Não podemos parar de lutar
Como pensar políticas públicas efetivas sem o encontro real entre mulheres de diferentes territórios?

Julho das Pretas é um chamado à resistência e à construção de políticas públicas com participação popular de verdade.
O mês de julho tem se consolidado como um período simbólico e de resistência para as mulheres, especialmente para as mulheres negras. Conhecido como Julho das Pretas, esse recorte é fundamental para dar visibilidade às lutas históricas e atuais das mulheres negras no Brasil e na América Latina.
Durante este mês, publicamos diversos artigos que celebram trajetórias, denunciam desigualdades e reafirmam a importância das mulheres negras em todos os espaços. Relembramos a relevância da Marcha das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, refletimos sobre a presença e os desafios das mulheres negras na educação, na política e em seus processos de maternagem — muitas vezes marcados pela dor, pelo racismo estrutural e pela negligência do Estado.
Apesar da narrativa que nos define como "fortes" e "resistentes", é urgente questionar por que precisamos suportar tanto. A força que nos atribuem não pode servir como justificativa para silenciar nossas dores ou negligenciar nossas pautas.
Neste mês, também participamos de dois importantes espaços de construção de políticas públicas: a Conferência Municipal dos Direitos da Mulher e a Conferência Municipal da Assistência Social. Com muito esforço e mobilização, conseguimos garantir representatividade nesses espaços. No entanto, ao nos depararmos com o formato da etapa estadual da Conferência das Mulheres — que será realizada de forma online — sentimos a frustração de um retrocesso.
Como pensar políticas públicas efetivas sem o encontro real entre mulheres de diferentes territórios, realidades e vivências? A modalidade virtual impede o fortalecimento de redes, o afeto político e o protagonismo coletivo que a presença física proporciona. A decisão de realizar uma conferência estadual exclusivamente online é mais do que um desafio logístico — é um ato de exclusão.
Ainda assim, não nos calaremos. Estaremos presentes na Conferência Estadual das Mulheres, na Conferência da Assistência Social e na Conferência da Igualdade Racial, levando a voz e as demandas de tantas mulheres que lutam por seus direitos diariamente.
Não lutamos apenas por nós mesmas. Lutamos por todas: por aquelas que vieram antes, por aquelas que estão ao nosso lado e pelas que virão. Diante do alarmante crescimento dos casos de feminicídio, é urgente agir. Se não fizermos algo agora, mais mulheres serão silenciadas, mais crianças crescerão sem suas mães.
Por isso, seguimos. Porque não podemos parar de lutar.
Denise Maria Ferreira
Empreendedora e educadora social, membra do Coletivo Mulheres na Política