Diário da Região
PAINEL DE IDEIAS

Um presente de Natal

por Eudes Quintino de Oliveira Júnior
Publicado há 2 horasAtualizado há 1 hora
Eudes Quintino de Oliveira Júnior (Eudes Quintino de Oliveira Júnior)
Galeria
Eudes Quintino de Oliveira Júnior (Eudes Quintino de Oliveira Júnior)
Ouvir matéria

Gostaria de lhe dar neste Natal um presente, que não fosse efêmero, mas que pudesse compreender toda minha afeição. Anima-me o ideal da inspiração e, para tanto, tive que focar vários itens que integram a vida humana e não simplesmente algo que passe tão fugidio como o vento. Muito menos cogitei de vender sonhos e utopias que acabam por ruir como um castelo de areia. Sei que um bem material, por mais útil que seja, terá vida tão curta como a memória, que o conservará somente pelo tempo de utilidade. Tentou-me, confesso, a vontade de presenteá-lo com um livro, mas recuei, porque uma vez lido, como uma folhinha de parede, irá se alojar no fundo de alguma estante.

Veio-me, então, a vontade de presenteá-lo com um cartão, justamente porque se escreve à vontade os melhores votos de Natal e novo ano. Eu o enviarei como um bumerangue, que passa por você, despeja a carga nele contida, e retorna para mim. Quer dizer, vou me beneficiar dos mesmos votos. Por isso, tenho que balancear de tal forma a escrita para que verbo e substantivo coincidam na mais perfeita harmonia.

Já na primeira linha constato a dificuldade da tarefa, pois a convivência humana é aflitiva e complicada. Nem sempre pode ser utilizada a mesma régua para todos e cada situação tem seus contornos próprios, além do que, em algumas oportunidades, exige uma solução laboratorial. A resposta você não encontra no seu navegador e muito menos em aplicativo para tal fim. Às vezes tem que buscar soluções com pessoas mais experientes, aquelas que romperam com galhardia todas as etapas da vida, a exemplo do marinheiro, que vence as mais tormentosas borrascas e segue ileso e seguro para as próximas. Outras vezes, tem que tatear seu interior para acender a lareira do espírito e encontrar a luz necessária para atravessar o labirinto de dúvidas e incertezas.

Aí, então, você vai ver que as pessoas não circulam por uma via de mão única e sim por vários caminhos, alguns estreitos, outros sinuosos e escorregadios, mas em busca da avenida ampla que possibilita a fluidez, todas buscando as melhores condições de vida, de acordo com o propósito almejado. É certo que cada um carrega em sua individualidade o mapa indicativo dos caminhos pretendidos e o despeja posteriormente na comunidade, que nada mais é do que o alargamento da vida em comum. Assim, na medida em que você se inclui, abre espaços para os outros entrarem, de acordo com o pensamento de Edith Stein.

E, nessa inclusão, quando você se sentir sufocado e necessitando de ajustamento em suas bases, você vai encontrar bem visível à sua frente o brado de poucas palavras, mas com profunda sabedoria, de Sêneca: Vindica te tibi, em que ele exortava o homem a reivindicar a propriedade do seu ser, o seu conteúdo mais abrangente, com alcance muito maior do que a limitada selfie, a sua liberdade, o seu desejo de viver em paz consigo e com todas as demais pessoas, em uma sociedade harmônica, com suporte suficiente para a realização do seu projeto de felicidade.

E é justamente no sincronismo da felicidade que cravo meus votos. Que você intensifique suas energias para situar-se sempre na linha de frente. Que você tenha a serenidade de um bom guerreiro para se surpreender com a merecida maturidade que abraçará em cada etapa da existência. Que você busque os bons augúrios, cultive a esperança e abandone o modelo laissez-fairiano, que tanto o engessa. Que você possa encontrar seu ponto de equilíbrio para gozar da sintonia do bem-estar. Que você otimize e aperfeiçoe o dinamismo que sempre carregou para expressar solidariedade e simpatia. Enfim, não perca o timing, procure ultrapassar a grandeza do ser humano, entronizando definitivamente a felicidade em sua vida.

Assim, renasça no Natal e viva a bem-aventurança dos novos anos.

EUDES QUINTINO DE OLIVEIRA JÚNIOR

Promotor de justiça aposentado, advogado, membro da Arlec. Escreve quinzenalmente neste espaço aos sábados