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O Brasil que produz não pode esperar 2026

Modernizar não é só adotar tecnologia. É oferecer segurança, treinamento e condições adequadas

por João Pedro Alves Filho
Publicado há 2 horas
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Falamos em nome de milhares de trabalhadores do setor sucroenergético, da alimentação e da indústria química da região de Rio Preto. O fim do ano expõe um contraste claro. O país discute inovação e produtividade, mas parte da força de trabalho continua enfrentando riscos altos, jornadas intensas e condições que não acompanham o discurso de modernização.

Os números mostram a gravidade. Em 2024, o Brasil registrou 724.228 acidentes de trabalho, segundo o Ministério do Trabalho. A maioria ocorreu dentro das indústrias. O país teve um acidente a cada 43 segundos e mais de 1.600 mortes somente no primeiro semestre de 2025. São vidas interrompidas enquanto celebramos bons resultados econômicos.

Na região, o fim de ano pressiona ainda mais o chão de fábrica. Aumentam a demanda e os prazos curtos, cresce o desgaste e surgem dúvidas sobre escalas, transporte e segurança. A pressa vira terreno para acidentes evitáveis. Quem trabalha na produção de alimentos, no setor químico ou nas usinas sente isso diariamente.

É importante reconhecer que muitas empresas avançaram, investiram e melhoraram processos. Mas parte do setor ainda não acompanhou essa evolução. Modernizar não é só adotar tecnologia. É oferecer segurança, treinamento e condições adequadas. Não existe produtividade sustentável quando o trabalhador está exposto a máquinas desreguladas, calor extremo, insumos de risco e jornadas que ultrapassam o limite humano.

O ano de 2026 precisa começar com prioridades claras. Redução de acidentes. Capacitação contínua. Melhoria no transporte. Indicadores reais de segurança. Respeito às folgas, ao descanso e à saúde mental. As empresas que já avançaram devem ser reconhecidas. As que ainda não avançaram precisam acelerar. A economia depende do trabalhador saudável e protegido.

Representamos categorias que mantêm a produção ativa mesmo durante as festas. Esses profissionais não podem seguir invisíveis. Quando o país projeta metas e anuncia investimentos, precisa lembrar quem está por trás de cada número.

O Brasil que produz merece compromisso. A virada do ano deve marcar mudança real na forma como a indústria trata quem faz tudo funcionar. O trabalhador quer respeito, segurança e prevenção. Nada disso é pedido excessivo. É o básico para que o país continue crescendo.

João Pedro Alves Filho

Presidente do Sindalquim Rio Preto.

Tiago Gonçalves Pereira

Presidente do Sindicato da Alimentação de Rio Preto.