Diário da Região
ARTIGO

Não podemos parar de lutar

Como pensar políticas públicas efetivas sem o encontro real entre mulheres de diferentes territórios?

por Denise Maria Ferreira
Publicado em 26/07/2025 às 13:31Atualizado há 12 horas
Denise Maria Ferreira (Denise Maria Ferreira)
Denise Maria Ferreira (Denise Maria Ferreira)
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Julho das Pretas é um chamado à resistência e à construção de políticas públicas com participação popular de verdade.

O mês de julho tem se consolidado como um período simbólico e de resistência para as mulheres, especialmente para as mulheres negras. Conhecido como Julho das Pretas, esse recorte é fundamental para dar visibilidade às lutas históricas e atuais das mulheres negras no Brasil e na América Latina.

Durante este mês, publicamos diversos artigos que celebram trajetórias, denunciam desigualdades e reafirmam a importância das mulheres negras em todos os espaços. Relembramos a relevância da Marcha das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, refletimos sobre a presença e os desafios das mulheres negras na educação, na política e em seus processos de maternagem — muitas vezes marcados pela dor, pelo racismo estrutural e pela negligência do Estado.

Apesar da narrativa que nos define como "fortes" e "resistentes", é urgente questionar por que precisamos suportar tanto. A força que nos atribuem não pode servir como justificativa para silenciar nossas dores ou negligenciar nossas pautas.

Neste mês, também participamos de dois importantes espaços de construção de políticas públicas: a Conferência Municipal dos Direitos da Mulher e a Conferência Municipal da Assistência Social. Com muito esforço e mobilização, conseguimos garantir representatividade nesses espaços. No entanto, ao nos depararmos com o formato da etapa estadual da Conferência das Mulheres — que será realizada de forma online — sentimos a frustração de um retrocesso.

Como pensar políticas públicas efetivas sem o encontro real entre mulheres de diferentes territórios, realidades e vivências? A modalidade virtual impede o fortalecimento de redes, o afeto político e o protagonismo coletivo que a presença física proporciona. A decisão de realizar uma conferência estadual exclusivamente online é mais do que um desafio logístico — é um ato de exclusão.

Ainda assim, não nos calaremos. Estaremos presentes na Conferência Estadual das Mulheres, na Conferência da Assistência Social e na Conferência da Igualdade Racial, levando a voz e as demandas de tantas mulheres que lutam por seus direitos diariamente.

Não lutamos apenas por nós mesmas. Lutamos por todas: por aquelas que vieram antes, por aquelas que estão ao nosso lado e pelas que virão. Diante do alarmante crescimento dos casos de feminicídio, é urgente agir. Se não fizermos algo agora, mais mulheres serão silenciadas, mais crianças crescerão sem suas mães.

Por isso, seguimos. Porque não podemos parar de lutar.

Denise Maria Ferreira

Empreendedora e educadora social, membra do Coletivo Mulheres na Política