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Gostaria de acreditar mais

Se a gente não tentar ser uma pessoa melhor, de nada adianta tomar hóstia todo dia

por Henrique Fernandes
Publicado há 6 horasAtualizado há 3 horas
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Final de ano está aí. Festas, sentimentos exacerbados de todos os lados. Natal, confraternizações, rituais em todas as religiões. Avaliações nas empresas, agradecimentos. E caímos sempre na mesma ideia: por que não ter os ideais natalinos durante o ano todo?

Sempre gostei de Natal, mas, de uns anos para cá, venho ficando um pouco chato com tudo. Quando criança, pedia para o meu pai passear com o seu Fusquinha no centro da cidade, nos lugares enfeitados. Adorava ver as luzes. Hoje, acabo reclamando demais de tudo. Desde propaganda até algumas ações que vejo de empresas. Claro que passamos a entender como o mercado funciona e opera em datas especiais. Passei também a duvidar de religiões, de crenças, seitas.

Dia desses, estava conversando com um grande amigo. Ele é bem ateu. Um doutor, bem estudioso, sim. E não acredita em Deus. Apesar de não ser muito crente, duvidar de muitas coisas da vida e do universo, eu ainda creio em Deus, sou cristão. Podia acreditar um tiquinho mais, sim, podia. Mas vamos lá.

Foi então que, numa roda de conversa, alguém agradece e fala o nome de Deus. Pronto. Bastou para começar com o sermão: se Deus existe, e toda aquela papagaiada de que poderia então resolver todos os problemas humanitários da galáxia toda.

Um dos seus questionamentos eu até concordo. Sobre o número de igrejas, crenças, religiões, templos e como esses religiosos agem para literalmente captar seus fiéis, assim como leads qualificados que no futuro viram clientes e consomem seus produtos, sejam eles terrenos santificados no céu, imagens, santos ou ar benzido de santidades divinas.

É engraçado. Segundo ele, a pessoa nem bem sai da igreja e já cai em desgraça. Já peca. Ou trai marido, mulher ou é desonesto no seu dia a dia. Então, para ele, de nada adiantam os tais templos se o usuário desse local não tiver consciência de quem ele é e do que está fazendo aqui nessa terrinha santa.

Concordo em algumas partes com esse pensamento. Já conheci muitos devotos de santos e frequentadores assíduos de igrejas que teriam que ser excomungados pelos seus pecados, segundo a Bíblia. E também conheci alguns bem ateus, sem religião, que pareciam santos de tão bons que eram com os seus pares.

Posso parecer meio duro e besta. Datas são ótimas, nos dão uma sensação de dever cumprido, nos renovam e nos fazem bem. Já nos acostumamos com isso. Assim como a religião, que também nos une e nos ajuda a nos mantermos dentro de um limite tolerável de harmonia social e mental.

Mas o negócio é o seguinte: se a gente não se entender internamente e ver que quem precisa se arrumar e tentar ser uma pessoa melhor diariamente somos nós mesmos, de nada adianta tomar hóstia todos os santos dias.

Juro que gostaria de acreditar mais em algo divino. Mas eu acredito e preciso acreditar em nós e no que podemos fazer de melhor em nosso benefício e em quem está à nossa volta. Se Deus existe, e ele é mesmo brasileiro, ele vai concordar comigo nisso.

Henrique Fernandes

Jornalista, assessor de comunicação.