Etarismo feminino
O envelhecer deve ser entendido como parte da existência, repleto de potencialidades

O etarismo é a discriminação baseada na idade. Embora afete homens e mulheres, quando se trata do universo feminino ele assume um papel ainda mais cruel, por estar atrelado a um padrão social que valoriza a juventude como sinônimo de beleza, utilidade e sucesso. As mulheres, ao longo da vida, são constantemente pressionadas a se manterem jovens, como se o envelhecer fosse uma falha pessoal e não um processo natural e inevitável. Desde de muito cedo, a sociedade impõe um ideal estético rígido: pele sem rugas, corpo magro, cabelos sem fios brancos.
Essa cobrança faz com que muitas mulheres passem a investir em tratamentos estéticos, cirurgias e rituais de juventude eterna não apenas por escolha, mas por medo de se tornarem invisíveis aos olhos de um mundo que valoriza o novo. Mulheres maduras são frequentemente silenciadas, ou tratadas como ultrapassadas.
No mercado de trabalho, o etarismo feminino se mostra de forma explícita. Enquanto homens maduros são reconhecidos pela experiência e credibilidade, muitas mulheres são descartadas, como se sua competência estivesse diretamente ligada à aparência física. Esse preconceito não apenas compromete carreiras, mas também mina a autoestima, criando a falsa impressão de que, após certa idade, não há mais espaço para sonhos, conquistas ou reinvenções.
Na vida afetiva, o impacto não é menor. Mulheres são cobradas a manterem-se “desejáveis” e, quando envelhecem, muitas vezes são vistas como menos aptas para relacionamentos. A maternidade também sofre intersecções com o etarismo: mulheres mais velhas que escolhem ser mães enfrentam julgamentos severos, enquanto os homens, mesmo em idades avançadas, dificilmente são questionados sobre suas escolhas.
É fundamental desconstruir essa visão limitada. O envelhecer deve ser entendido como parte da existência, repleto de potencialidades, saberes e novas possibilidades. Mulheres maduras carregam histórias, experiências e uma riqueza que vai além do estético. Valorizá-las é também valorizar a diversidade e reconhecer que cada fase da vida tem sua beleza e importância.
Combater o etarismo feminino é lutar por equidade. É dar voz e espaço para que mulheres possam envelhecer sem medo, livres do estigma da invisibilidade. É urgente criar representações positivas de mulheres de diferentes idades na mídia, no trabalho e nas relações sociais. Afinal, envelhecer é um privilégio e não deveria jamais ser motivo de discriminação.
Lana Braga
Educadora social, pós-graduada em Violência Doméstica, vice-presidente do Conselho dos direitos das Mulheres e CEO do Instituto Maria na Comunidade.