Pequenas coisas, grandes pinguins
Obrigado, queridos amigos pinguins: façam cocô livremente, e nos ajudem a salvar o planeta

Sabe aquele ditado: "São as pequenas coisas que fazem uma grande diferença"? Volta e meia me pego pensando nele, e, em muitos casos, ele faz todo o sentido. Nem sempre é fácil manter essa visão de simplicidade, de que as pequenas coisas podem mudar o rumo da vida, ou do planeta. Mas elas podem.
Algumas são bem fáceis de notar. Todos temos nossas preferências, e quem me conhece sabe qual é o meu animal favorito: os pinguins. Basta ver uma foto que já me animo. Sempre que aparece uma matéria sobre eles, paro tudo para ler. E vejam só: acabei de me deparar com uma reportagem fascinante sobre a relação entre os pinguins e as mudanças climáticas.
Pinguins vivem no hemisfério sul, em regiões geladas como a Patagônia e o continente Antártico. Por isso, estão entre os mais afetados pelo derretimento das geleiras e o aquecimento dos oceanos. São vítimas da crise climática. Mas, como todos nós, eles também fazem sua parte. Sim, mesmo com recursos limitados e não possuindo grandes ferramentas, os pinguins conseguem contribuir para frear esse quadro de mudanças climáticas.
Na Antártica, por exemplo, há colônias com até 60 mil pinguins da espécie Adélie. E uma coisa eles têm de sobra: cocô. E é exatamente aí que mora o detalhe curioso e poderoso. O cocô dos pinguins é rico em amônia, um composto que evapora e sobe para a atmosfera, onde participa da formação de nuvens. E as nuvens, essas maravilhas brancas flutuantes, refletem a luz solar de volta para o espaço, ajudando a resfriar o planeta, especialmente os oceanos.
Cientistas da Universidade de Helsinque, na Finlândia, monitoraram o clima da Antártica e identificaram altos níveis de amônia nas nuvens locais. Isso chamou a atenção. Afinal, para uma nuvem se formar, além do vapor de água, é preciso que haja outras partículas, como poeira ou resíduos de poluição. Mas na Antártica não há quase nada disso, ainda bem! Então, de onde vêm essas partículas? Dos dejetos dos animais, como a amônia liberada pelos pinguins.
Os pesquisadores alertam que ainda são necessários mais estudos para entender a real dimensão desse efeito. Afinal, as nuvens também podem reter o calor que já está na Terra. Mas só o fato de os pinguins estarem, literalmente, contribuindo para o equilíbrio climático já merece nosso respeito.
Obrigado, queridos amigos pinguins. Continuem sendo incríveis, façam cocô livremente, e nos ajudem a salvar o planeta.
Fábio Rogério de Moraes
Físico, Auxiliar de Pesquisa, IBILCE - UNESP.