O choro importa no cuidado com a saúde
Apesar da relevância, o manejo construtivo do choro raramente é enfatizado na formação em saúde

Profissionais de saúde que atuam no diagnóstico ou tratamento de pacientes com câncer, doenças autoimunes, neurodegenerativas, dor crônica ou cuidados paliativos frequentemente lidam com populações que, além de sintomas físicos, apresentam sofrimento psíquico. Entre as formas de expressão desse sofrimento, o choro se destaca como comportamento humano universal e poderoso sinal de vulnerabilidade. Reconhecê-lo como mais do que transbordamento emocional permite abordá-lo com empatia e transformá-lo em oportunidade de cuidado integral.
O choro é um fenômeno complexo com dimensões fisiológicas e psicológicas. Fisiologicamente, envolve produção de lágrimas, auxiliando na recuperação do estresse. Psicologicamente, atua como liberação emocional e estratégia de enfrentamento, podendo surgir de tristeza, medo, frustração, ansiedade ou até de alívio e gratidão. Suas manifestações variam desde o lamento intenso que transmite urgência, até o choro suave ou silencioso sem lágrimas, usado como recurso protetivo.
No atendimento clínico, o paciente pode chorar ao receber um diagnóstico difícil, diante de notícias desafiadoras, ao falar sobre o peso da dor ou manifestar medo do tratamento. A resposta indiferente do profissional pode acentuar o isolamento do paciente; em contraste, uma postura acolhedora, verbal e não verbal, valida o choro e fortalece a confiança. Muitas vezes, a atitude mais compassiva é apenas sustentar o espaço para as lágrimas, sem a pressão imediata de “resolver” a situação. Estimular o paciente a expressar emoções, aceitar o choro e contextualizar sofrimento é passo crítico para compreender fatores subjacentes e fortalecer a aliança terapêutica.
Esse percurso pode envolver cinco fases: permitir o choro, incentivar verbalização, buscar entendimento mútuo, planejar acompanhamento e reconhecer o impacto emocional também para o clínico.
Apesar da relevância, o manejo construtivo do choro raramente é enfatizado na formação em saúde, o que deixa muitos profissionais inseguros. É necessária capacitação específica que desenvolva inteligência emocional e atuação sensível e competente. Outra dimensão importante é a resposta emocional do próprio profissional, que pode comover-se a ponto de chorar diante do sofrimento alheio. Longe de indicar fraqueza, essa ressonância expressa conexão humana. Estar presente emocionalmente, até mesmo compartilhando lágrimas, pode representar a essência do cuidado compassivo.
Alan Roger dos Santos Silva
Livre-Docente (FOP-Unicamp), mestre em Estomatologia (FOP-Unicamp) e doutor em Patologia (FOP-Unicamp/Un. of Sheffield, Inglaterra). Prêmio internacional Dr. Donald A. Kerr, área de patologia oral e maxilofacial pela American Academy of Oral and Maxillofacial Pathology - AAOMP (abril/2025). Fellow pela American Academy of Oral Medicine - AAOM (abril/2024).