Juliana Andrade: a voz da Alma Caipira
Tem gente que nasce com o destino traçado entre as cordas da viola e o cheiro da terra molhada

Assisti, emocionado, no podcast do Sérgio Fontinelly, semana passada, a uma entrevista com meus ídolos: o casal Cleyton Torres e Juliana Andrade. O apresentador deixou os dois muito à vontade, e pude conhecer um pouco mais da vida e da obra dessa violeira que encanta não só a mim, mas a uma legião de fãs. E, importante — Juliana escolheu Rio Preto para morar em companhia do marido e de duas filhas adolescentes, elas, trilhando os mesmos caminhos dos pais.
Mulher de alma doce e pura, durante a entrevista se emocionou várias vezes, mostrando a ternura de ser mãe, esposa, mulher e artista consagrada. Abriu-se como fruta madura, deixando à mostra sua essência — sincera, generosa e verdadeira.
Tem gente que nasce com o destino traçado entre as cordas da viola e o cheiro da terra molhada. Juliana Andrade é dessas. Desde menina, o som da moda caipira corria-lhe nas veias como rio antigo, desses que conhecem o caminho sem precisar de guia. Quando empunha a viola, o tempo parece se curvar para ouvi-la. É como se os mestres de outrora — Tião Carreiro, Inezita, Pena Branca — tirassem o chapéu em sinal de respeito.
Juliana não apenas toca: conversa com a viola. Cada ponteio é palavra, cada nota, lembrança de um Brasil que ainda pulsa nas estradas de terra, nas festas do interior e nas janelas onde o crepúsculo se aninha. Sua voz tem o dom raro de juntar saudade e esperança, como quem benze o coração da gente com o canto.
Nos shows por onde passa, Juliana encanta. O público se silencia para ouvir a pureza da sua alma transbordar em som. É artista que não se esconde atrás de artifício — prefere a simplicidade e a essência. Talvez por isso sua música toque fundo: porque vem da verdade, da roça, das manhãs frias de orvalho e do calor das prosas nos terreiros de chão batido.
Quando canta, é como se os ipês florissem de novo, o passado abrisse a porteira e o Brasil profundo se reconhecesse ali, de corpo e alma. Juliana é ponte entre o ontem e o hoje. Guarda o saber dos antigos, mas sopra novidade em cada acorde. É mulher violeira num mundo que, por muito tempo, achou que a viola era só pra homem: “Viola é pra quem tem alma”. Diz.
Juliana Andrade é, sem dúvida, uma das vozes mais autênticas da nossa moda caipira. Sua arte é mais que melodia: é resistência, é reza, é raiz. Quem a ouve sente vontade de tirar o chapéu, agradecer e dizer
- Obrigado, Juliana, por manter viva a canção do povo e o coração do sertão.
Jocelino Soares
Artista plástico, pós-graduado em Arte-Educação. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura.