Em 1976, Eliseu Denadai enfrentou o desafio de estabelecer o Serviço de Residência Médica em Urologia e Nefrologia no Hospital Beneficência Portuguesa, onde trabalha até hoje, e colaborou com a formação de diversos médicos. Hoje, aos 81 anos, reduziu a rotina de 50 atendimentos diários para 120 por mês. Faz questão de se manter atualizado, colaborar e incentivar o desenvolvimento de sua área.