Ano novo! Velhos vícios?
Torcer para que um governo fracasse apenas porque você perdeu a eleição é como rezar para o avião cair porque te colocaram no corredor

Como democrata, sempre torço para que o vencedor de uma eleição governe bem (especialmente quando não foi o meu candidato). Democracia não é torcida organizada. É aceitar o resultado e cobrar o exercício responsável do poder.
Torcer para que um governo fracasse apenas porque você perdeu a eleição é como rezar para o avião cair porque te colocaram no corredor. Não é só infantil: é suicida. Se o avião cai, ninguém vence a discussão.
Dito isso, torcer não significa fechar os olhos. 2025 termina com boas e más notícias, mas em alguns aspectos ficou muito abaixo do que qualquer cidadão minimamente atento poderia considerar aceitável.
No plano nacional, o Congresso conseguiu a proeza de piorar. Não apenas continuou ordenando despesas, como passou a demonstrar uma dificuldade crescente até para redigir leis minimamente funcionais. Temos hoje, sem exagero, a pior Câmara dos Deputados desde a redemocratização.
Uma Câmara marcada por parlamentares mais preocupados em garantir verbas sem apresentar projetos, ampliar o fundo eleitoral e blindar-se corporativamente. Não legislam para o país. Legislam para si. O cidadão virou figurante. O eleitor, um estorvo entre eleições. A ideia de representação foi substituída por um balcão permanente de autoproteção.
No plano municipal, apesar da minha torcida democrática legítima, a nova administração de São José do Rio Preto foi um desastre em muitos aspectos.
Problemas com a EMPRO, falhas nas UPAs, uma cidade sem manutenção básica, abandonada. Denúncias graves (que precisam ser rigorosamente apuradas) sobre a aquisição de imóvel por parente do prefeito, em dinheiro vivo e abaixo do valor de mercado, logo após a eleição.
E, enquanto isso, nenhuma agenda consistente de desenvolvimento. Até as inaugurações de supermercados, alardeadas como grande “feito” da gestão anterior, desapareceram.
O que tivemos no lugar disso? Comemorações vazias: o anúncio da vinda, em 2026, de uma banda famosa (sem qualquer estímulo da administração) e a instalação de uma estátua de capivara na represa municipal. A criação de cargos para “lobistas” de Rio Preto em Brasília e São Paulo foi uma confissão pública de incapacidade. Ou os deputados federais e estaduais não trabalham para a cidade, ou trabalham para outras prioridades. Em ambos os casos, o recado é o mesmo: o cidadão e o município viraram um detalhe constrangedor, relegados ao segundo plano.
A Câmara de Vereadores, por sua vez, foi um capítulo à parte de constrangimento institucional. Poucos cumpriram sua função constitucional de fiscalizar o Executivo. Os que ousaram fazê-lo foram alvo de intimidação política. Onde há medo, não há transparência. Onde há apenas discurso, a indignação é sempre seletiva.
Se há um ponto positivo em 2025, ele veio de fora da política institucional. O Natal promovido por um grupo de comerciantes do centro da cidade foi um exemplo concreto de revitalização real. E a prefeitura teve uma atitude rara: não atrapalhou.
Ficou evidente que o antigo esperneio higienista de outro grupo de comerciantes, obcecado em “esconder” pessoas em situação de rua, era um erro grosseiro. Cidades muito maiores que Rio Preto enfrentam o mesmo problema (e não o resolvem varrendo gente para debaixo do tapete).
O Natal no centro mostrou o óbvio que muitos se recusam a enxergar: o caminho não é maquiagem urbana, é revitalização estrutural, física e simbólica. Ideias novas, iniciativas disruptivas e, sobretudo, a compreensão de que problemas sociais são consequência, não causa.
2025 termina deixando uma lição incômoda: quando a política falha, a sociedade civil avança. Mas isso não é virtude do sistema. É sinal de alerta. Democracia não é silêncio. É cobrança. 2026 vai exigir menos pirotecnia e discursos rasos. E muito mais responsabilidade e atitude.
Feliz 2026!
Beto Braga
É empresário