Diário da Região
Artigo

Salvador da Pátria

Nunca existiu, e nem existirá, o salvador que poderá, sozinho, conduzir qualquer país à glória

por João Francisco Neto
Publicado há 8 horas
João Francisco Neto (João Francisco Neto)
Galeria
João Francisco Neto (João Francisco Neto)
Ouvir matéria

A cada dia que passa, aumenta o desencanto da população brasileira com a política em geral, e com os políticos, em particular. Reina um descrédito com tudo aquilo que se refere ao ambiente político. Com certa dose de injustiça, todos são atirados numa vala comum da desconfiança, sejam políticos bons ou maus, éticos ou antiéticos.

No próximo ano haverá eleições presidenciais, eleições gerais para senadores, governadores e deputados federais e estaduais. Entretanto, há um vazio de novas lideranças políticas e principalmente de homens públicos que possam receber a confiança da maioria da população.

Na verdade, boa parte da população sempre fica à espera de um grande líder, que possa retirar o País da pobreza e conduzi-lo para um futuro de crescimento e riqueza. Afinal, todos sabemos das imensas potencialidades oferecidas pela natureza no Brasil. Entretanto, os séculos vão passando e esse líder forte e decidido nunca chega.

E assim vem sendo, desde Getúlio Vargas (o chamado “pai dos pobres”); Juscelino Kubitschek, com seu espírito modernizador; Jânio Quadros, com sua “vassourinha”, para acabar com a corrupção; o movimento das “Diretas-Já”, a Constituinte, Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, que prometiam dar um novo rumo ao País; tudo sem esquecer de Fernando Collor, que assumiu o poder envolto numa aura de moralidade de um suposto “caçador de marajás” do serviço público.

O fato é que nunca existiu, e nem existirá, esse salvador da pátria que poderá, sozinho, conduzir qualquer país que seja à glória, à ordem e ao progresso. Essa ideia nos remete ao mito do “Sebastianismo”, surgido em Portugal. No final do século 16, com a morte do jovem rei D. Sebastião, Portugal cairia sob o domínio espanhol. Ocorre que o rei simplesmente desaparecera numa batalha no norte da África, e como seu corpo nunca foi encontrado, isso daria margem a muitas lendas.

Uma delas previa que o rei voltaria para resgatar Portugal do domínio estrangeiro, restaurando toda a glória da nação lusitana. Em outra crença popular, D. Sebastião chegaria montado num cavalo branco, numa manhã encoberta por forte nevoeiro. Como se sabe, o rei nunca retornou.

Não obstante, o mito do sebastianismo foi alimentado ao longo dos séculos, chegando mesmo até o Brasil, onde o povo sempre nutriu forte esperança pela chegada de um messias na política – um “salvador da Pátria” -, para dar fim à pobreza e levar o País ao progresso. Como vimos, por aqui isso também não ocorreu até hoje, pois um verdadeiro País é uma construção coletiva de um povo, em que todos devem participar das mudanças; e jamais será uma obra de um herói solitário, seja ele quem for.

João Francisco Neto

Advogado, doutor em Direito Econômico e Financeiro (USP). Monte Aprazível.