Diário da Região
RADAR ECONÔMICO

Êxodo urbano redesenha o mercado imobiliário do Interior

Segurança, contato com a natureza e um ambiente menos estressante são fatores que, somados à viabilidade dessa modalidade, tornam o Interior uma opção cada vez mais sedutora.

por Thiago Ribeiro
Publicado em 19/08/2025 às 19:52Atualizado em 20/08/2025 às 11:25
Thiago Ribeiro (Thiago Ribeiro)
Thiago Ribeiro (Thiago Ribeiro)
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A pandemia de Covid-19 acelerou uma transformação que já se desenhava no horizonte: o trabalho remoto. O que antes era uma modalidade de nicho, tornou-se, para muitos, a nova norma. Com a flexibilidade de poder trabalhar de qualquer lugar, um fenômeno silencioso e significativo começou a moldar o cenário imobiliário brasileiro. O êxodo de grandes centros urbanos para cidades do interior. Este movimento não é somente uma busca por tranquilidade ou qualidade de vida, mas uma resposta pragmática à busca por imóveis com melhor custo-benefício, impulsionada pela possibilidade de manter empregos bem remunerados sem a necessidade de arcar com os altos custos das metrópoles.

O trabalho remoto, ou home office, redefiniu a relação entre moradia e emprego. Se antes a proximidade do local de trabalho era um fator determinante na escolha de um imóvel, atualmente, para muitos, essa barreira geográfica foi derrubada. Essa liberdade permitiu que profissionais “presos” às grandes cidades por questões de logística passassem a considerar alternativas mais atraentes em termos de qualidade e, principalmente, de custo de vida.

Segurança, contato com a natureza e um ambiente menos estressante são fatores que, somados à viabilidade dessa modalidade, tornam o Interior uma opção cada vez mais sedutora.

Um dos pilares dessa migração é a busca por um melhor custo-benefício no mercado imobiliário. Em geral, o valor do metro quadrado em cidades do Interior é menor do que nas capitais, permitindo que as famílias adquiram imóveis maiores, com mais conforto e, muitas vezes, com áreas externas, algo impensável para muitos nos grandes centros urbanos. Além do valor de compra ou aluguel, o custo de vida no Interior tende a ser mais baixo.

Essa demanda crescente por imóveis no Interior gera um impacto direto no mercado imobiliário. Em algumas regiões, observa-se valorização dos imóveis e aquecimento do setor da construção civil e imobiliária, impulsionado pela necessidade de adaptar as moradias às novas demandas do trabalho remoto, como a criação de espaços dedicados a escritórios e a busca por internet de qualidade.

No entanto, a valorização não ocorre de maneira uniforme. Cidades com boa infraestrutura, acesso a serviços essenciais e conectividade tendem a ser as mais procuradas.

A sustentabilidade desse movimento a longo prazo dependerá da capacidade das cidades de se adaptarem a essa nova realidade, oferecendo não apenas imóveis acessíveis, mas também um ambiente propício para o desenvolvimento profissional e pessoal dos novos moradores.

O trabalho remoto, mais do que tendência e necessidade passageira, consolidou-se como um catalisador de mudanças sociais e econômicas. Embora desafie as estruturas urbanas tradicionais, este movimento oferece oportunidades para o desenvolvimento regional e para a construção de um futuro mais equilibrado e descentralizado.

É fundamental que governos e setor privado estejam atentos a essas transformações, investindo em infraestrutura e serviços que garantam a sustentabilidade e o bem-estar das localidades que recebem esses novos moradores, transformando o êxodo urbano em um caminho para o progresso compartilhado.

Thiago Ribeiro

Diretor-regional do Secovi-SP em São José do Rio Preto