Entre o céu e a terra
No entanto, na ensolarada manhã de sábado passado, abro a porta, apanho o jornal e de dentro dele, escorrega lentamente um envelope azul sem selo

Tenho grande amizade com São Jorge, pela afinidade com o Corinthians, como sempre reitero. Com Jesus comecei a me corresponder em abril, quando lhe enviei uma carta. Nela, além de ter comentado sobre as questões graves pelas quais passa a população mundial, pedi ajuda para que nosso time pudesse nos dar um pouco de alegria, nesses tempos tempestuosos pelos quais passa a humanidade. Claro que não esperava resposta do grande Mestre, que deve estar sempre muito ocupado com assuntos mais relevantes do que as solicitações mundanas de uma simples mortal, para seu time do coração.
No entanto, na ensolarada manhã de sábado passado, abro a porta, apanho o jornal e de dentro dele, escorrega lentamente um envelope azul sem selo. Espantada pelo modo inabitual de receber cartas físicas, a não ser boletos para pagamentos, apanhei o singelo invólucro e incrédula li o remetente: Jesus Cristo. Em minha imaginação, presumia que se houvesse uma resposta, difícil de acreditar, seria na minha visão poética, pelos ares no bico de um beija-flor ou do bem-te-vi que me acorda todas as manhãs avisando que bem-que-me-viu ou ainda, quem sabe, das mãos do padre Jarbas Brandini, como mensageiro entre o céu e a terra, que conhecia a Carta para Jesus, por mim enviada anteriormente. Jamais pelo jornaleiro, ao qual agradeço imensamente por tão grande emoção.
Ainda perplexa, abri com cuidado a correspondência, com um certo temor de levar uma reprimenda por ter lhe pedido que nos ajudasse a fim de que o Timão nos desse um pouco de alegria, nesses tempos de violência de toda natureza, com notícias de feminicídios e homicídios diariamente, que evidentemente mereceriam e merecem mais atenção do que um time de futebol.
Eis um trecho da resposta dele:
Cara corintiana,
Apesar de muito ocupado ultimamente, gostei muito da epístola que me enviou e dentre os assuntos elencados, o da questão primordial de um mundo melhor para todos é a que venho tentando fazer há mais de 2.000 anos, sem muito sucesso. Já, a de dar um pouco de contentamento aos torcedores alvinegros do Parque São Jorge, adianto-lhe que vocês serão os vencedores da Copa do Brasil. Sentar-me-ei no banco de reservas e orientarei o time sem que o Dorival me note. Por favor, não chamem o Iury e o Memphis de heróis, porque não fazem mais do que a obrigação, pois, além dos altos salários que recebem, têm outro tanto de mordomias. Se há heroísmo, ele está presente nos maloqueiros sofredores, massa de trabalhadores de salários mínimos, em sua grande maioria favelados.
Na hora do brinde lembrem-se de mim e agradeçam aos céus pela alegria que lhes proporcionei.
Feliz Natal, Merli
E vai Corinthians!
Jesus de Nazaré
Promessa cumprida! Sport Club Corinthians Paulista, campeão da Copa do Brasil! Belo presente de Natal para o Bando de Loucos! Obrigada!
Nada como ter boas amizades e que privilégio o meu, de ter meus escritos publicados no dia 25 de dezembro, ocasião em que relembramos os ensinamentos de amor ao próximo e justiça social, motivos pelos quais o Nazareno foi torturado e morto.
Feliz Natal, amado Mestre!
MERLI DINIZ
Professora, advogada, poeta e cronista. Vice coordenadora da Comissão de Direito e Literatura da 22ªSubseção da OAB Rio Preto. Escreve quinzenalmente neste espaço às quintas-feiras