A história da Humanidade contada pelo vírus
A desinformação impera e, não raro, demora-se a descobrir como a doença se propaga e o que fazer para dominá-la

Estranhou? Da Antiguidade até os dias de hoje, as epidemias assombram o ser humano. Chegam sorrateiras e se instalam causando pânico e destruição. A desinformação impera e, não raro, demora-se a descobrir como a doença se propaga e o que fazer para dominá-la.
A famosa peste-negra matou cerca de um terço da população europeia na Idade Média. De lá até os dias de hoje com a pandemia do Covid 19, muita coisa aconteceu. Este interessante tema é abordado no Livro “História das Epidemias” do infectologista Stefan Cunha Ujvari, com prefácio do Dr. Drauzio Varella.
Sempre estudamos a evolução da espécie humana por meio das guerras, movimentos migratórios e economia política. Nunca imaginamos que a simples chegada dos imigrantes no Brasil no século XIX faria deles as grandes vítimas da Febre Amarela. Foram contratados para “tombar o café” e acabaram sendo tombados pela doença.
A epidemia de Poliomielite (Paralisia Infantil) marcou muitas crianças e até hoje convivemos com os sobreviventes, felizmente está erradicada no Brasil pela vacina Sabin, mas temos que continuar vigilantes. Outro capítulo interessante é o impacto biológico com microorganismos.
Em 1346, durante a epidemia de peste na Europa, o exército mongol utilizou catapultas de cadáveres contaminados com peste sobre os muros da cidade de Kaffa, na Crimeia, levando à rendição do adversário. Vocês sabiam que o objeto de desejo “Botox” já foi considerado uma arma de guerra? As prostitutas japonesas colocavam um pó do Clostridium botulinum no drink de oficiais americanos durante a Segunda Guerra Mundial... Acredito que foi a primeira versão um tanto radical do “boa noite Cinderela”.
O livro, como já relatado, fala das epidemias e claro termina com dados da Pandemia de Covid-19. O livro termina, porém, a história continua, não falando de novos surtos e sim do mais novo golpe nas redes sociais sobre a Covid-19 onde médicos antivacina faturam com “síndrome” sem comprovação científica chamada “Spikeopatia” que seria causada por vacinas de RNA mensageiro, segundo matéria deste domingo do jornal O Estado de S. Paulo. São colegas (???) que boicotaram a vacinação e estimulam novos tratamentos: cursos, consultas particulares e venda de medicamentos para tratar da “síndrome pós Spike”.
O estudo foi contestado e retirado de publicação – isto acontece quando há falhas graves ou evidências de más condutas. A editora argumentou que um estudo tão equivocado poderia promover a adoção de protocolos não validados (o que eles já comercializam nas redes por 3 mil reais).
Uma revisão sobre o tema, feito no centro europeu para prevenção de doenças, mostrou que os adultos vacinados tiveram 27% menos chances de desenvolver Covid longa do que os não vacinados.
O Ministério da Saúde tomará todas as medidas cabíveis para impedir que esses médicos picaretas curandeiros (com todo respeito àqueles que estudam ervas e saberes ancestrais) continuem enganando a população. Afinal, as vacinas salvaram e continuarão salvando vidas – só ainda não foi inventada vacina para ignorância e desinformação.
Regina Chueire
Médica, professora da Famerp e diretora do Lucy Montoro/Funfarme