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Livre no um, mas escravo no dois

Bastaria a existência de um único escravo para diminuir a minha liberdade

por ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury
Publicado há 9 horas
ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Divulgação)
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ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Divulgação)
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Para a arte ser livre, é necessário que o artista também o seja, mas isso não me parece suficiente. Porque bastaria a existência de um único escravo para diminuir a minha liberdade, o que me obriga a concordar que só posso ser um homem realmente livre se estiver cercado de pessoas igualmente livres; e aqui compreendo que a escravidão moderna não é, necessariamente, física.

O verdadeiro artista é humano e enxerga sem precisar ver — é assim que eu vejo. Mas é apenas na arte que assumimos quem somos, para assim, podermos aceitar quem o outro é? Porque, se tenho consciência da minha condição humana e esta me dá condições de enxergar as pessoas sem diferença, logo valorizo o multiculturalismo, e este, aliado com a tolerância, dá à luz a uma pluralidade de pensamentos e ideais tão multifacetados que constroem um ser humano melhor a cada dia.

Fui tomado por essa inquietação, como se o meu fluxo de pensamentos fosse invadido por um silencioso grito, após receber o convite feito por Carlos Bachi a mim e à minha esposa, Regiane, que é de origem afro-indígena, para participarmos da Mostra “A ancestralidade e suas diversidades” — realizada na Casa de Cultura Dinorath do Valle, de 5 a 22 de novembro, como parte das comemorações do Mês da Consciência Negra, integrando a programação do FestAxé 2025.

Isso se deu porque compreendi a importância e a responsabilidade que nós, como família e como artistas, tínhamos na escolha correta dos trabalhos artísticos que iríamos apresentar, para que, de forma respeitosa, servissem como instrumentos de diálogo e inclusão, reafirmando a importância da arte como meio de união, reflexão e valorização da diversidade humana.

As obras selecionadas e que estão em exposição juntamente com os trabalhos de outros artistas foram a escultura “Gris-gris do voo onírico de Sankofa, o pássaro guia” (2025), e o painel em relevo “Ọmọlu Obaluaiyê: Kavungo Nsumbu” (2018).

Portanto, deixo o convite para que prestigiem a Mostra.

ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Shlomo ben’Esav ibn-Ismail)

Artesão das Artes Plásticas, escultor, desenhista heráldico, ilustrador e poeta.