Diário da Região
Conjuntura

Novos Protecionismos

por Ary Ramos da Silva Júnior
Publicado há 3 horasAtualizado há 2 horas
Ary Ramos da Silva Júnior (Ary Ramos da Silva Júnior)
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A economia internacional vem vivendo momentos de grandes transformações, os novos modelos econômicos estão alterando toda a estrutura produtiva, exigindo novos comportamentos, levando os governos a adotarem novas posturas para fortalecerem suas estruturas produtivas, protegendo seus empregos e defendendo seus interesses nacionais. Neste cenário, percebemos o crescimento do protecionismo, que cresce em todas as regiões do globo, gerando um verdadeiro desafio para os governos e os setores produtivos, levando grupos econômicos, que anteriormente criticavam a proteção estatal, a abraçarem e defender as políticas francamente protecionistas.

Poucas décadas atrás os agentes econômicos defendiam o processo de globalização como algo inevitável, levando os governos nacionais a abrirem suas estruturas econômicas e produtivas para atraírem novos atores externos como forma de sobrevivência, desta forma, nos anos 1990 foram marcados pela desnacionalização, abertura econômica e a privatização de empresas nacionais, acreditando que, com a venda de ativos governamentais, os novos proprietários impulsionariam o processo de desenvolvimento econômico, um grave equívoco, alienamos setores estratégicos, atraímos grandes conglomerados estrangeiros e passamos a aumentar a nossa dependência externa, desta forma, estamos pagando fortunas para acessar tecnologias estrangeiras.

A globalização estimulava fortemente a abertura econômica, a competição e a livre concorrência, motivadas pelo receituário neoliberal defendido pelas nações ocidentais que levaram seus setores produtivos a uma verdadeira encruzilhada, suas ideias não trouxeram os resultados esperados, ao contrário, na prática, os grandes ganhadores da era da globalização foram as nações asiáticas, notadamente a China, Coréia do Sul, dentre outras, que rechaçaram o receituário neoliberal e adotaram políticas muito diferentes, defendendo empresas nacionais, fortalecendo o papel do Estado Nacional como indutor do desenvolvimento e rechaçaram a entrada do capital estrangeiro especulativo, desta forma, as nações asiáticas foram as grandes ganhadoras da era da globalização e as nações desenvolvidas ocidentais que defendiam o pensamento liberal, perderam espaço no setor produtivo global, muitas delas sentem na pele uma forte desindustrialização precoce, que impacta na competitividade de suas estruturas produtivas.

Neste cenário, percebemos o incremento do protecionismo nas nações ocidentais, anteriormente defensoras da livre concorrência e da abertura econômica, agora buscam, notadamente o refúgio em ideias e pensamentos protecionistas e mercantilistas que rechaçavam anteriormente e, hipocritamente, passaram a adotar como forma de proteção de suas estruturas produtivas. Neste momento, percebemos o crescimento do fulgor protecionista norte-americano, buscando, abertamente, mostrar para a sociedade internacional o "America First”, gerando constrangimentos ideológicos, conflitos com outras nações e podendo levar a sociedade global a uma nova guerra.

Vivemos momentos de apreensão e instabilidades no cenário internacional, o protecionismo impacta sobre as estruturas econômica e produtiva gerando inimizades entre os povos e as nações, onde cada país busca seus interesses imediatos, seus ganhos monetários e financeiros, ativando ódios e ressentimentos, além de conflitos diplomáticos e agressões verbais, anteriormente esses conflitos levavam as nações a conversas e acordos mundiais para evitarem constrangimentos maiores, na atualidade, estes espaços de conversação e de discussão civilizada perderam força, levando os governos a fortes investimentos militares e gastos bélicos, postergando as conversas e resolvendo tudo na força e na ignorância. Nestas incertezas crescentes que dominam a sociedade global a América Latina sempre esteve distante dos grandes conflitos bélicos e militares, agora, percebemos que com os novos protecionismos estamos no centro dos grandes conflitos internacionais, infelizmente!

Ary Ramos da Silva Júnior

Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor universitário.