Serviço secreto do Sudão e o 11 de Setembro
O serviço de inteligência sudanês tentou alertar os EUA antes dos ataques, mas foi ignorado

Durante a Segunda Guerra Civil Sudanesa (1983-2005), Osama bin Laden residiu no Sudão entre 1992 e 1996, após ser expulso da Arábia Saudita por criticar a aliança de seu país com os EUA. Em Cartum, estabeleceu propriedades, investiu em infraestrutura, agricultura e negócios, atuando inclusive como representante da britânica Hunting Surveys, empregando antigos combatentes afegãos. Nesse período, ganhou popularidade local pela generosidade.
Ao mesmo tempo, manteve vínculos com o Grupo Islâmico Egípcio, cuja atuação internacional culminou na tentativa frustrada de assassinato do presidente egípcio Hosni Mubarak, em 1995. Tal envolvimento levou à sua expulsão do Sudão em 1996, mas já consolidava sua posição como principal articulador do terrorismo internacional, posição posteriormente evidenciada nos atentados simultâneos às embaixadas dos Estados Unidos em Nairóbi e Dar es Salaam, em 7 de agosto de 1998.
Em 11 de setembro de 2001, ataques coordenados da Al-Qaeda atingiram as Torres Gêmeas e o Pentágono, causando a morte de ao menos 2.754 pessoas. Com isso, Osama emergiu como líder central do terrorismo global, assumindo oficialmente a responsabilidade apenas em 2004, após inicialmente negar envolvimento direto.
Com esse histórico, nos anos 1990, o serviço de inteligência sudanês, Mukhabarat, começou a acumular extensos arquivos sobre bin Laden e seus aliados na Al-Qaeda, registrando desde perfis pessoais até movimentações estratégicas de militantes que mais tarde participariam dos atentados às embaixadas dos EUA na África, em 1998, e de células vinculadas ao 11 de setembro de 2001.
Entre 1996 e 2001, Cartum tentou compartilhar esse material com os EUA em diversas ocasiões, mas todas as ofertas foram recusadas pela administração do presidente Bill Clinton, sob influência da secretária de Estado Madeleine Albright e da secretária-assistente Susan Rice, que desconfiavam das intenções do Sudão. Documentos revelaram que, apesar de alguns agentes do FBI reconhecerem a utilidade da cooperação, a política externa americana permaneceu marcada pela hostilidade, alimentada por relatórios imprecisos da CIA e pelo estigma de que o país patrocinava o terrorismo. Especialistas apontam que essa recusa privou os norte-americanos de uma “mina de informações” que poderia ter contribuído para prevenir ataques de grande escala.
Apesar do monitoramento intenso pelo Mukhabarat e das ofertas de cooperação, o Sudão permaneceu isolado internacionalmente, e os EUA perderam oportunidades de antecipar a escalada do terrorismo global. Nos anos 1990, Osama introduziu o terrorismo no Sudão, criando campos de treinamento e redes financeiras. No entanto, apesar de avanços internos no combate ao terrorismo, o país permaneceu na lista americana de Estados patrocinadores do terrorismo de 1993 a 2020.
Tiago Cesar Miguel Kapp
Empresário e estudante universitário, Olímpia