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Dom Pedro II – 200 anos

Era um obcecado por conhecimento. Estudava mais de doze horas por dia. Tinha boa memória. Adorava linguística e tradução. Falava fluentemente vários idiomas

por Toufic Anbar Neto
Publicado há 1 hora
Toufic Anbar Neto (Toufic Anbar Neto)
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No dia dois de dezembro, comemora-se o bicentenário do Imperador Dom Pedro II. Nasceu no Rio de Janeiro e governou o Brasil por 58 anos. É o vigésimo monarca mais longevo no mundo. Eu teria muito a escrever sobre seu reinado. Neste artigo, me aterei apenas aos aspectos culturais de sua vida e um pouco da vida familiar. Era filho de Dom Pedro I e da Imperatriz Leopoldina.

Leopoldina morreu num parto, um ano depois do nascimento de Pedro. Três anos depois, Dom Pedro I casou-se novamente, desta vez com uma princesa franco-italiana, Amélia de Leuchtenberg. Ela se afeiçoou ao pequeno Pedro II. Seu pai abdicou do trono de forma abrupta e retornou a Portugal, deixando-o no Brasil com cinco anos. Pedro II praticamente não tinha memórias do pai e muito menos da mãe, mas manteve contato com sua madrasta por mais de 40 anos. Dada a instabilidade política do país, Pedro II foi coroado aos 14 anos.

Solitário, com poucos amigos e quase nenhum contato com seus parentes europeus, entregou-se à educação. Era um obcecado por conhecimento. Estudava mais de doze horas por dia. Tinha boa memória. Adorava linguística e tradução. Falava fluentemente vários idiomas. A lista não é consensual entre historiadores, mas os mais citados são português, francês, inglês, alemão, italiano, espanhol, latim, hebraico e tupi-guarani. Lia e compreendia bem o grego, árabe, sânscrito e provençal. Era um polímata. Seus interesses incluíam astronomia, antropologia, geologia, geografia, física, química, medicina, direito, religião, filosofia, pintura, teatro, música, poesia e tecnologia. Foi um dos primeiros fotógrafos brasileiros, em 1840. Adorava visitar feiras de ciências. O Brasil foi um dos primeiros países a adotar o telefone. Historiadores consideram-no um dos três monarcas mais cultos de todos os tempos.

Gostava de viajar. Fez amizade e trocou cartas com personalidades como Nietzsche, Charles Darwin, Victor Hugo, Alexandre Herculano, Richard Wagner, Louis Pasteur, Graham Bell, Camilo Castelo Branco e muitos outros. Foi membro de inúmeras academias de ciências e artes: inglesa, americana, francesa, russa e belga. Em muitos dos seus retratos, portava livros. Dizia que tinha nascido para se consagrar às letras e às ciências. Afirmava que se não fosse Imperador, seria professor, “a mais nobre das profissões”. Valorizava a educação.

Os brasileiros gostavam dele. Enxergavam uma pessoa sábia, benevolente, austera e honesta. Este sentimento era forte entre muitos brasileiros negros que viam na monarquia, sua libertação. Deposto por seu amigo Deodoro da Fonseca em 1889, exilou-se em Paris, onde morreu dois anos depois. O fato causou comoção no Brasil, até mesmo entre os republicanos. Historiadores consideram-no a maior personalidade política da história do Brasil.

TOUFIC ANBAR NETO

Médico-cirurgião, diretor da Faceres, escritor e membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura (Arlec). Escreve quinzenalmente neste espaço às quartas-feiras