O lado invisível das tatuagens
Estudo mostrou que pigmentos usados em tatuagens podem afetar o sistema imunológico

Uma tatuagem pode simbolizar muitas coisas. Pode ser um sinal de amor entre pais e filhos, um gesto de fé ou mesmo um princípio que faz parte da pessoa que você deseja ser. Antes marginalizadas, hoje vemos pessoas tatuadas em todos os ambientes por onde circulamos.
Uma pesquisa recente do instituto alemão Dalia revela que cerca de 30% dos brasileiros têm ao menos uma tatuagem. Em países como Itália, Suécia, Estados Unidos, Argentina e Austrália, esse percentual chega a 40–50%.
Verdadeiras obras de arte podem ser encontradas nos corpos de pessoas de várias faixas etárias e classes sociais. Em um estudo publicado recentemente na prestigiosa revista científica PNAS, o grupo liderado pelo Dr. Santiago F. Gonzalez, do Laboratório de Infecção e Imunidade da Università della Svizzera italiana (que, aliás, fica na Suíça), mostrou que os pigmentos mais usados em tatuagens podem afetar o sistema imunológico, pelo menos em camundongos.
Os pesquisadores testaram os pigmentos de uso mais comum: preto, vermelho e verde. Eles são rapidamente encontrados nos linfonodos dos animais, órgãos distribuídos por todo o corpo que ajudam no combate a microrganismos e toxinas.
Os pigmentos causaram uma resposta inflamatória que ainda podia ser medida dois meses após o processo de tatuagem, afetando, portanto, a forma como o organismo responde a uma nova infecção. Mais especificamente, os cientistas observaram que a resposta imunológica provocada pela vacinação contra a COVID foi reduzida, enquanto a resposta após a vacinação contra a gripe foi aumentada.
Importante ressaltar que esses resultados ainda precisam ser comprovados em humanos. Mesmo assim, eles não sugerem que tatuagens sejam boas ou ruins para nossa capacidade de combater infecções. Apenas reforçam que algo muda no corpo.
A decisão de fazer uma nova tatuagem, um novo símbolo a ser mostrado ao mundo, altera como nosso organismo responde aos fatores externos, talvez até mais do que o modo como o mundo, as outras pessoas, mudam ao ver essa nova tatuagem.
Fábio Rogério de Moraes
Físico, Auxiliar de Pesquisa, IBILCE - UNESP