Diário da Região
ARTIGO

O feminicídio nosso de cada dia

É urgente fortalecer políticas públicas, ampliar o acesso à informação e garantir proteção

por Lana Braga
Publicado há 14 horasAtualizado há 3 horas
Lana Braga (Lana Braga)
Lana Braga (Lana Braga)
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Mais uma mulher foi morta. Mais um feminicídio na nossa cidade. Me pergunto: até quando?

Mais uma vida interrompida. Mais uma história que termina em dor. Mais uma mulher vítima da violência que insiste em crescer diante dos nossos olhos. Hoje, a manchete é sobre ela — mas poderia ser sobre qualquer uma. Porque o feminicídio não escolhe classe social, idade ou bairro. Ele se instala silenciosamente, se alimenta da omissão e explode quando a vítima já não tem mais forças para escapar.

Me pergunto até quando vamos conviver com essa rotina cruel como se fosse normal. Até quando os noticiários vão estampar rostos femininos, seguidos por palavras como “briga”, “ciúmes”, “não aceitava o fim”? Até quando vamos aceitar que a culpa seja colocada sobre a vítima? “Ela ficou”, “ela voltou”, “ela escolheu ele”. Não. Ela foi silenciada. Ela foi ameaçada. Ela foi morta.

O feminicídio é um crime anunciado. Antes da morte, vêm os gritos, as humilhações, as ameaças, os empurrões. Vêm os pedidos de ajuda ignorados, os boletins de ocorrência que viram papéis esquecidos, a vizinhança que ouve e silencia. Em muitos casos, ela grita mas ninguém escuta. E quando escutam, não agem a tempo.

Nosso silêncio também mata. Nossa omissão é parte desse ciclo. Precisamos parar de tratar essas mortes como fatalidades e começar a encará-las como o que são: crimes que poderiam e deveriam ter sido evitados. É urgente fortalecer políticas públicas, ampliar o acesso à informação, garantir proteção real às vítimas e responsabilizar os agressores com o rigor da lei.

Mais uma mulher foi morta. Não é só uma frase. É um grito de socorro coletivo. É a dor de uma mãe, de uma filha, de uma amiga. É um alerta para todas nós: enquanto não houver mudança estrutural, qualquer uma pode ser a próxima.

o podemos normalizar o inaceitável. Precisamos transformar a indignação em ação. Denunciar, acolher, proteger. Para que nenhuma mulher mais tenha seu nome transformado em estatística. Para que um dia, não precisemos mais escrever: mais uma mulher foi morta.

Lana Braga

Educadora social, bacharel em Direito, especialista em violência doméstica e fundadora do Instituto Maria na Comunidade