Diário da Região
PERSONAGENS DA NOSSA HISTÓRIA

Educadora racial

Juliana dos Santos Costa é ativista da comunidade negra de Rio Preto, escrevente do Tribunal de Justiça, escritora e palestrante

por Raul Marques
Publicado há 6 horasAtualizado há 1 hora
Juliana Costa (Lézio Jr.)
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Juliana Costa (Lézio Jr.)
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Na infância, Juliana dos Santos Costa contou com a companhia de Daniel, seu único irmão, um ano mais velho do que ela, para se divertir debaixo do sol no quintal, cozinhar de brincadeira, inventar artes com água, correr pela rua com os amigos da vizinhança e viver aventuras em um bairro periférico de São Paulo.

Juliana Costa e o primogênito foram incentivados pelos pais, os professores Carlos e Edna, a utilizar a criatividade para reinventar o cotidiano, colorir as cinzas das horas ociosas e ficar longe da TV. E, do mesmo modo, a estudar com afinco, buscar conhecimento e conhecer as raízes da própria história.

De forma consciente, Juliana Costa aproveitou a infraestrutura das escolas onde estudou e os pais lecionavam. A Educação norteou sua vida e isso jamais mudou. No final da adolescência, intensificou os estudos para conquistar uma vaga no ensino superior.

Na época do vestibular, arranjou o primeiro emprego com objetivo de ganhar o próprio dinheiro, mas também de ter experiências profissionais, ampliar o olhar sobre o mundo e conviver com outras pessoas. Trabalhou como atendente de telemarketing.

Despertou para os concursos públicos e focou a atenção nas vagas oferecidas. Tornou-se auxiliar administrativa concursada no Conselho Regional de Contabilidade. Ficou na instituição por oito anos e avançou na busca por formação.

Em dúvida do caminho a seguir, Juliana Costa prestou vestibulares em áreas que gosta: Arquitetura, Direito, Psicologia e Pedagogia. Deu certo a última opção e ingressou na Universidade de São Paulo (USP).

Conquistou o diploma em 2012 e, no ano seguinte, tornou-se mãe de Maia. Com novos compromissos financeiros, inscreveu-se em concursos e descobriu Rio Preto. Em 2014, foi aprovada na seleção da escola infantil localizada nas dependências do Ibilce.

Na primeira noite na cidade, dormiu no pequeno apartamento alugado. Começou com um colchão e objetos pessoais que couberam na mala. Depois, trouxe a filha, ainda bebê, e móveis comprados de uma amiga, com parcelas pequenas a perder de vista. Com os meses, as coisas melhoraram e se estabilizaram.

Desde 2020, Juliana Costa trabalha como escrevente do Tribunal de Justiça, em José Bonifácio. Viaja de duas a três vezes por semana e o restante do serviço é feito em home office. Casou-se com Glauco Piccirillo da Silva, desenvolve projetos particulares e colabora com ações e instituições sociais.

Nunca parou de estudar, de aprender e de se superar, tanto que se especializou em Gestão Pública, fez mestrado em Ensino e Processo Formativo e é doutoranda em Educação, na Unesp de Presidente Prudente. Iniciou o curso de Direito e só trancou a graduação, por ora, em razão da escrita da tese.

A partir de Rio Preto, oferece sua contribuição ao mundo por meio da Educação e da conscientização sobre igualdade.

Perfil

Juliana dos Santos Costa

Atuações: Escrevente, escritora, palestrante, educadora e ativista da comunidade negra

Nascimento: São Paulo

Data: 7/04/1986

Pais: Carlos Martins da Costa e Edna Lázaro dos Santos Costa

Irmão: Daniel Luciano dos Santos Costa

Marido: Glauco Piccirillo da Silva

Filha: Maia Santos Carbonel

Graduação: Pedagogia (2012)

Instituição: Universidade de São Paulo

Especialização: Gestão Pública (2019)

Instituição: Universidade Federal de São Carlos

Mestrado: Ensino e Processo Formativo (2021)

Instituição: Unesp de Rio Preto

Doutorado: Educação (em andamento)

Instituição: Unesp de Presidente Prudente

Comunidade: Vice-presidente do Conselho Afro Municipal de São José do Rio Preto (2019- 2020); laureada em 2024 pelo conselho com sua inclusão na Galeria Aristides dos Santos pela atuação no Movimento Negro do Município

Trabalho: Fala sobre Educação antirracista, negritude, infância negra, relação étnico-racial, direito antidiscriminatório e direitos humanos

Educação: Professora na escola infantil da Unesp por seis anos

Colaboração: Membra do Grupo de Pesquisa CNPq em Direitos Humanos, Educação e Diversidades, consultora de diversidade, equidade e inclusão

Carreira: Desde 2020, é servidora pública no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Livro: Autora do livro infantil “No seu tempo”

Prêmios: Agraciada com a Lei Nelson Seixas em 2022, 2023 e 2024

Orientação e fortalecimento

Juliana Costa é referência na comunidade (Divulgação)
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Juliana Costa é referência na comunidade (Divulgação)

Edna e Carlos integravam o Grupo de União e Consciência Negra e proporcionaram educação racial para Juliana Costa, sobretudo em conversas francas no dia a dia, a fim de orientar, fortalecer, aumentar o sentimento de pertencimento à comunidade. Essas atitudes fizeram toda diferença.

Na escola, Juliana Costa sofreu casos de racismo, que apareciam, na maioria das vezes, travestidos de brincadeiras supostamente inocentes, mas que, na realidade, não eram nada disso e causavam ferimentos nem sempre visíveis.

Aos 12 anos, ela enfrentou um episódio emblemático em um salão de beleza. Sua mãe a deixou no estabelecimento e orientou o que deveria ser feito. Assim que saiu, as cabelereiras apostaram qual delas conseguiria alisar o cabelo da adolescente. Diante do susto pelo fato, Juliana Costa se sentiu constrangida e ficou chateada.

Bem mais tarde, como moradora de Rio Preto, Juliana Costa despertou para a necessidade de colaborar com questões raciais e sociais. Ela foi vice-presidente do Conselho Afro Municipal (2019 a 2020) e atuou na antiga Favela da Vila Itália, com aulas e a construção da escola e do parquinho.

Hoje atua em empresas e com a formação de professores, pais e estudantes. Em suas palestras, fala sobre educação antirracista, negritude, infância negra, relação étnico-racial, direito antidiscriminatório e direitos humanos.

Autora do livro infantil “No seu tempo”, prepara outras obras.