Mamãe eu quero!
A rebeldia tem muito de ousadia e coragem, mas agora chupar chupeta ninguém merece

Quando penso que já vi de tudo nesta vida aparece mais um modismo para competir com “os bebes reborn e os morangos do amor” nas redes sociais: jovens chupando chupeta para aliviar o estresse!!!!! Esta moda começou na China com a geração Z, chegou a Europa e EUA já está aparecendo nas redes sociais brasileiras.
Os jovens sempre foram transgressores, quem não se lembra da famosa frase – “É proibido proibir” cantada nos festivais de música popular brasileira dos anos 60 e 70 e pichada nos protestos que aconteceram na França em 1968.
A rebeldia tem muito de ousadia e coragem, mas agora chupar chupeta ninguém merece. Esta tendência que tem se espalhado entre os adolescentes, embora possa parecer apenas uma curiosidade ou uma moda passageira é uma prática que levanta questões interessantes sobre a psicologia juvenil, o comportamento social e as maneiras como os jovens lidam com a pressão do mundo contemporâneo. O uso de chupetas por adolescentes, em grande parte, é vista como um retrocesso ao tempo da infância. Para muitos, as chupetas representam uma sensação de conforto e segurança, lembrança dos tempos em que as responsabilidades eram mínimas e as preocupações eram quase inexistentes.
Em um mundo onde a pressão acadêmica, as expectativas sociais e as ansiedades relacionadas à imagem corporal e à identidade estão em alta, muitos jovens recorrem a essa prática como uma forma de “regressão” à infância, em busca do alívio imediato para suas tensões.
Entretanto, essa prática não é isenta de críticas. Adultos e especialistas em desenvolvimento infantil questionam a adequação do uso de chupetas por jovens em idades mais avançadas, argumentando que isso pode reforçar comportamentos infantis ou imaturos. Debatem-se também sobre as implicações de saúde bucal e social que podem resultar do uso prolongado e da troca entre seus usuários e que se não for bem higienizada também pode favorecer a proliferação de fungos e bactérias além de danos a arcada dentária, mesmo que seu uso seja vivido como uma moda momentânea.
Esta tendência também está movimentando o modismo com a venda de chupetas personalizadas, estilizadas, coloridas e quem sabe em breve não será vista como um acessório de estilo indispensável e combinando com o look do momento se tornando um símbolo de moda ou uma expressão pessoal. Apesar disso, essa tendência única ressalta a importância de discutir as maneiras como as diferentes gerações lidam com suas ansiedades. Enquanto alguns veem como uma fase da vida, outros a interpretam como uma manifestação da luta contínua enfrentada por muitos jovens hoje.
Em última análise, o uso de chupetas por adolescentes é uma expressão de suas tentativas de encontrar espaço seguro em um mundo cada vez mais intimidador e complexo, refletindo tanto os desafios que eles enfrentam quanto a engenhosidade de criativas formas de enfrentamento. Acredito que muitos desses comportamentos são resultante do isolamento social ocorrido durante os últimos anos e agravados pela pandemia onde os jovens usam somente as plataformas e redes sociais como ferramenta de bate-papo, interação social e namoro. Isto muito nos preocupa e quem sabe em breve o hit que vamos ouvir, não somente em tempos de Carnaval será: - “Mamãe eu quero, mamãe eu quero. Mamãe eu quero mamar. Dá chupeta, dá chupeta, dá chupeta pro bebê não chorar.”
Regina Chueire
Médica, professora da Famerp e diretora do Lucy Montoro/Funfarme