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ARTIGO

Violência política de gênero: silenciando mulheres

O Brasil ocupa a 133ª posição no ranking de representação feminina no Parlamento

por Alexandra Fonseca
Publicado em 15/08/2025 às 20:37Atualizado em 16/08/2025 às 22:09
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Passado o período das Conferências da Mulher, duas em especial, promovidas pela Coalizão Nacional de Mulheres, me trouxeram reflexões muito importantes. Quantas vezes você já ouviu que "política não é lugar para mulher"?

A violência política de gênero vai muito além de agressões físicas, xingamentos, ameaças virtuais, campanhas de difamação e até daquele olhar de desdém quando uma mulher ousa liderar. Ela acaba se refletindo num sistema político majoritariamente masculino, branco e muito, muito distante das necessidades reais das mulheres.

Numa destas conferências a Deputada Federal Sâmia Bomfim, ao ser perguntada como conseguia aguentar, respondeu o que todas nós que ocupamos espaços sabemos: Eu não aguento!

O Brasil ocupa, segundo a ONU Mulheres, a 133ª posição no ranking de representação feminina no Parlamento, atrás de países como Afeganistão e Arábia Saudita. E não é por falta de competência: é medo. Medo de ser humilhada nas redes sociais, de receber ameaças de morte, de ver sua família exposta ou de ser assassinada, como aconteceu com Marielle Franco.

Uma pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios apurou que mais de 60% das Prefeitas e Vice-prefeitas já sofreram Violência Política por serem mulheres, quase a metade (49,8%) pretende abandonar a vida pública por causa da pressão, 47,1% afirmam que se sentiram psicologicamente afetadas e 9,9% se sentiram fisicamente afetadas pela violência. Quando uma mulher desiste da política, todas nós perdemos. Perdemos vozes que poderiam lutar por creches, contra o feminicídio, por direitos trabalhistas equitativos e por um país mais justo.

Sempre há soluções. No México, por exemplo, a implementação de leis específicas contra violência política de gênero fez o número de mulheres no Congresso se ampliar de maneira substancial. Na Argentina, a Lei de Paridade de Gênero garantiu avanço significativo na ocupação das cadeiras legislativas, mas no Brasil, apesar da implementação da reserva de candidaturas, o reflexo da norma foi resultar em mais uma forma de violência institucionalizada que são as chamadas candidaturas laranja.

Neste Agosto Lilás é preciso lutar também por um futuro em que nenhuma mulher precise escolher entre sua segurança e seu direito de participar da política. Dialogar e encontrar formas de se coibir de maneira efetiva a Violência Política de Gênero é o único caminho possível.

Alexandra Fonseca

Advogada, ativista política, e membra do Coletivo Mulheres na Política.